Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Luís Carlos R. Santos
«Se eu chegasse a ser
dum Outro
mas de mim não me
perdendo
e esse Outro todos os
outros
que comigo estão
vivendo
não só homens mas
também
os animais e as
plantas
e os minerais ou os
ares
e as estrelas tais e
tantas
terei decerto cumprido
meu destino e com que
sorte
para gozar de uma vida
já ressurecta da morte».
In
Agostinho da Silva, 1990
As
Primeiras Obras (1906-1944)
«George
Agostinho Baptista da Silva, filho de Francisco José Agostinho da Silva e
Georgina do Carmo Baptista da Silva, nasceu na cidade do Porto a 13 de
Fevereiro de 1906. Mas logo, pouco tempo depois, com seis meses de idade, por
destacamento profissional de seu pai foi viver para Barca D’Alva, lugar
fronteiriço do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda. Aqui
passou parte da sua infância, até aos seis anos de idade, altura em que
regressaria ao Porto. Em 1986, com oitenta anos de idade, Agostinho da Silva
produziu um manuscrito com o título de Caderno de Lembranças, onde nos
lega uma descrição sobre os seus primeiros tempos de vida. Curioso é que o
início desta sua narrativa recua ao ano de 1905, altura em que o autor começa a
dar conta de que irá nascer. E é tão interessante a descrição que não deixamos
de a transcrever em parte, neste arranque de elaboração da nossa tese: lá por
1905, mas nada há mais difícil do que relacionar tempo e eternidade, ou
fixar-se simultâneo nos dois planos, os grandes pintores o fazem no olhar de
suas figuras, mas, enfim, por essa altura, comecei a tomar atenção no belo globo
que rolava diante de nós, e a tentar descobrir lugar aonde me agradasse descer
para principiar minha vida. A meu lado, outros faziam o mesmo, e até
discutíamos os méritos de um e outro ponto, mas sem voz, tanto quanto me
lembro, porque o nascer tira muito a memória (…) Quando, voluntária ou
involuntariamente, quem o sabe, gostei de, a cada volta do globo, ver surgir de
novo nossa península ibérica, deu-se, fenómeno curioso, o mesmo que, maquinado
pelos homens, se veio a chamar zoom: À outra volta, a península estava maior,
só havia uma nesga de mar, de um lado e outro, e uma cadeia de montanhas, bem
em relevo, a limitando para o norte; ou eu a estou a ver agora assim, porque,
donde eu a contemplava, não havia nada que fosse acima ou abaixo: simplesmente
era. Na outra volta, a metade que posso dizer agora de meu lado direito
desaparecera, como desaparecera toda a faixa do sul. Fixava-me, de facto, no
que aprendi a chamar Portugal (…).
Ao olharmos atentamente para o percurso biográfico de Agostinho
da Silva verificamos que ele compreende três grandes períodos distintos. Um
primeiro, que situamos entre 1906-1944, balizado entre o seu nascimento e o
ano de partida para o auto exílio no Brasil; um segundo, entre
1944-1969, que abrangerá todo o período de vida que passa, sobretudo, em
território brasileiro; e o terceiro, 1969-1994, que se inicia com o
regresso a Portugal e se estende até à data do seu falecimento.
Estes três grandes períodos constituirão para nós o grande
eixo de referência para análise do seu pensamento filosófico e educacional,
temas estruturantes de toda a sua obra. Correspondendo a fases muito distintas
na vida de Agostinho da Silva, com inevitáveis importantes reflexos na sua
obra, aproveitaremos esta divisão para mais claramente darmos conta da forma
como foram evoluindo as suas ideias. Depois de sólida formação no ensino
secundário, Agostinho da Silva ingressou na Faculdade de Letras do Porto, onde
se licenciou em Filologia Clássica, em 1928, com uma tese sobre a poesia de
Catulo. Logo de seguida fez o Curso de Doutoramento, em 1929, num curto
espaço de tempo, dado o anúncio de encerramento da Faculdade por parte do
Governo. Hernâni Cidade, Leonardo Coimbra e Teixeira Rego são os professores
que lhe deixaram maiores referências.
O
título da tese de doutoramento foi O Sentido Histórico das Civilizações
Clássicas,
onde desenvolveu algumas ideias críticas a Oswald Spengler que pretendia provar
que a civilização grego latina viveu sempre sem o sentido histórico, sem
preocupação do passado e do futuro(…), tese com que o nosso autor não
concordou. Agostinho da Silva, nesta sua tese, centra a atenção sobre um
conjunto de acontecimentos históricos que ocorreram na Grécia Antiga,
nomeadamente, sobre as diferentes formas de organização política que
caracterizavam as cidades-estado de Atenas e de Esparta, e nos elogios de
escritores como Eurípedes e Tucídides às boas qualidades dos atenienses, ou de
Platão e Xenofonte que não se pouparam em bons predicados ao sentido de dever
e sobriedade dos espartanos».
In
Luís Carlos R. Santos, Filosofia e Espiritualidade, Educação e Pedagogia,
Agostinho da Silva, U de Lisboa, F de Letras, D de Filosofia, Tese de
Doutoramento, 2014, Wikipedia.
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