domingo, 18 de maio de 2014

Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal. Bastardos Reais. Isabel Lencastre. «D. Constança Sanches, ‘dona muito nobre e de muito grande santidade e virtudes, e toda perfeita em virgindade e em fazer esmola aos pobres’, faleceu em 1269»

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Os oito enteados da Rainha Doce
«(…) Os restantes seis filhos que Sancho I teve de gança (como então se dizia) foram fruto dos seus amores com D. Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, que o rei conheceu na Guarda ou em Coimbra e era sobrinha daquele Martim Moniz que defendeu a porta de Lisboa. A Ribeirinha, mulher fidalga, de grande formosura, também foi amante de Sancho quando a rainha sua mulher vivia. Mas a Ligação prolongou-se após a morte de D. Dulce, em 1198, com suficiente escândalo público para o papa admoestar o rei contra a feiticeira que todos os dias consultava e o bispo de Coimbra lhe solicitar que a expulsasse do paço para que ele o pudesse frequentar... Senhora de Vila do Conde, que  Sancho I, homem ciumento, lhe deixou em testamento com a condição de ela não casar, a Ribeirinha deu ao Povoador vários filhos.
O primeiro chamou-se Rodrigo Sanches e foi um dos chefes do partido senhorial durante o reinado de Sancho II. Fez frente à política de afirmação e centralização do poder real intentada por seu sobrinho e morreu a combatê-la, na lide de Gaia, em 1245. Há-de ter sido um modelo de qualidades e virtudes, a acreditar numa inscrição cuja memória a Monarquia Lusitana conservou: [...] grande cortesão, insigne nas armas, semelhante a Rolando, amável para todos, gracioso e de conversação alegre, folgado de rir e de falar, evitando o incesto (sic), verdadeiro nas promessas, severo para com os inimigos mas pacífico, humilde, de rara bondade e sem engano[…]
Não casou. Mas teve de Constança Afonso de Cambra um filho bastardo: Afonso Rodrigues, que os livros de linhagens não referem. Frade de São Francisco, guardião do Convento de Lisboa, o bastardo de Rodrigo Sanches fez parte do desembargo de Dinis I.
O segundo filho da Ribeirinha chamou-se Gil Sanches, que, diz o conde de Sabugosa, foi o clérigo mais honrado de Espanha e viveu em barregania com D. Maria Garcia Sousa, de quem não teve filhos. Foi também trovador. Seu pai deixou-lhe em testamento oito mil morabitinos, dos que estão em Belver. Morreu a 14 de Setembro de 1236. Seguiram-se Nuno Sanches, que morreu de tenra idade, num dia 16 de Dezembro, e D. Maior Sanches, que, segundo os livros de linhagens, era filha de Maria Aires de Fornelos, e que, segundo a Monarquia Lusitana, teria morrido criança, tal como um seu irmão, Nuno Sanches, de quem nunca mais se ouviu falar. Finalmente, nasceram D. Constança e D. Teresa Sanches.
D. Teresa foi a segunda mulher de Afonso Teles Meneses, rico-homem, senhor de Albuquerque, Medelim, Montalegre, Valhadolid e Madrid, etc., a quem deu quatro filhos: João Afonso, Afonso Teles, Martim Afonso e Maria Afonso. Foi avó do primeiro conde de Barcelos e trisavó de D. Leonor Teles, a mulher do rei Fernando I. Morreu em 1230. Quanto a D. Constança Sanches, nasceu em Coimbra, cerca de 1204. Foi criada por Justa Dias e, quando perfez 20 anos, professou no Mosteiro das Donas de São João, em Coimbra. Contemplada com sete mil morabitinos no testamento de seu pai (1210), adquiriu muitos bens em Torres Vedras e, sobretudo, na vila e termo de Alenquer. Além disso, herdou de sua mãe. Foi grande benfeitora de várias ordens religiosas, a quem deixou chorudos legados ao morrer. O Mosteiro de Grijó ganhou particularmente com a sua generosidade: num documento datado de Abril de 1263, D. Constança fez-lhe muitas mercês, impondo, no entanto, algumas condições, entre as quais que ali fosse rezada uma missa de aniversário, cada ano, pela sua alma; e que uma missa de aniversário fosse rezada também por alma de seu irmão, Rodrigo Sanches, devendo além disso manter-se uma lâmpada acesa diante do altar de Santa Maria.
D. Constança Sanches, dona muito nobre e de muito grande santidade e virtudes, e toda perfeita em virgindade e em fazer esmola aos pobres, faleceu em 1269. E dela se diz (diz pelo menos António Caetano Sousa) que mereceu aparecer-lhe São Francisco e Santo António, certificando-a da sua salvação». In Isabel Lencastre, Bastardos Reais, Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal, Oficina do Livro, 2012, ISBN 978-989-555-845-2.

Cortesia de Oficina do Livro/JDACT