domingo, 4 de junho de 2017

Poesia. Álvares Azevedo. «Aos ais do meu coração! E que noite! Que luar! Como a brisa a soluçar se desmaiava de amor!»

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«Era de noite: dormias,

Do sonho nas melodias,

Ao fresco da viração,

Embalada na falua,

Ao frio clarão da lua,

Aos ais do meu coração!

Ah! que véu de palidez

Da langue face na tez!

Como teus seios revoltos

Te palpitavam sonhando!

Como eu cismava beijando

Teus negros cabelos soltos!

Sonhavas? - eu não dormia;

A minh'alma se embebia

Em tua alma pensativa!

E tremias, bela amante,

A meus beijos, semelhante

Às folhas da sensitivas!

E que noite! que luar!

E que ardentias no mar!

E que perfumes no vento!

Que vida que se bebia

Na noite que parecia

Suspirar de sentimento!

Minha rola, ó minha flor,

Ó madresilva de amor,

Como eras saudosa então!

Como pálida sorrias

E no meu peito dormias

Aos ais do meu coração!

E que noite! que luar!

Como a brisa a soluçar

Se desmaiava de amor!






Como toda evaporava

Perfumes que respirava

Nas laranjeiras em flor!

Suspiravas? que suspiro!

Ai que ainda me deliro

Entrevendo a imagem tua

Ao fresco da viração,

Aos ais do meu coração,

Embalada na falua!

Como virgem que desmaia,

Dormia a onda na praia!

Tua alma de sonhos cheia

Era tão pura, dormente,

Como a vaga transparente

Sobre seu leito de areia!

Era de noite - dormias,

Do sonho nas melodias,

Ao fresco da viração;

Embalada na falua,

Ao frio clarão da lua,

Aos ais do meu coração».

Poema de Álvares Azevedo, in ‘Lira dos Vinte anos


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