Outra Visão da Inquisição (maldita)
«Analisando os factos, é difícil
pensar que alguém se atreveria a defender a (maldita) Inquisição. Mesmo assim, o professor de
filosofia Roman Konik, ligado à Faculdade de Filosofia da Universidade de
Wroclaw, na Polônia, e autor do livro Em
Defesa da Santa Inquisição arrisca essa posição. Seu livro
despertou muito interesse, mas sofreu boicotes de livrarias, por causa da má
fama que a (maldita) Inquisição tem
até hoje.
Em entrevista concedida à revista
eletrónica Catolicismo
ele comentou sobre a obra de Umberto Eco: Na mente do homem de hoje, há uma
ideia comum que considera o inquisidor como um velho monge encapuzado com
inclinações sádicas, inflamado do desejo de autoridade. O melhor exemplo disso
é a figura de Bernard Gui, inquisidor de Toledo, descrito pelo conhecido
medievalista italiano Umberto Eco em seu livro O Nome da Rosa. Pior ainda é a imagem apresentada no
filme realizado com base em tal obra.
Bernard Gui, como figura
histórica real, foi inquisidor de Toledo e durante 16 anos exerceu esse cargo.
Julgou 913 pessoas, das quais apenas 42 ele entregou ao tribunal civil como
perigosos rebeldes (reincidentes, pedófilos, criminosos), o que não significava
absolutamente pena de morte para eles. Em muitos casos, Gui indicava tratar-se
de doença psíquica, suspeição de heresia, desistindo de interrogatórios.
Segundo a visão preconceituosa
dos protestantes, é certo que essas pessoas iriam para a fogueira, ao contrário
da verdade histórica. E importante registar que escritores protestantes, pouco
simpáticos à Inquisição, começaram a escrever a história dela de maneira
desfavorável, apresentando-a deformada. Também nas expressões artísticas das
épocas posteriores à medieval verificou-se um reflexo dessa visão caricatural.
Mas basta analisar o mundo artístico medieval para observar quadros que
apresentam São Domingos convertendo os hereges, São Bernardo de Claraval
discutindo com eles, ou então pinturas de inquisidores mártires morrendo nas
mãos de hereges, por exemplo, o martírio de São Pedro de Verona, ou de São
Pedro de Arbués, assassinado na catedral de Zaragoza.
Exemplo de ódio radical contra a
Igreja e da manipulação a que me referi é um quadro no Museu Nacional de
Budapeste, apresentando uma sala de torturas, intitulado no catálogo Inquisição.
Só depois de muitos protestos de historiadores, mostrando que o quadro
apresentava cena de tortura em um tribunal civil, é que o título foi mudado
para Sala de torturas. Lembremo-nos de que foram as descrições caricaturais de
Diderot, Voltaire e até de Dostoiévski que formaram na mente do homem de hoje a
visão da Inquisição como um espectro.
Os historiadores poloneses também
não ficaram atrás dos historiadores progressistas. Deparando diariamente com
essa visão distorcida da Inquisição, o homem comum é inclinado a aceitá-la como
verdadeira (????). Talvez a opinião do investigador seja a verdade. Afinal, há
um grande número de pesquisadores que insistem em afirmar que os inquisidores
eram homens esclarecidos e que tratavam os hereges como portadores de doenças
mentais. O suspeito de heresia, segundo os registos históricos, era tratado
assim: o suspeito não recebia os sacramentos necessários e estabelecidos pelo
catolicismo. Caso ele não se arrependesse de sua conduta, seria chamada a
autoridade não religiosa, principalmente em casos de agressão verbal ou física.
Se nem mesmo assim a pessoa se
mostrasse arrependida, era considerada como anátema, ou seja,
reconhecida como passível de excomunhão. Alguns autores vão mais longe e
afirmam que o uso da tortura em processos inquisidores era um facto bastante
restrito, embora não se saiba mais detalhes do quanto poderia ser restrito.
Ainda de acordo com essas pesquisas, a tortura era autorizada em casos em que
não houvesse provas confiáveis, testemunhas fidedignas ou quando o acusado já
tivesse antecedentes como má fama, maus costumes ou tentativas de fuga. Assim,
o Concilio de Viena indicou que os inquisidores recorressem à tortura apenas em
caso de aprovação pelo bispo diocesano e por uma comissão julgadora que deveria
analisar cada caso». In Sérgio P. Couto, Os Arquivos Secretos do
Vaticano, da Inquisiçãoà renúncia de Bento XVI, Editora Gutenberg, 2013, ISBN
978-856-538-385-1.
Cortesia de EGutenberg/JDACT
JDACT, Sérgio P. Couto, Vaticano, Religião, Conhecimento,