Cortesia
de wikipedia
Com
a devida vénia a Rafael Oliveira e a Oliraf
«Viajar em Espanha é cada vez mais
sinónimo de visitar duas cidades: Madrid ou Barcelona. É um crime ainda não termos
visitado estas fascinantes cidades espanholas, dizem-me alguns amigos. Basta,
abrir uma página web, uma imagem ou um guia de viagens para perceber a
importância de não termos caído em tentação. Eu não gosto de ir aos locais
turísticos ditos obrigatórios. Ainda não me sinto preparado e não tenho a
mencionada pressão de ir. De facto, pela minha experiência académica,
profissional e pessoal, o Reino de Espanha tem dezenas de cidades e vilas que
são merecedoras de uma visita sem pressa e para apreciar o que as rodeia. Alburquerque
foi a primeira incursão em terra de nuestros hermanos.
Porquê a escolha da (des)conhecida vila de Alburquerque?
São muitos, e todos eles merecedores
de atenção, os Castillos existentes ao longo da fronteira luso-espanhola, bem
como em todo o Reino de Espanha. Há centenas deles. Isto se acrescentarmos
também as fortalezas que entretanto se fundiram no seio da arquitectura militar
medieval, nomeadamente Ciudad Rodrigo, Badajoz, entre outras. De Lisboa a Albuquerque são cerca de 270 quilómetros.
De Marvão, cerca de 70 km. A vila de Alburquerque está entre a cidade de
Badajoz e a vila de Valência de Alcântara, bem no centro da antiga província
romana da Lusitânia, na actual comunidade autónoma espanhola da Extremadura.
Não vem nos roteiros turísticos ou guias de viagem tradicionais, como a cidade
de Badajoz, mas não precisava de tal distinção para merecer uma visita. É aqui
que encontramos um dos mais imponentes, e bem preservados, Castillos da região
e de toda Espanha (segundo o guia que nos fez a visita guiada gratuita ao
recinto), mas a riqueza não é apenas histórica e arquitectónica, mas também
paisagística. Dentro do seu pequeno, mas acolhedor, centro histórico e do
recinto muralhado começamos logo por descobrir histórias, pedras e símbolos
familiares, de origem portuguesa.
Após uma transição serena da planície alentejana e da Serra
de São Mamede, deparo-me ao longo do meu roteiro solitário pelo Alto
Alentejo com a sinalética
da estradas. Indica-nos que já estamos em Espanha. Nesta aventura de aprendiz
de historiador, fotógrafo e viajante andarilho, citando Orlando Ribeiro,
apercebo-me que a paisagem, a ocupação humana e a gastronomia é a mesma. Só a
língua não. As pitorescas vilas de La Codosera e Valência de Alcântara
prende-me o olhar, todavia não me despertam a minha curiosidade fotográfica.
Talvez, porque não era esse o objectivo desta incursão à tierra de nuestros
hermanos. Alburquerque era o objectivo.
Aventurei-me por esta vila histórica da raia luso-espanhola,
com quase seis mil habitantes (2014), localizada nas proximidades da Sierra de
San Pedro. Sem recurso a mapas da vila, uma vez que o Posto do Turismo estava
fechado (a famosa siesta de nuestros hermanos), aproveitei para mergulhar em
pleno coração medieval da Vila de Alburquerque, onde, no alto
de um monte rochoso, ergue-se o imponente Castillo de Luna. A vida
quotidiana, nestas pitorescas vilas, apesar de ficar tão perto da nossa
fronteira é completamente diferente do que se vive em Portugal. Durante o
percurso pedonal no centro histórico e nos arrabaldes da vila, apercebo-me da
importância histórico-militar desta localidade fronteiriça. De facto, o Castillo
de Luna revela a razão da sua existência: praça fortificada para as constantes
guerras, querelas políticas e escaramuças travadas ao longo da História entre o
Reino de Portugal e de Castela e Leão (posteriormente Reino de Espanha).
Um pouco de História…
O Castelo Medieval de Alburquerque
foi erguido entre os séculos XIII e XV, tomando a denominação de Castillo de
Luna, em virtude de Álvaro Luna, Mestre da Ordem Militar de Santiago e
Condestável do Reino de Castela e Leão, ter residido uma parte da sua vida
neste guerreiro de pedra. Esta localidade está próxima da fronteira de Portugal,
entre Valencia de Alcântara e Badajoz, sendo um aliciante local de poder bélico
e estratégico ao longo da história. Em 1166, Fernando II de Castela e Leão
concede-o à Ordem de Santiago. Em 1184, as forças muçulmanas recuperam o
Castelo. Todavia, em 1217, a localidade e o castelo voltavam, de vez, para as
mãos dos cristãos.
Durante a visita ao interior do Castelo de Alburquerque (Castillo de Luna) deparei-me com a razão da sua importância
estratégica: vigilante da fronteira luso-espanhola. Nunca pensei que tivesse
tanta presença lusitana nestas pedras. Vejamos, dom Afonso Sanches, filho bastardo do rei Dinis I foi o primeiro
Senhor deste Castelo (andava chateado com o maninho, o rei Afonso IV). Inês de
Castro esteve aqui, enquanto o monarca Pedro I estava em Ouguela. Em 1580, Alburquerque
teve um papel crucial na conquista de Portugal, visto que uma parte do grosso
das forças terrestres de Filipe II de Espanha invadiu Portugal por aqui. Mais
tarde, durante quase uma década foi uma praça-forte portuguesa durante a Guerra
de Sucessão Espanhola (entre 1705-1715), só devolvida com o Tratado de Utrecht.
Ainda hoje, à entrada do Castelo, podemos ver os baluartes em estilo Vauban
feito pela engenharia militar portuguesa. Mais tarde, durante a Guerra de
Independência Espanhola (1808-1814), foi saqueado pelo temido Grande Armeé de
Napoleão Bonaparte, após a defesa heróica da população local. Com a fratricida Guerra
Civil Espanhola, este Monumento Nacional (1924) foi parcialmente destruído e
recuperado anos mais tarde. De facto, o Castillo de Alburquerque é um conjunto
de pedras com muitas estórias da História…
Este Castillo vale pela paisagem
que domina e pelo seu interior. Na minha opinião, um dos mais belos e bem
conservados castelos de Nuestros Hermanos. Sim, porque, os Espanhóis não
brincam em serviço quando se trata de proteger e promover o seu património
histórico-cultural. Recomendo a visita ao interior da Torre de Menagem, a vista
panorâmica para Portugal (Campo Maior e Marvão) e as animações turísticas para
os jovens guerreiros, organizados por um grupo de jovens locais. Testemunhos e
pequenas testemunhas de uma longa História Secular. Marca e marcos da nossa
memória e identidade. Portugal e Espanha são duas faces diferentes de uma mesma
moeda: a Península Ibérica, citando uma obra de José Saramago A Jangada de Pedra.
Em breve irei disponibilizar mais roteiros, artigos, dicas e fotografias de
viagem no Reino de Espanha. Para já podem deliciar-se com as da pitoresca vila
fronteiriça de Alburquerque». In Rafael Oliveira, Oliraf, 2016, Outubro 24,
Wikipedia.
Cortesia
de Oliraf/JDACT