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«(…)
No centro de Fedora, metrópole de pedra cinzenta, está um palácio de metal com
uma esfera de vidro em cada sala. Olhando para dentro de cada esfera vê-se uma
cidade azul-clara que é o modelo de outra Fedora. São as formas que a cidade poderia
ter tomado se não se tivesse tornado, por uma razão ou por outra, como hoje a vemos. Em
todas as épocas alguém, vendo Fedora tal como era, imaginara o modo de fazer
dela a cidade ideal, mas enquanto construía o seu modelo em miniatura já Fedora
não era a mesma de antes, e o que até ontem havia sido um seu possível futuro agora
era apenas um brinquedo dentro de uma esfera de vidro.
Fedora
tem agora no palácio das esferas o seu museu: todos os habitantes o visitam, escolhem
a cidade que corresponde aos seus desejos, contemplam-na imaginando refletir-se
no viveiro das medusas que deveria captar as águas do canal (se não o tivessem secado),
percorrer do alto do baldaquim a avenida reservada aos elefantes (agora banidos
da cidade), deslizar ao longo da espiral do minarete em caracol (que nunca
encontrou a base onde o edificariam).
No
mapa do teu império, ó grande Kan, devem encontrar lugar tanto a grande Fedora de
pedra como as pequenas Fedoras nas esferas de vidro. Não por serem todas igualmente
reais, mas por serem todas só presumíveis. Uma encerra o que é aceite como necessário
enquanto não o é ainda; as outras o que é imaginado como possível e no minuto a
seguir já não o é». In Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, 1990,
Editorial Teorema, Lisboa, 2003, Leya, Publicações don Quixote, 2015, ISBN
978-972-206-037-0.
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