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«De tanta inspiração e tanta vida
Que os nervos convulsivos
inflamava
E ardia sem conforto…
O que resta? Uma sombra
esvaecida,
Um triste que sem mãe
agonizava...
Resta um poeta morto!
Morrer! E resvalar na sepultura,
Frias na fronte as ilusões, no
peito
Quebrado o coração!
Nem saudades levar da vida impura
Onde arquejou de fome... Sem um
leito!
Em treva e solidão!
Tu foste como o sol; tu parecias
Ter na aurora da vida a
eternidade
Na larga fronte escrita…
Porém não voltarás como surgias!
Apagou-se teu sol da mocidade
N’uma treva maldita!
Tua estrela mentiu. E do fadário
De tua vida a página primeira
Na tumba se rasgou...
Pobre génio de Deus, nem um
sudário!
Nem túmulo nem cruz! Como a
caveira
Que
um lobo devorou!...»
Poema
de Álvares Azevedo, in ‘Poemas
irónicos, venenosos…’
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