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de wikipedia e jdact
Leonor
e Federico III da Alemanha
«Na
narratividade deste nosso texto, uma história de caso. Mas de um caso que, na
sua densidade, condensa facetas múltiplas do individual e colectivo,
afigurando-se pertinente resgatá-lo do passado para a memória do presente. Ouçamos
as palavras de uma crónica. A pena é do cronista régio Rui de Pina:
... despois de vistos e
examinados os contratos do dito casamento, e assy os poderes que traziam (os
procuradores) pera o fazer, o recebimento antre a Emperatriz e o Procurador do
Emperador se ordenou de fazer, e fez sollenemente per pallavras de presente nos
paços do Duque, que sam junto com Sam Cristovam a hum Domyngo IX, dias d'Agosto
de mil e quatrocentos cinquenta e hum, ao qual foram El Rey, e o Yfante Dom
Fernando seu Irmaaõ, e ho Ifante Dom Anrrique seu Tio, e Condes e Perlados e
muytos Senhores, e assy foy a Raynha com a Yfante Dona Joana, e com muitas
outras donas e donzellas de grande condyçam.
Contemplemos agora as formas e
personagens de um fresco da catedral de Siena.
O pintor é Pintorrichio:
e
eis que deparamos, sob o pano de fundo urbano de uma cidade, uma centralidade média
demarcada por um símbolo. Trata-se de um padrão, onde se inscrevem os escudos
de Portugal e da Alemanha. Para então nos aproximarmos de um primeiro plano
axializado sobre um homem com as insígnias de Imperador e uma bem ataviada
senhora, enquadrados ambos pelos seus ricos e vistosos séquitos de cavaleiros e
donzelas, os quais, com alguma presteza da parte do homem e um grande encanto e
recato por parte da mulher, procedem à immixtum manum, na presença santificadora de um alto
dignitário da Igreja, uma figura de bispo. E assim, pela escrita e pela imagem,
desenha-se perante nós, no primeiro quadro, o casamento por palavras de
presente da infanta dona Leonor de Portugal com o procurador do imperador
Frederico III, em Lisboa, a 9 de Agosto de 1451, e, no segundo, o primeiro
encontro, ao vivo, dos esposos, na cidade de Siena, onde Frederico III,
acompanhado do seu irmão, o duque Alberto, e do seu sobrinho, o pequeno
Ladislau, se apressa a ractificar a união, agora com o entrelaçar das mãos
direitas, e com o assentimento espiritual de Eneas Sílvio Piccolomini, prelado
de Siena. Dois passos do consórcio entre a filha do rei Duarte e de dona Leonor
de Aragão e o imperador da Alemanha Frederico III, que será a estirpe fundadora
da casa dos Habsburgo de onde, a partir de Maximiliano I, descenderão todos os
membros da família imperial da Austria-Hungria, como o grande imperador Carlos
V, que também acabará por casar com uma infanta portuguesa. Na realidade, a
dimensão política do matrimónio da princesa portuguesa com o imperador alemão
pode bem aferir-se pelas numerosíssimas fontes, documentais, literárias e
iconográficas, sobre ele produzidas, que, felizmente, até nós chegaram. Por
certo nenhuma união da família real portuguesa ficou tão bem documentada, prova
cabal do seu magno significado». In Maria Helena Cruz Coelho, A Política
Matrimonial da dinastia de Avis, Leonor e Federico III da Alemanha, Faculdade
de Letras, Universidade de Coimbra, Revista Portuguesa de História, XXXVI,
2002-2003, Wikipedia.
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