quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Maria Manuel Cid: A Poetisa da Chamusca. A Querida «Mimela» de voz terna e afável. Quando morrer rosas brancas para mim ninguém as corte, se não as tive na vida, para que as quero na morte?

Cortesia de antonioribeirotelles

As velas do Altar não deram Luz
No branco imaculado d'açucenas
Eu vejo o negro manto que me envolve
E para mim os sonhos são apenas
Enganos que a certeza não resolve.

Até no próprio bem eu alcancei
A forma de fazer o que não espero
E parto a descobrir o que não sei,
Ficando a conhecer o que não quero.

Tentei, então, rezar porque supus
Sentir o meu sentir o que perdeu;
As velas do altar não deram luz
E a porta do sacrário emudeceu.

E torno à vastidão desconhecida
D'alguém que já não crê, que já não sabe;
Minha alma fica assim como despida
Da graça de pedir o que lhe cabe...
Maria Manuel Cid, «In Poemas»

Recordações
Tenho um Cristo de madeira
Num oratório de pau-santo
E na minha cabeceira
Nossa Senhora do Pranto.

Numa jarra conservei
Um raminho encantador
Que tu me deste e guardei
Aos Pés de Nosso Senhor.

E na Parede caiada
A guitarra de Lisboa,
Uma estampa de caçada
E dois quadros de Malhoa.

Na mesma moldura guardo,
Ao lado de minha Mãe,
A letra deste meu fado
E o teu retrato também.

E no coração que abraça
A tristeza que Deus quis,
Por atavismo da raça,
Os males do meu País...
Maria Manuel Cid, «In Poemas» 
 
  Talvez que eu parta chorando
Da terra que me criou,
Ou então de quando em quando
Minh'alma volte cantando
Na voz de quem me cantou...

Cortesia de Poemas, Obra Completa de Maria Manuel Cid, Autoria de Maria Manuel Cid, MG Editores, Edição de Maio de 1999, ISBN 972-8471-19-X.
Obra adquirida em 1 de Junho de 2000.
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