quinta-feira, 31 de outubro de 2019

No 31. Metamorfoses do Espaço Termal. O Caso das Termas de S. Pedro do Sul. Ana Patrícia Carriço. «Desde o tempo dos egípcios, hebreus, assírios e muçulmanos que a água era usada, como proposta curativa, havendo ainda informação que os hindus a usavam para combater a febre»

Cortesia de wikipedia, dona helena almeida e jdact

Com a devida vénia à doutora Ana Patrícia Silva Carriço

Conceitos sobre a Água e Aspectos Históricos
Água
«(…) Substância, liquida, incolor, transparente, inodora e insípida, que se encontra em grande abundância na natureza… Esta substância pode ser analisada através da história sob o ponto de vista químico, bioquímico, do direito, da culinária, da religião, da construção civil, da arte, hidrologia, constituindo um meio e um fim em si mesma. Meio de cura, veículo de calor ou frio, este líquido é um elemento vital à existência do homem, podendo ser analisada sob três grandes vertentes: fonte de vida, regeneradora e purificadora. Objecto de culto, provocadora de sentimentos, a água, tem sido objecto de análises e a simbologia a ela associada confere-lhe sempre aspectos diferentes, e nem mesmo o avanço da ciência fez com que a sua simbologia e os conflitos à sua volta a alterassem. A água desempenhou, desde os tempos mais remotos um elemento fundamental para a Vida. Inicialmente ligada à mitologia, a água desempenhou através das ninfas um papel mágico, que prometiam, com a água, a eterna juventude aos mortais, promovendo este bem como condição divina.
Desde o tempo dos egípcios, hebreus, assírios e muçulmanos que a água era usada, como proposta curativa (Baruch, 1920), havendo ainda informação que os hindus a usavam para combater a febre. Na Índia, na cidade de Mohenjo-Daro, existem vestígios das mais antigas termas (2000 a.C.). Também as civilizações japonesas e chinesas faziam longos banhos de imersão. Mas segundo Ramos (2005) foi com os Etruscos, considerados os inventores do termalismo, que os banhos se começaram a difundir. Junto às fontes construíam edifícios monumentais, ligando o termalismo à religião. Iniciaram a prática do banho nos domicílios ou em edifícios públicos, com técnicas especiais para aquecimento das águas (pois davam muita importância à temperatura das mesmas). A falta de redes de condutas de água era suprimida pelas bacias, que permitiram a prática do banho. Para Baruch (1920) em 500 a.C. a civilização grega, embora com uma elevada componente mística1 começa a deixar de ver a água com misticismo e começa a usá-la em tratamentos específicos, nomeadamente nas doenças do foro intestinal, que eram propagadas através da água. Alcmeon de Crotona (século V a.C., médico, filósofo pitagórico, destacou-se como físico, biólogo e anatomista) associava certas doenças intestinais à natureza da água consumida. Com Hipócrates, Heródoto, Demócrito e Aristóteles são definidas as primeiras regras termais e áreas como é o caso das termas de Oedpsus, com as quais rivalizarão mais tarde as termas de Lesbos, Melos, Thermopylas e Scotussa, passam a ter grande importância devido à veneração especial que havia pelas nascentes e os rituais a elas associados.
Ainda segundo o mesmo autor (1920). Os romanos herdaram, da civilização helénica o gosto pelas coisas requintadas e o culto das águas como principal elemento de saúde e bem-estar. Este reconhecimento das propriedades da água levou à sua sacralização, colocadas sob a invocação de uma ou mais divindades, com as quais os mortais, estabeleceram um pacto. É assim que junto às antigas termas romanas, aparecem muitas inscrições e votos. Uma mistura de temor ditou assim edificação de muitos balneários. O banho dividiu-se então entre banho público e banho privado. Pelas mãos do Imperador Agrippa, a civilização Romana viu construída a sua primeira grande estância termal. Cada vez maiores e mais extravagantes, cada imperador tentavam superar os feitos do seu antecessor.
Em poucos anos, os simples banhos transformaram-se em grandes complexos recreativos e sociais, onde não faltavam outros tipos de diversão: massagens, ginástica, etc. Os médicos passaram a receitar a prática termal encorajando os banhos públicos para melhoria da saúde. A queda do Império romano e a introdução do Cristianismo, que não tolerava a promiscuidade nem o nudismo fez com que se iniciasse um período de interregno, na utilização da água e mais particularmente nas práticas termais. Para Cavalcanti (1997) a água tem também servido para ritos de iniciação, como no caso dos banhos na Idade Média, onde o título de cavaleiro era concedido com grandes cerimónias. Nesta época, o banho era tomado pelos cavaleiros em grandes tinas com água quente aromatizada (para que ultrapassassem os combates sem mácula), possivelmente simbolizando uma purificação espiritual na véspera da sua investidura. Jorge I de Inglaterra, a 18 de Maio de 1725, criou assim a Ordem do Banho, formalmente A Mais Honoravel Ordem Militar do Banho, também conhecida como Ordem de Bath, como homenagem aos cavaleiros que experimentavam o banho na véspera da sua coroação. Desde a coroação de Henrique IV, em 1399 (que foi rei entre 1399 e 1413), a cerimónia ficou restrita para ocasiões reais importantes, como a coroação de um monarca, britânico, investiduras de príncipes, ou duques, bem como de bodas reais. A última ocasião na qual os cavaleiros do Banho foram investidos foi na coroação de Carlos II em 1661». In Ana Patrícia Carriço, Metamorfoses do Espaço Termal, O Caso das Termas de S. Pedro do Sul, Tese para obtenção do Grau de Doutor em Arquitectura, Universidade da Beira Interior, Faculdade de Engenharia, Covilhã, 2013.

Cortesia de UBeiraInterior/JDACT