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A
meu irmão
[…]
«Em ambiente de amor
desabrocharam
Na infância as flores da
existência minha.
Amor de pai, de mãe, de irmãos,
douraram
A amena senda, que ante mim eu
tinha.
E depois...ai, irmão!Que acerbas
dores
Juntos
sofremos! Murchas, ressequidas,
Desfolharam-se as mais viçosas
flores,
Ceifou a dura morte aquelas
vidas.
O belo céu, que nos sorriu na
infância,
Em breve se mostrou turbado e
triste;
A terna mãe pedira a outra
estância
A paz, que neste mundo não
existe.
E ai daquele, que no alvor da
vida
Perdeu p’ra sempre maternais
afagos,
Ai, que bem cedo a vê ser
consumida
Por mil anelos, mil desejos
vagos.
Ai, bem cedo o sentimos!
Separados
Do sol que a infância em luz nos
envolvia,
Quais estioladas plantas,
assombrados,
A fronte inda infantil, já nos
pendia.
E assim viveste! E quando a idade
ardente
De mil aspirações te enchia o
peito,
Olhaste, e vendo a isolação
somente,
Cansado, te deitaste em frio
leito.
E eu, em vão no ataúde me
curvava,
Em vão hei procurado a tua campa;
A morte de mistérios te falava,
Mas nos lábios do morto o dedo
estampa.
Em vão te perguntei: nessa morada
Outros fúlgidos sonhos imaginas?
Ao sair da vida deparaste o nada?
Ou acordaste em regiões divinas?
Mudo ficaste. Os ventos perpassaram,
Soltando queixas no volver das
folhas,
E teus lábios imóveis não
falaram,
Nem sequer o irmão saudoso olhas.
Meu Deus! Permite que através da
lousa
Possa ele ouvir a minha voz
ainda,
E desse leito, onde afinal
repousa,
Me diga: a vida neste pó não
finda;
Me
diga: A crença que na leda infância
Aprendemos da mãe é verdadeira;
Há outra vida, há uma outra
estância,
Tão feliz, quanto esta é
passageira;
Que se encontram os entes mais
queridos,
E em eterno amplexo a Deus se
humilham;
Que os prazeres em sonhos
concebidos
Só há no espaço onde as estrelas
brilham».
[…]
In
Júlio Dinis (Joaquim Guilherme Gomes Coelho), Poesias, 1859, Publicações Europa-América, 2010, ISBN 978-972-104-585-9.
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