«Seguiram o carro de boi até ao canto do adro onde as pedras estavam empilhadas. Os bois, agradecidamente, mergulharam a cabeça no bebedouro. Onde está o mestre construtor?, perguntou o carroceiro a um pedreiro que passava. No castelo, foi a resposta do pedreiro. O carroceiro balançou a cabeça e virou-se para Tom. Você o encontrará no palácio do bispo, creio. Muito obrigado. Eu que agradeço.
Tom
deixou o adro com Agnes e as crianças atrás. Refizeram seus passos pelas ruas
apinhadas e estreitas até à frente do castelo. Ali havia outra vala seca e uma
segunda imensa fortificação de terra que cercava a praça-forte. Atravessaram a
ponte. Na casa da guarda, de um lado do portão, um homem corpulento de túnica
de couro estava sentado, contemplando a chuva. Trazia uma espada. Tom
dirigiu-se a ele: Bom dia. Sou chamado de Tom Construtor. Quero falar com o
mestre construtor, John de Shaftesbury. Está com o bispo, respondeu o guarda
indiferentemente. Eles entraram. Como a maioria dos castelos, aquele era uma
colecção de edifícios de estilos diversos dentro de uma muralha de terra. O
pátio ficava a cerca de cem jardas. Em posição oposta à do portão, do lado mais
distante, estava a imponente fortaleza, a última cidadela em tempo de ataque,
erguendo-se bastante acima das fortificações, a fim de ter boas condições de
observação. À esquerda via-se um agrupamento de casas baixas, a maioria de
madeira: um estábulo comprido, uma cozinha, uma padaria e diversos armazéns.
Havia um poço no meio. À direita, tomando quase toda a metade norte do
conjunto, ficava uma grande casa de pedra que obviamente era o palácio. Era
construído no mesmo estilo da nova catedral, com pequenos portais e janelas
caracterizadas por terem a parte superior arredondada, e tinha dois andares.
Era nova; na verdade, alguns pedreiros ainda estavam trabalhando num canto,
aparentemente construindo uma torre. A despeito da chuva, havia muita gente no
pátio, entrando ou saindo e correndo de uma construção para outra: homens de
armas, sacerdotes, comerciantes, operários da obra e criados do palácio.
Tom
podia ver diversas portas no palácio, todas abertas, a despeito da chuva. Não
estava bem certo do que deveria fazer a seguir. Se o mestre construtor estava
com o bispo, talvez não devesse interromper. Por outro lado, o bispo não era um
rei, e Tom era um homem livre e um pedreiro em busca de trabalho legítimo, não
um abjecto servo com alguma queixa. Decidiu ser ousado. Deixando Agnes e
Martha, atravessou com Alfred o pátio lamacento e entrou pela porta mais
próxima do palácio. Os dois se viram numa pequena capela com o tecto abobadado
e uma janela na outra extremidade, por cima do altar. Perto da porta, um
sacerdote estava sentado a uma mesa alta, escrevendo rapidamente em papel
velino. Ele ergueu os olhos. Onde está o mestre John?, perguntou Tom
bruscamente. Na sacristia, respondeu o sacerdote, indicando com a cabeça uma
porta na parede lateral.
Tom
não pediu para falar com o mestre. Achou que se agisse como se estivesse sendo
esperado perderia menos tempo. Atravessou a capelinha com algumas passadas e
entrou na sacristia. Era uma câmara pequena e quadrada, iluminada por muitas
velas. A maior parte do chão era tomada por uma caixa com areia, muito rasa. A
areia fina tinha sido perfeitamente alisada com uma régua. Havia dois homens
dentro da sacristia. Ambos olharam rapidamente para Tom e voltaram sua atenção
para a areia. O bispo, um velho enrugado de olhos brilhantes, estava desenhando
na areia com uma varinha pontuda. O mestre construtor, usando um avental de couro,
o observava com ar paciente e expressão céptica. Tom aguardou em ansioso
silêncio. Tinha que causar boa impressão; ser cortês, mas não servil, e
demonstrar conhecimento sem ser presunçoso. Um mestre artesão deseja que os
aprendizes sejam tão obedientes quanto talentosos.
Tom
sabia disso por sua própria experiência como empregador. O bispo Roger estava
esboçando um prédio de dois andares com grandes janelas dos três lados. Era um
bom desenhista, fazendo linhas rectas e perfeitos ângulos de noventa graus. Fez
uma planta e uma vista lateral da casa. Tom pôde ver que jamais seria
construída. Aí está, disse o bispo ao acabar. O que é?, perguntou John,
virando-se para Tom. Fingindo pensar que ele tivesse pedido sua opinião do
desenho, disse: Não se pode ter janelas tão grandes assim numa cripta. O bispo
fitou-o irritado. É uma sala de estudos, não uma cripta. Cairá do mesmo modo. Ele
tem razão, disse John. Mas é necessário ter luz para poder escrever. John deu
de ombros e virou-se para Tom. Quem é você? Meu nome é Tom e sou pedreiro. Foi
o que pensei. O que o traz aqui? Estou procurando trabalho, respondeu,
prendendo a respiração. John sacudiu a cabeça imediatamente. Não posso empregar
você. O coração de Tom pareceu parar. Teve vontade de girar nos calcanhares, mas
aguardou polidamente para ouvir as razões. Já estamos construindo aqui há dez
anos, prosseguiu John. Muitos dos pedreiros já possuem casas na cidade. Estamos
chegando ao fim, e agora tenho mais pedreiros na obra do que preciso na
realidade». In Ken Follett, Os Pilares da Terra, 1989, Editorial
Presença, 2007, ISBN 978-972-233-788-5
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