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Cartas
e quadras de Agostinho da Silva
«(…)
Há uma antevisão do que é a polissemia de quem escreve. Quem escreve tem de admitir
que pode não ser entendido, que pode ser lido de outra forma. Existe quase uma visão
anárquica do pensamento, pois as peças não têm que estar coerentes, dado que a coerência
é atribuída pelo leitor. Ainda em relação à questão de Deus como Poeta, o
início de um poema seu sobre Fernando Pessoa é muito claro nas suas ideias:
O mito
é o nada que é tudo
tem por mãe a poesia
e o
grande poeta é Deus
o
resto filosofia
mas
Deus poeta e poema
em
Pessoa se encarnou
profeta
de Portugal
Lisboa
o crucificou
Em toda a poesia de Agostinho,
embora, como já referi, eu não seja um conhecedor de todos os meandros da sua
obra, penso que existe uma grande valorização do imaginar, da criação de imagens, imagens essas que não têm
de estar ligadas ao mundo concreto, mas são sobretudo fruto do pensamento
humano, da racionalidade. Afirma:
A face
oculta da lua
só
banha de seu luar
aqueles
que não o vendo
o
sabem imaginar.
A realidade está para além do
visível e do concreto, está sobretudo no imaginável. Quando o ser humano tenta
tornar concreto aquilo que por natureza não o é, a realidade foge. Tem por exemplo
uma quadra em que diz:
Em mim
tenho o mundo inteiro
e mais
que tudo as estrelas
é
procurá-las no céu
o que
me impede de vê-las.
É só
bem dentro de nós
que o
projecto se anuncia
se
retoma se reforma
e se
solta à luz do dia.
Procurar ver as estrelas é sinal
de que elas fogem, pois são parte sobretudo do domínio da imaginação».
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