«(…)
Despertou com um barulho que a fez pensar que alguém estava arrombando o apartamento.
Ao menos, isso lhe pareceu. Logo se deu conta de que só era a cabeceira da cama
de Carly batendo contra a parede. O ruído chegava acompanhado de uns gemidos da
sua colega e sem dúvida desnecessário grito de: fo…-me! Mais gemidos, dessa vez
masculinos. O ruído da cabeceira se fez mais forte e mais rápido e o tom das
vozes pareceu de repente mais indicativo de violência do que prazer. Logo
silêncio. Regina respirou com dificuldade, embora ela não sabia se devia ao
sobressalto ou à natureza do que tinha ouvido. Era perturbador e excitante ao
mesmo tempo e isso a preocupou mais do que o facto de que a vida sexual da sua
companheira de apartamento estivesse roubando as suas horas de sono. Sabia que
estava muito desactualizada em todo o tema de sexo; ser virgem na sua idade era
impensável para a maioria das pessoas. Mas era a sua realidade, uma realidade
que a preocupava desde que se mudou para Nova Iorque e se deu conta de que era
a última a chegar na festa. Não é que pensasse não praticar sexo. Não tinha
feito voto de castidade, muito pelo contrário. Era porque não tinha aparecido
oportunidade. As suas amigas diziam que passou pela vida sem perceber que os rapazes
sempre se fixavam nela e que lhe pediriam para sair mais frequentemente e se
esforçasse mais por relacionar-se e fazer as coisas. É sempre tão séria...,
diziam-lhe.
Não
é que não queria divertir-se. Tratava-se mais de que estava dolorosamente consciente
de que cada festa que ia era uma noite que perdia de estudo, e cada rapaz que
gostava, ameaçava-a, desviar a sua atenção do que era importante para ela:
aprender, trabalhar duro, conquistar um futuro. Determinação. Era o pensamento
da mãe, que não demorou em prevenir Regina de que os rapazes não eram nada mais
do que uma distracção, um modo muito eficaz de impedir o seu futuro. Tinha-lhe
passado, advertiu-lhe com tom solene. Regina tinha ouvido a história dezenas de
vezes, mas a sua mãe sempre lhe contava como havia tinha renunciado aos seus
sonhos para apoiar o pai de Regina, enquanto este estudava arquitectura e logo
nos primeiros anos de luta... E mais tarde veio a sua gravidez. Depois o pai
morreu e deixou-me com toda a responsabilidade. Ninguém pensa em imprevistos,
Regina. Olhou o relógio. Eram duas da manhã. Faltavam cinco horas para que
soasse o despertador. Ouviu risadas e outro gemido de Carly.
Deitou–se
de barriga para cima, desesperada para dormir de novo. A camisola, um objecto
folgado de algodão cinza da marca OldNavy, enroscou-se na cintura. Regina soltou-o,
mas a deixou por cima dos quadris. Acariciou o estômago tentando relaxar para
recuperar o sono. E então, como se movesse por vontade própria, a sua mão
desceu até a borda da cueca. Deteve-se. Do quarto ao lado só chegava silêncio. Colocou
a mão por debaixo da roupa íntima e acariciou-se levemente com os dedos entre
as pernas. Pensar que havia um homem a poucos metros de distância, do outro
lado da parede, excitou-a e a distraiu ao mesmo tempo. Fazia muito tempo que um
rapaz não a tocava e as poucas experiências que tinha tido até ao momento, tinham
sido vergonhosas e não valia a pena recordar. Agora resultava-lhe impossível
imaginar a mão de outra pessoa naquele lugar íntimo e sensível, alguém que a
acariciasse até que se humedecesse e logo entrasse e saísse de seu corpo do
modo adequado para provocar aquela potente libertação. Moveu a mão depressa, as
paredes de sua vagina palpitaram contra o seu dedo, e quadris balançaram-se ao
mesmo ritmo. Experimentou a familiar onda de prazer e logo ficou quieta sob o
enrugado edredom. O coração pulsava com força. Como seria ter alguém com ela
nesse momento de clímax? Começava a perguntar-se se algum dia saberia». In
Logan Belle, A Bibliotecária, tradução de Bruh Santos, Editorial Planeta, 2013,
ISBN 978-989-657-440-6.
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