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Navegar
é Preciso
«Navegadores
antigos tinham uma frase gloriosa:
Navegar
é preciso; viver não é preciso.
Quero
para mim o espírito [d]esta frase,
transformada
a forma para a casar como eu sou:
Viver
não é necessário; o que é necessário é criar.
Não
conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só
quero torná-la grande,
ainda
que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só
quero torná-la de toda a humanidade;
ainda
que para isso tenha de a perder como minha.
Cada
vez mais assim penso.
Cada
vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o
propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a
evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa
Raça».
Tudo
quanto penso
«Tudo
quanto penso,
Tudo
quanto sou
É um
deserto imenso
Onde
nem eu estou.
Extensão
parada
Sem
nada a estar ali,
Areia
peneirada
Vou
dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi».
Vendaval
«Ó
vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não
achas, soprando por tanta solidão,
Deserto,
penhasco, coval mais vazio
Que o
meu coração!
Indómita
praia, que a raiva do oceano
Faz
louco lugar, caverna sem fim,
Não são
tão deixados do alegre e do humano
Como a
alma que há em mim!
Mas
dura planície, praia atra em fereza,
Só têm
a tristeza que a gente lhes vê
E nisto
que em mim é vácuo e tristeza
É o
visto o que vê.
Ah,
mágoa de ter consciência da vida!
Tu,
vento do norte, teimoso, iracundo,
Que
rasgas os robles, teu pulso divida
Minh'alma
do mundo!
Ah, se,
como levas as folhas e a areia,
A alma
que tenho pudesses levar
Fosse
pr'onde fosse, pra longe da ideia
De eu
ter que pensar!
Abismo
da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo
do caos que parece volver
Porque
é que não entras no meu pensamento
Para
ele morrer?
Horror
de ser sempre com vida a consciência!
Horror
de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me,
é vento; do chão da existência,
De ser
um lugar!
E, pela
alta noite que fazes mais'scura,
Pelo
caos furioso que crias no mundo,
Dissolve
em areia esta minha amargura,
Meu
tédio profundo.
E
contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados
daqueles que têm razão,
Atira,
já pária desfeito dos ares,
O meu
coração!
Meu
coração triste, meu coração ermo,
Tornado
a substância dispersa e negada
Do
vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!»
[…]
Poemas
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