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Era
uma prática padrão, mas infeliz, de os arqueólogos saquearem sítios
arqueológicos na terra alheia, trazendo os seus troféus para museus no
Ocidente. Esses incluíam não apenas itens portáteis, mas grandes estátuas,
obeliscos e mesmo paredes inteiras de lugares como Egipto, Assíria e Babilónia.
Os museus e galerias da Grã-Bretanha, da Europa e da América estão cheios de
tais itens. Deve parecer lógico que, ao descrever algumas das mais importantes descobertas
de Petrie no monte Serábit, eu devesse ter dado detalhes de onde aquilo poderia
ser visto actualmente. O facto, porém, é que o butim de Serábit não foi fácil
de localizar porque, embora alguns itens tenham ido parar em galerias públicas,
muitos foram estrategicamente ocultados do escrutínio aberto. Entretanto, tenho
prazer em dizer que consegui certo sucesso; uma lista de alguns museus em que
os artigos de Serábit foram colocados pode ser vista em NR. Embora grande número
de itens quebrados registados por Petrie não tenha sido removido por encarregados
de museus após a expedição de 1904, foram furtados por outros, logo que se revelaram
os detalhes da expedição. Consequentemente, não foram encontrados por uma
expedição posterior da Universidade de Harvard em 1935.
A razão para muitos dos primeiros
artefactos estarem guardados em segredo é que a descoberta de Petrie foi vista
com grande desagrado na época; considerou-se que ela contradizia a narrativa do
Êxodo dos acontecimentos na montanha sagrada. Foi ali que se disse que Moisés
viu a sarça ardente, onde falou com Jeová, queimou o bezerro de ouro e recebeu
as Tábuas da Escritura. Na prática, o relatório Petrie não desfigurava o relato
bíblico de forma nenhuma; desafiava apenas a interpretação da Igreja da
história e a maneira como ela vinha sendo ensinada. Essencialmente, a sua
descoberta era contra os regulamentos do Egypt Exploration Fund. O estatuto de
1891 do Fund, Memorandum and Articles of Association, afirma que seus objectivos
incluíam a promoção de inspecções e escavações com o propósito de elucidar ou
ilustrar a narrativa do Antigo Testamento. Claro, isso significava o Antigo
Testamento da forma como era tradicionalmente interpretado, não necessariamente
como estava escrito.
Em seguida à morte da rainha
Vitória, em 1901, e com o imperialismo britânico num pico de glória, os valores
vitorianos ainda eram parâmetro quando Petrie fez sua descoberta em 1904. Esses
valores, impostos na sociedade, poderiam hoje ser vistos como intimidações institucionais
e não como conceitos válidos; foi preciso o rigor brutal da Primeira Guerra
Mundial (dez anos depois) para que houvesse alguma nivelação de atitudes. Mas
Petrie, apesar de ser o mais notável arqueólogo da época, sentiu o peso da
desaprovação autoritária. Decidiu publicar as suas descobertas logo que voltou,
mas viu o seu patrocínio do Egypt Exploration Fund ser cortado. Escreveu no seu
relatório: todavia, tenho necessitado confiar no futuro..., no Egyptian
Research Account e na British School of Archaeology in Egypt.
Os
diários de Petrie foram por ele compilados num livro bastante substancial
intitulado Researches in Sinai. Foi publicado por John Murray, Londres, em
1906, mas não durou muito tempo; hoje em dia é muito difícil encontrar cópias.
Muito mais tarde, em 1955, a recém-formada e mais bem inspirada Egypt
Exploration Sociey (em associação com a Oxford University Press) publicou a sua
própria edição referente aos relevos e inscrições do Sinai. Esse trabalho em dois
volumes tratava, num primeiro momento, das descobertas de Petrie, mas a segunda
parte se concentrava nos manuscritos relacionados dos eminentes egiptólogos
Alan H. Gardiner e T. Eric Peet. Eles aperfeiçoaram o trabalho de Petrie para a
Society, transcrevendo, relatando e debatendo os hieróglifos e entalhes. Mas onde
estavam os artefactos originais de Serâbit el Khâdim? Onde estavam todos os
itens que Petrie e os outros haviam descrito? Transpira que, desde 1906, grande
parte deles foi mantida atrás de portas trancadas, tendo pouquíssimos itens
sido apresentados ao público. Segundo o que se pôde determinar, cerca de 463
artigos foram oficialmente removidos do Templo da montanha, tudo, desde grandes
obeliscos e estelas a pequenas varas e tigelas. Felizmente, uma nova geração
inteira de indivíduos é responsável pelos artefactos e, ao serem lembrados de
sua existência (pois as barreiras do estilo vitoriano não são mais válidas), os
curadores começam a mostrar algum entusiasmo a respeito». In Laurence Gardner, Os Segredos Perdidos da Arca Sagrada, Editora Madras, 2004, ISBN-978-857-374-901-4.
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