As Principais Correntes Hereges
«(…) Puritanismo:
Concepção da fé cristã desenvolvida na Inglaterra por uma comunidade de
protestantes radicais depois da Reforma. Pretendia purificar a Igreja
Anglicana, ao retirar os resíduos do Catolicismo, de modo a tornar a sua liturgia
mais próxima à do Calvinismo.
Monarquianismo: Série de
crenças que enfatizam a Unidade Absoluta de Deus. A crença conflitua com a
doutrina da Trindade, que vê em Deus uma unidade composta pelo Pai, Filho e
Espírito Santo. O adicionismo, uma de suas correntes, diz que Deus é um único
ser, superior a tudo e completamente indivisível. Assim, o Filho não foi co-eterno
com o Pai, mas sim revestido (ou adoptado) de Deus para pôr em prática seus
desígnios.
Maniqueísmo: Fundada pelo
profeta persa Mani ou Manes no século III, na Pérsia ou na Babilónia. Divide o
mundo entre Bem, ou o Deus bom, e o Mal, ou o Deus mal. A matéria é
intrinsecamente má, por isso o espírito é intrinsecamente bom e, ao tomar um
corpo físico, deixa-se corromper.
Arianismo: Visão
sustentada pelos seguidores de Arius, bispo de Alexandria nos primeiros tempos
da Igreja primitiva. Esse movimento negava a existência da consubstancialidade
(ou seja, que possui a mesma substância) entre Jesus e Deus. O Cristo seria
preexistente, uma criatura mais excelsa, que encarnara em Jesus de Nazaré. Este
seria, por sua vez, um subordinado de Deus, e não o próprio. Ário afirmava que
só existe um Deus e que Jesus seria apenas seu filho, e não o próprio.
Nestorianismo: Doutrina do
século V que afirma que há em Jesus Cristo duas pessoas distintas: uma humana e
outra divina, completas de tal forma que constituem dois entes independentes. Essa
doutrina surgiu em Antioquia e manteve forte influência na Síria. É sustentada
ainda hoje por correntes ligadas ao movimento Rosacruz e à Gnose.
A
Inquisição (maldita) Medieval
A versão medieval da Inquisição (maldita) começou suas actividades
em 1184, na famosa região do Languedoc, no sul da França, lugar polémico
por ser acusado de ser o berço de movimentos heréticos, como o dos cátaros
ou albigenses. Os cátaros acreditavam em dois deuses: um bom e espiritual e
outro mau e físico. Segundo sua crença, Cristo teria sido enviado para salvar
as almas boas, que iriam para o céu, enquanto as más voltariam por meio da
reencarnação. Isso fez com que os clérigos criassem uma Inquisição (maldita) para avaliar a
propagação de tais ideias em 1183, quando delegados papais descobriram essa
vertente e a consideraram heresia no Concílio de Verona, em 1184, com o nome de
Tribunal da Inquisição (maldito). Tal criação se
deu por meio de duas bulas papais, assinadas por Gregório IX em Abril de 1233.
A partir de então, a instituição julgou e condenou vários propagadores de
heresias, mas também absolveu muitos, o que é pouquíssimo divulgado. O texto
seguinte é parte da bula Licet ad
capiendos, de 1233, que marca o início da Inquisição (maldita) e é dirigida
aos dominicanos inquisidores. Vejamos o que diz:
Onde quer que os ocorra pregar,
estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das
advertências, a privá-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder
contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a
ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário,
por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis. Vale lembrar que os dominicanos
eram chamados originalmente de Ordem dos Pregadores. Têm como objectivo pregar
a mensagem de Jesus e a conversão ao cristianismo. Essa ordem foi fundada em
Toulouse, na França, em 1216, por São Domingos de Gusmão, um sacerdote espanhol
originário da Caleruega. Os religiosos dessa ordem viviam em conventos próximos
a grandes cidades e realizavam votos de pobreza, obediência e castidade, o que
os tornava religiosos não monges.
Não é à toa que Humberto Eco
escolheu Bernardo Gui, justamente um dominicano, para caracterizar seu
inquisidor impiedoso. Essa figura histórica foi o bispo de Lodève, na região do
Languedoc, e é considerado como um dos escritores mais produtivos da época.
A exemplo de muitos outros
inquisidores, inclusive do polémico Savonarola, foi poderoso, temido e
respeitado dentro e fora do ambiente eclesiástico por defender seus ideais com
ferocidade. Foi um dos que mais atacou os cátaros, presidindo julgamentos entre
1307 e 1323». In Sérgio P. Couto, Os Arquivos Secretos do Vaticano, da Inquisiçãoà
renúncia de Bento XVI, Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.
JDACT, Sérgio P. Couto, Vaticano, Religião, Conhecimento,