Os Possíveis Tesouros
«(…) Durante mais quinhentos
anos, a cidade continuou a ser assento de um importante condado, ou comté, o Condado de Razès. Depois, no
princípio do século XIII, um exército de cavaleiros do Norte desceu sobre o Languedoc
para esmagar a heresia cátara ou albigense e reclamar para si
próprios os ricos despojos da região. Durante as atrocidades da chamada Cruzada Albigense, Rennes-le-Château
foi capturada como feudo e transferida de mão em mão. Cento e vinte e cinco
anos mais tarde, na década de 1360,
a população local Íoi dizimada pela peste; e Rennes-le-Château foi destruída pouco
tempo depois por bandos nómadas catalães. Há histórias de tesouros fantásticos
que se entrecruzam com muitas destas vicissitudes históricas. Constava que os
hereges cátaros, por exemplo, possuíam algo de valor fabuloso e até mesmo
sagrado, que, segundo várias lendas, era o próprio Santo Graal. Diz-se que
estas lendas impeliram Richard Wagner a fazer uma peregrinação a
Rennes-le-Château antes de compor a sua última ópera, Parsifal e durante a ocupação, entre 1940 e 1945, diz-se que
as tropas alemãs, seguindo o rasto de Wagner, empreenderam várias escavações
infrutíferas na região. Há também o tesouro desaparecido dos templários, cujo
Grão-Mestre, Bertrand de Blanchefort, ordenou certas escavações misteriosas na
área. Segundo todos os relatos, estas escavações foram de natureza nitidamente
clandestina, efectuadas por um contingente especialmente importado de mineiros
alemães. Se havia realmente algum tesouro templário escondido na zona de Rennes-le-Château,
isto pode explicar a referência ao Sião
nos pergaminhos descobertos por Saunière.
Havia também outros
possíveis tesouros. Entre os séculos V e VIII, grande parte da França actual
era governada pela dinastia merovíngia, que incluiu o rei Dagoberto II.
Rennes-le-Château, no tempo de Dagoberto, era um bastião visigótico, e o
próprio Dagoberto era casado com uma princesa dos Visigodos. A cidade pode ter acumulado
uma espécie de tesouro real; e há documentos que falam de grandes riquezas
amealhadas por Dagoberto para aplicar na conquista militar, escondidas nos
arredores de Rennes-le-Château. Se Saunière descobriu um depósito deste género,
isso explicaria a referência nos códigos a Dagoberto. Os cátaros. Os
templários. Dagoberto II. E havia ainda outro possível tesouro, o vasto saque
acumulado pelos Visigodos durante o seu avanço tempestuoso através da Europa.
Este pode ter incluído algo mais do que um saque convencional, possivelmente artigos
de imensa relevância, tanto simbólica como literal, para a tradição
religiosa ocidental. Podia, em suma, ter incluído o lendário tesouro do Templo
de Jerusalém, que, ainda mais do que os templários, justificaria a
referência ao Sião. No ano de 66 d.
C., a Palestina ergueu-se em revolta contra o jugo romano. Quatro anos
mais tarde, em 70 d. C., Jerusalém foi arrasada pelas legiões do imperador,
sob o comando do seu filho, Tito. O próprio Templo foi saqueado e o conteúdo do
Lugar Santíssimo transportado de volta para Roma. Tal como está
retratado no arco triunfal de Tito, este conteúdo incluía o imenso candelabro de
ouro com sete braços tão sagrado para o judaísmo e, possivelmente, até mesmo a Arca
da Aliança.
Três séculos e meio mais tarde, em 410
d. C., Roma foi por sua vez saqueada pelos invasores visigóticos, sob o
comando de Alarico, o Grande,
que pilhou virtualmente toda a riqueza da Cidade Eterna. Como nos diz o
historiador Procópio, Alarico partiu com os tesouros de Salomão, o reidos Hebreus,
uma visão digna de se ver, pois estavam adornados na sua maioria com esmeraldas
e em tempos antigos tinham sido tirados de Jerusalém pelos Romanos. Um
tesouro, então, pode muito bem ter sido a fonte da inexplicável riqueza de
Saunière. O padre pode ter descoberto qualquer um de vários tesouros, ou pode
ter descoberto um único tesouro que tenha mudado de mãos repetidamente através
dos séculos, passando talvez do Templo de Jerusalém para os Romanos, destes
para os Visigodos, eventualmente para os cátaros e/ou os templários. Se assim foi,
isto explicaria por que razão o tesouro em questão pertencia tanto a
Dagoberto II como ao Sião». In Michael Baigent, Eichard Leigh, Henry
Lincoln, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, 1982, tradução de Nadir Ferrari,
Editora Nova Fronteira, 1993, ISBN: 852-0904-74-2, O Sangue de Cristo e o Santo
Graal, Editora Livros do Brasil, Colecção o Despertar dos Mágicos, Lisboa,
tradução de Elsa Vieira, 2004, ISBN 972-38-2651-8.
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