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Aspectos
da Vida Bizantina. Povos e Línguas
«(…) Situadas a leste da Capadócia,
e abrindo caminho a uma série de cadeias montanhosas, encontram-se algumas
províncias arménias que haviam sido anexadas ao Império em 387 d.C., quando o
reino arménio se repartia entre a Pérsia e Roma. Estas províncias eram
estrategicamente muito importantes, mas praticamente intocadas pela civilização
greco-romana, pelo que continuaram a ser governadas pelos sátrapas nativos até
Justiniano lhes impor uma nova forma de administração militar. No século V, os
Arménios adquiriram o seu próprio alfabeto e começaram a construir uma
literatura à base de traduções do grego e do sírio, fortalecendo o sentimento
de identidade nacional. De facto, os Arménios, que desempenharam um papel
crucial na história de Bizâncio, revelaram-se bastante resistentes à
assimilação, tal como os outros povos caucasianos.
A fronteira entre a Arménia e a
Mesopotâmia correspondia, aproximadamente, ao rio Tigre. Três séculos de
ocupação da Pártia (desde meados do século II a.C. até à conquista romana cerca
de 165 d.C.) apagaram praticamente todos os traços de helenização da
Mesopotâmia, que os reis da Macedónia tanto haviam querido impor. A forma
literária síria usava o dialecto de Edessa (Urfa), sendo nessa cidade abençoada,
assim como em Amida (Diyarbakir), Nísibis (Nusaybin) e em Tur Abdin, que um vigoroso
movimento monástico de crença monofisita alimentava o cultivo dessa língua. A
Mesopotâmia era uma região fronteiriça: a fronteira entre Roma e a Pérsia
apresenta uma curta distância a sueste da cidade-guarnição de Dara, enquanto
Nísibis havia sido ingloriamente cedida aos Persas pelo imperador Joviano em
363. A separação cultural da Mesopotâmia certamente não ajudou o governo
imperial, essencialmente por se tratar de uma área sensível.
O domínio dos dialectos
aramaicos, a que pertence o sírio, estendia-se através da Síria e da Palestina
até aos confins do Egipto. Aqui testemunhamos um fenómeno de considerável
interesse. Quando os reinos helénicos se estabeleceram, a seguir à morte de
Alexandre, o Grande, a Síria estava dividida entre os Ptolomeus e os
Selêucidas. Os Ptolomeus, que obtiveram a metade do país a sul, pouco fizeram
para estabelecer ali as colónias gregas. Pelo contrário, os Selêucidas, para
quem o Norte da Síria tinha uma importância crucial, levaram a cabo uma
colonização intensiva. Colonizaram algumas cidades novas, tais como Antioquia Orontes,
Apameia. Selêucia e Laodiceia, introduzindo um elemento grego nas cidades
existentes, tais como Alepo. A partir dessa altura, toda a
Síria permaneceu continuamente sob uma administração de língua grega. No
entanto, cerca de nove séculos mais tarde, a língua grega não está confinada apenas
às cidades, mas alargada às mesmas cidades que haviam sido fundadas pelos reis
helénicos. O campo, em geral, e as cidades que não eram de origem grega, como
Emesa (Homs), mantiveram-se fiéis à sua língua autóctone, o aramaico.
É pouco provável que o uso do
grego tivesse sido mais divulgado na Palestina do que foi no Norte da Síria,
excepto em relação a um fenómeno artificial, nomeadamente, o desenvolvimento
dos locais sagrados. A começar pelo reino de Constantino, o Grande,
praticamente todos os lugares com fama bíblica se tornaram, como diríamos hoje,
numa atracção turística. As pessoas vinham em grande número para a Palestina,
oriundas de todos os cantos do mundo cristão: alguns como peregrinos em
trânsito, outros procurando uma permanência mais duradoura. Mosteiros de todas as
nacionalidades emergiram como cogumelos no deserto ao lado do mar Morto. A Palestina
era assim uma babel de línguas, mas a população autóctone, e devemo-nos lembrar
que esta incluía dois grupos étnicos distintos, nomeadamente, os Judeus e os
Samaritanos, falava aramaico, como sempre o fizera». In Cyril Mango, Bizâncio, O
Império da Nova Roma, 1980, Edições 70, 2008, ISBN 978-972-441-492-8.
Cortesia de E70/JDACT