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Prólogo.
6 anos antes
«Coisa
que eu mais gostava na vida era quando minha irmã ligava para mim. Para uma
garota de 15 anos que morava no interior do Rio de Janeiro e que era desprezada
pelos pais, aqueles telefonemas mostravam que para alguém eu era importante. E
confiava no que minha irmã de dezanove anos dizia, que um dia viria buscar-me
para morar com ela. Monalisa! Exclamei, feliz da vida, atendendo o telefone
móvel barato que ela me dera de presente para poder conversar e matar a
saudade. Matar! A voz saiu abafada, arfante, com um pavor tão grande que fiquei
imóvel, sentindo que havia algo errado. Lisa? Ajude-me... Polícia... Ele vai
... Havia barulho ao fundo e parecia correr, respiração pesada, o pânico
evidente. O que está acontecendo? Lisa? Monalisa? Eu andava pelo quintal da
casa, com o coração acelarado. Escute, Dani... Ele ..., com raiva... Escolhi o
outro... O que amo... Me separar... Chorava, desesperada, numa ligação ruim e
picotada. Chame... Polícia... Praia... Ele vai-me matar! Calma, que praia? Quem
vai te matar? Lisa, pelo amor de Deus! Amo-o... outro me ama... Socorro! Quer separar-me...
dele... A ligação ficou muda. Comecei a gritar: não! Ai, meu Deus! Não! Não!
O
preparo de uma vingança. Dias actuais
Eu
tinha um quarto no meu apartamento só dedicado a eles. Algumas pessoas, se
vissem as fotos colocadas no painel na parede, as anotações sobre a mesa e as
filmagens, diriam que eu era completamente obcecada. E não estariam erradas.
Era mesmo. Mas agora, que finalmente tudo estava preparado e que entraria no
mundo deles, devia ter mais cuidado com tudo aquilo. Se os meus planos
funcionassem, talvez até me visitassem em casa. E nunca poderiam ver aquilo.
Mesmo deixando o quarto trancado, seria um risco. Assim, comecei a guardar em
caixas de madeiras compradas para aquela finalidade e depois as fechei com
cadeado e pus dentro de armários. Quanto mais dificultasse, melhor. De qualquer
forma, já sabia de cor tudo que havia ali. Eram anos de pesquisas e
investigações sobre os sócios e melhores amigos: David Tabasco e Gabriel
Campanari. Eu olhei-me no espelho, preparada para conhecê-los pessoalmente.
Seria a primeira vez a ser apresentada oficialmente a ambos. E embora soubesse
tudo sobre eles, estava nervosa. Pois finalmente ia começar. Alguns poderiam
dizer que era justiça. Mas eu sabia que era vingança. Um dos dois era o
assassino da minha irmã e eu descobriria. Não para entregá-lo à polícia e saber
que logo estaria nas ruas, principalmente pelo facto de ter dinheiro. Não. Eu o
mataria. Por maldição ou simplesmente genética, tanto eu quanto minha irmã fomos
presenteadas com uma beleza de chamar a atenção. Nascemos altas, esguias, com
um corpo naturalmente bem feito e longos cabelos ruivos. Aí acabavam as
semelhanças. Ela tivera sardas e olhos castanhos. Minha pele era branca, sem
nenhuma marca. E meus olhos esverdeados. Como sabia que nossos cabelos eram
idênticos, eu os pintei de negros. Agora essa era minha cor. Afinal, não podiam
sequer desconfiar que eu tinha algum parentesco com Monalisa. Apesar de ter
apenas vinte e um anos, eu era madura e decidida. Inteligente por natureza,
estudei e fiz cursos, preparando-me para aquele momento. Fui paciente. Era essa
minha maior qualidade. E naquela manhã começaria. Armei todas as peças do
xadrez. Tinha chegado a hora de movê-las. Usando um vestido azul-marinho,
sapatos de salto vermelhos e cabelos presos num chinó, eu sabia que estava ao
mesmo tempo elegante e sensual. E foi assim que saí do meu apartamento e segui,
com meu carro, para a sede do escritório da agência de viagens Campanari
&Tabasco, em Ipanema. Há meses eu procurava uma brecha para poder conseguir
trabalhar lá. Mas não podia ter qualquer cargo. Tinha que ser um que me pusesse
em contacto directo com os dois donos. Então a oportunidade apareceu. Fátima, a
secretária particular deles, ficou grávida. Quando eu soube, entendi que ela
precisaria se afastar para ter o bebé e entrar de licença maternidade. Alguém
teria que entrar temporariamente no lugar dela. Só podia ser eu. Mas depender
de uma entrevista e de ser escolhida seria arriscar muito. Então armei o meu
plano. E deu certo. Sabia que Fátima sempre almoçava no mesmo lugar. Comecei a
frequentá-lo no mesmo horário. Um dia esbarrei nela e puxei assunto. No outro,
sentei à sua mesa. No terceiro já conversava com ela. E quando viu, já era
minha amiga. Contei que procurava emprego, falei de minhas capacidades, da
dificuldade de conseguir algo bom. Fui pondo a sementinha aos poucos, até que ela
teve a brilhante ideia de me indicar para substituí-la com seus patrões, quando
precisasse afastar-se. E lá estava indo eu para a entrevista definitiva com
ambos, já que na semana seguinte Fátima já entraria de licença». In Nana
Pauvolih, A Sombra da Luz, Wikipédia.
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