Cortesia de wikipedia e jdact
«A tese tem como fulcro o estudo do grupo
ligado à administração municipal da cidade de Évora, no período compreendido
entre 1367-1433. Procurou-se caracterizar socialmente esse grupo e analisar as
suas estratégias de manutenção e de reprodução do poder, avaliando-se, em
paralelo, o peso e a importância que o controlo dos cargos municipais assumia
nas suas lógicas de afirmação, no contexto da cronologia escolhida. O trabalho
em causa pretende, assim, ser um contributo para o aprofundamento do tema das
oligarquias municipais portuguesas na Idade Média, as quais continuam, ainda, a
ser pouco conhecidas, apesar dos estudos já existentes. De facto, os dirigentes
municipais ficaram um pouco à margem do surto prosopográfico que, nas últimas décadas, foi revelando
os quadros sociológicos das instituições. Esse tipo de estudos centrou-se,
sobretudo, no Desembargo Régio e nas instituições religiosas, só lateralmente
chegando às administrações municipais. Com efeito, para além do estudo de
Adelaide Costa sobre as vereações e os vereadores do Porto e do trabalho de
Mário Farelo sobre a oligarquia concelhia de Lisboa, existem apenas artigos
pontuais sobre os dirigentes de alguns municípios, como é o caso de Loulé,
Ponte de Lima, Vila do Conde e outros, assim como referências genéricas à
administração municipal em estudos monográficos sobre vilas e cidades. Muito
falta ainda saber sobre as realidades sociológicas das administrações
concelhias concretas, para o período medieval. Não se estranha, por isso, que
seja ainda hoje difícil levar a cabo estudos comparativos sobre os grupos
dirigentes municipais para a realidade portuguesa. As razões que justificam um
tal estado de coisas serão, decerto, de natureza diversa, mas não deixam de se
prender com as próprias características da documentação municipal que chegou
até nós. Como se sabe, esta é, de um modo geral, bastante fragmentada e muito
dispersa, tornando difícil acompanhar percursos e reconstituir os grupos
dirigentes, sendo que, em muitos casos, a informação disponível nem sequer
permite identificar os elencos camarários com níveis mínimos de
sequencialidade.
Muito embora nos tivéssemos debatido com o
mesmo tipo de problemas, a documentação eborense, pelo seu volume e qualidade,
permitiu-nos equacionar a possibilidade de levar por diante um estudo desta
natureza. Para além da riqueza dos arquivos das diversas instituições da
cidade, onde foi possível recolher dados preciosos sobre os homens e as
famílias ligadas à governação, Évora possui uma documentação municipal de algum
significado, que conta com fontes de inegável valor. É o caso, nomeadamente, d´O
Livro das Posturas Antigas,
que, apesar dos múltiplos problemas de datação que coloca, nos deixa imensa
informação sobre o que podemos designar de poder municipal em exercício, dos
inventários do arquivo e dos bens municipais, bem como do Regimento da cidade de Évora. Este é um documento único para o
panorama nacional, em que se sistematizam os cargos e as funções e se traça um
quadro de situação da administração municipal da cidade num dado momento. Muito
embora a informação que chegou até nós esteja longe daquela que gostaríamos de
ter, o aproveitamento exaustivo dos dados e a sua sistematização, a partir dos
métodos prosopográficos, tornou possível realizar uma caraterização sociológica
minimamente consistente do grupo que dirigiu os destinos eborenses. Importa
vincar que o estudo beneficiou também do facto de a realidade da cidade e das
suas instituições ser, hoje, relativamente bem conhecida, fruto da diversidade
e da qualidade dos estudos que se têm debruçado sobre a urbe no período
medieval. Entre outros, importa destacar, pela importância que assumiram para o
nosso estudo, os trabalhos de Ângela Beirante, a quem se deve o estudo de fundo
sobre a cidade nos tempos medievos, complementado com uma multiplicidade de
artigos de grande interesse. De relevo, para a problemática em causa, são
também os trabalhos de Hermínia Vilar, historiadora que se debruçou sobre a
diocese eborense e o seu quadro humano, na sua dissertação de doutoramento, que
teve, para nós, grande utilidade pela interligação que existia entre as elites
municipais e as eclesiásticas. Esta autora tem vindo também a fazer múltiplas
reflexões sobre as elites locais eborenses em comunicações e artigos que são
incontornáveis quando abordamos as questões relativas aos dirigentes municipais
da cidade. Aos estudos já referidos, podemos acrescentar a tese de doutoramento
de Filipa Roldão sobre o arquivo municipal de Évora e as suas formas de
organização. É justo referir, ainda, a importância que o Projeto Elites
locais e redes clientelares, desenvolvido pelo CIDEHUS-UÉ, no início deste
século, assumiu, quer na definição dos conceitos e das problemáticas relativos
ao estudo das elites locais, quer no afinar das metodologias mais adequadas
para levar a bom porto investigações que são, pela natureza do seu objeto, algo
fugidias e complexas». In Joaquim Bastos Serra, Governar a cidade e
servir o rei. A oligarquia concelhia de Évora em tempos medievais (1367-1433),
Tese de Doutoramento em História, Universidade de Évora, IEM,
Revista Medievalista, Nº 20, 2016, ISSN 1646-740X.
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