Cortesia
de wikipedia e jdact
As
Crónicas de Gelo e Fogo
«Deveríamos
regressar, insistiu Gared quando os bosques começaram a escurecer ao redor do
grupo. Os selvagens estão mortos. Os mortos o assustam?, perguntou Sor Waymar
Royce com não mais do que uma sugestão de sorriso no rosto. Gared não mordeu a
isca. Era um homem velho, com mais de cinquenta anos, e vira os nobres chegar e
partir. Um morto é um morto, respondeu. Nada temos a tratar com os mortos. Mas
estão mortos?, perguntou Royce com suavidade. Que prova temos disso? Will os viu,
disse Gared. Se ele diz que estão mortos, é prova suficiente para mim. Will já
sabia que o arrastariam para a disputa mais cedo ou mais tarde. Desejou que tivesse
sido mais tarde. Minha mãe disse-me que os mortos não cantam, contou Will.
Minha ama de leite disse a mesma coisa, Will, respondeu Royce. Nunca acredite
em nada do que ouvir junto à mama de uma mulher. Há coisas a aprender mesmo com
os mortos, sua voz gerou ecos, alta demais na penumbra da floresta.
Temos perante nós uma longa cavalgada,
salientou Gared. Oito dias, talvez nove. E a noite está para cair. Sor Waymar
Royce olhou o céu de relance, com desinteresse. Isso acontece todos os dias por
esta hora. Você perde a virilidade com o escuro, Gared? Will via o aperto em
torno da boca de Gared, a ira só a custo reprimida nos olhos que espreitavam
sob o espesso capuz negro de seu manto. Ele passara quarenta anos na Patrulha
da Noite, em homem e em rapaz, e não estava acostumado a ser desvalorizado. Mas
era mais do que isso. Will conseguia detectar no homem mais velho algo mais sob
o orgulho ferido. Era possível sentir-lhe o gosto: uma tensão nervosa que se
aproximava perigosamente do medo.
Will partilhava o desconforto do
outro homem. Estava havia quatro anos na Muralha. Da primeira vez que fora enviado
para lá, todas as velhas histórias lhe tinham acorrido ao cérebro, e suas entranhas
se tinham feito em água. Era agora um veterano de cem patrulhas, e a escura e
infinita terra selvagem a que os sulistas chamavam floresta assombrada já não tinha
terrores para si. Até aquela noite. Algo era diferente então. Havia naquela
escuridão algo de cortante que lhe fazia eriçar os pelos da nuca. Cavalgavam
havia nove dias, para norte e noroeste, e depois de novo para norte, cada vez para
mais longe da Muralha, seguindo sem desvios a trilha de um bando de salteadores
selvagens. Cada dia fora pior que o anterior. Aquele tinha sido o pior de todos.
Um vento frio soprava do norte e fazia as árvores sussurrarem como coisas vivas.
Durante todo o dia Will tivera uma sensação que era como se alguma coisa o estivesse
observando, algo frio e implacável que não gostava dele. Gared também sentira.
Will nada desejava com tanta força como cavalgar a toda a pressa de volta à
segurança da Muralha, mas este não era um sentimento que se pudesse partilhar
com um comandante.
Especialmente
com um comandante como aquele. Sor Waymar Royce era o filho mais novo de uma
Casa antiga com demasiados herdeiros. Era um jovem bem-apessoado de dezoito anos,
de olhos cinzentos, elegante e esbelto como uma faca. Montando no seu enorme
corcel de batalha negro, o cavaleiro elevava-se bem acima de Will e Gared,
montados nos seus garranos de menores dimensões». In George RR Martin, A Guerra dos Tronos,
2007, Saída de Emergência, LeYa, 2010, ISBN 978-989-637-010-7.
Cortesia de SdeEmergência/JDACT