Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Vanda Lisa Lourenço Menino
«(…) Como resultado da aliança
matrimonial estabelecida com o sucessor do trono português, dona Beatriz foi
separada de seus pais e trazida para Portugal quando teria apenas três ou
quatro anos de idade, passando a ostentar o título de rainha de Portugal no ano
de 1325, após o óbito do rei Dinis I, e até 1359, ano da sua morte. Muito se
terá passado na sua vida, quer como infanta quer como rainha. Foram quase sete
décadas de vivência, entre 1293 e 1359, pelas quais esta mulher não passou incólume.
Sabemos, e disso temos a certeza, que a acção governativa do seu marido, que reinou
entre 1325 e 1357, pautou, inevitavelmente, a vida desta mulher. Assim, tendo presente
o contexto do reinado de Afonso IV, podemos afirmar que este conheceu, ao nível
da política externa, diferentes situações de conflito, tais como a guerra entre
Portugal e Castela entre 1336 e 1339, mas também a luta contra os muçulmanos,
de que constitui episódio cimeiro a batalha do Salado (1340). Por outro lado,
ao nível diplomático, ressalta a tentativa de assegurar a paz através dos
diversos tratados celebrados com Aragão e Castela, além dos acordos comerciais
e de mútua protecção estabelecidos com a Inglaterra. Quanto à política interna,
ela foi marcada pelo conflito desencadeado entre o infante e seu pai, o rei
Dinis I, mas também entre o monarca português, Afonso IV, e o seu irmão Afonso
Sanches; assinalem-se também o grande flagelo da Peste Negra de 1348, com as
suas múltiplas consequências a vários níveis, assim como as reformas
administrativas e a tentativa de contenção dos abusos senhoriais. No final do
reinado de Afonso IV, o país viu-se mergulhado em mais uma guerra, desta vez
entre o monarca e o seu filho Pedro, futuro rei de Portugal.
Como foi já referido, os relatos
coevos sobre dona Beatriz escasseiam. Deste modo, revelou-se importante e
imprescindível uma pesquisa ao nível da documentação manuscrita guardada nos
nossos arquivos, principalmente na Torre do Tombo. Aqui encontrámos um conjunto
de documentação dispersa por vários fundos. Por regra, o grande número de dados
relativos à rainha chegou-nos de forma indirecta, ou seja, vamos encontrá-la em
documentação régia ou particular onde, muitas vezes, as informações são
escassas e pontuais. Tornou-se, assim, necessário compilar e reunir todas as
notícias para tentar obter o maior número de dados possível. Sobre estes não
teceremos, por agora, mais considerações, porque todos esses documentos serão
utilizados ao longo das próximas páginas.
Ao nível das fontes coevas,
revelou-se necessário efectuar uma abordagem aos nobiliários medievais, sendo
este o nosso ponto de partida. Numa sociedade onde os bens e a posição social
eram transmitidos de forma hereditária, o parentesco ocupava um lugar de
destaque. Os nobiliários medievais são obras muito específicas, em larga medida
constituídas por listas genealógicas da nobreza medieval, embora, na maior
parte dos indivíduos, não exista datação explícita. Para o caso em apreço encontramos
informações apenas em dois livros de linhagens. Um deles é o Livro do Deão, escrito entre 1337
e 1340, por Martim Eanes, por encomenda de um deão cujo nome não é referido,
mas Luís Krus identifica-o como sendo o deão da Sé de Braga, Martim Martins
Zote. O outro é o nobiliário mais célebre, o denominado Livro de Linhagens do Conde D. Pedro,
concluído por volta de 1340 e redigido por Pedro Afonso, bastardo do rei Dinis I
e conde de Barcelos. Em ambos os livros as informações relativas à rainha dona
Beatriz são unânimes e referem somente os seus laços de parentesco mais
próximos, ou seja, os seus pais, os seus irmãos, o facto de ser casada com
Afonso IV e os três filhos, fruto deste matrimónio, e que sobreviveram até à
idade adulta: dona Maria, rainha de Castela, dona Leonor, rainha de Aragão, e
Pedro, sucessor no trono português.
Entre as fontes narrativas, não
são despicientes as parcas informações contidas no Livro que fala da boa vida que fez a Rainha Dona Isabel.
Esta hagiografia de autor anónimo foi provavelmente elaborada por um membro do
clero, logo após a morte da rainha dona Isabel, em 1336. O objectivo principal
deste livro seria a exaltação da santidade de dona Isabel, pois a narração do
seu percurso cristão encontra-se subordinado à Imitatio Christi. Talvez devido ao facto de dona Beatriz ter
vindo moça para Portugal e ter sido criada pelo rei Dinis I e esta rainha dona Isabel
segundo cumpria de se fazer em criança de filha de rei, surgem aí algumas referências
a esta infanta. A primeira delas está relacionada com a glorificação da sua linhagem
e com o seu casamento com o infante Afonso, mas a grande maioria das passagens
que lhe são consagradas enaltecem a fé e o exemplo religioso que dona Beatriz
também constituía e referem a infanta sempre junto de sua sogra: jazendo a rainha
[dona Isabel] em sua cama, a rainha dona Beatriz sendo cerca da cama (…)».In Vanda
Lisa L. Menino, A Rainha D. Beatriz e a sua Casa (1293-1359), Tese de
Doutoramento em História, Universidade Nova de Lisboa, FCSHumanas, 2012,
Wikipedia.
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