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No reino de Leão
«(…) Porém, os poderes cristãos
reconheceram progressivamente a utilidade económica da minoria judaica. Judeus imigrados,
cujos nomes árabes indicam a sua origem andaluza, são atestados desde o começo do
século X na cidade e no reino de Leão. Tratava-se, na maior parte, de artesãos
que trabalhavam o ouro, a prata, o cobre, o couro e a seda, segundo as técnicas
desenvolvidas nos reinos muçulmanos da Andaluzia e da África do Norte. Outros importavam
produtos de luxo provenientes desses países. Preenchiam também uma importante função
de mediadores nas relações diplomáticas da época. Em 950, encontramos a primeira
menção ao arrabalde judaico de Coimbra, explorando os seus habitantes vinhas e outros
prédios rústicos suburbanos. Em 1018, os arquivos do capítulo de Coimbra mencionam
um Crescente Hebreo, que assina como testemunha em dois actos: trata-se do
primeiro judeu do território português que conhecemos pelo seu nome (traduzido
do hebraico Tsemah). Em 1145, uma ordenação do concelho municipal impõe regras aos
mercadores, tanto cristãos como judeus, que praticam o comércio de couros.
Nessa época, quando Coimbra era a
capital de Portugal, o bairro judaico situava-se em São Martinho do Bispo, do outo
lado do Mondego. Num documento de 1156 menciona-se ali uma via que vadit ad sinagogam.
Parece que a escolha dos nomes e a liturgia de Coimbra se deixaram por vezes inspirar
pela civilização da minoria. Apesar do conflito peninsular, os três grupos
religiosos parecem ter desenvolvido, mesmo no quotidiano, relações de convivência.
Sabemos, com efeito, que os judeus tinham o costume de convidar os seus vizinhos
para o Shabbat e que certos cristãos se lhes juntavam de bom grado. Em 1050, o concílio
de Coiança teve de relembrar que a presença nas orações de Vésperas, ao sábado,
era obrigatória, e que -nenhum cristão ou cristã ouse ficar a banquetear-se em casa
dos judeus.
Sob a protecção dos reis de Portugal (1147
- 1492). Geografia do judaísmo português
A partir do século XII, a geografia
do judaísmo lusitano foi profundamente afectada pela política de povoamento empreendida
pelos primeiros reis de Portugal independente, política à qual a maior parte das
colónias judaicas medievais deve a sua existência. Em Coimbra e arredores, certos
judeus cultivavam as terras do capítulo que tinham arrendado, possuindo por vezes
as suas próprias aldeias, como essa Arecheixada Iudaeorum, que é
mencionada em 1168. Os mercadores judeus cedo começaram a sulcar as montanhas».
In
Carsten L. Wilke, História dos Judeus Portugueses, 2007, Edições 70, 2009, ISBN
978-972-441-578-9.
Cortesia de E70/JDACT