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«(…) Finalmente satisfeito por poder
prosseguir a sua prática como psicólogo, mas agora disposto a empregar delegados
sexuais quando se tornasse necessário, ansiava por aplicar o prometedor tratamento.
Miriam adoeceu, devido a redução da capacidade pulmonar, que acabou por ser diagnosticada,
como uma condição bronquial grave, e o médico assistente, secundado, por um especialista,
recomendou a transferência imediata para o Arizona. Freeberg não hesitou em encerrar
a clínica em Nova Iorque e abri-la em Tucson, em resultado do que Miriam melhorou
satisfatoriamente, enquanto, a actividade profissional do marido conhecia um ponto
morto. Com efeito, a utilização de delegados sexuais era rigorosamente proibida
no Arizona.
Embora em breve estabelecesse nova
clientela, o tratamento psicológico que administrava não se revelava, mais uma vez,
inteiramente eficiente com pacientes, que sofressem de disfunções sexuais graves.
Desesperado, decidiu jogar uma cartada e, em segredo, treinou e, a seguir, contratou
como empregada uma delegada sexual para utilizar sem o conhecimento das autoridades.
E, depois de os cinco pacientes que sofriam de disfunções sexuais se terem curado
por completo, conheceu a verdadeira satisfação profissional. Para, agora, de repente,
naquela noite, lhe ser arrebatada a ferramenta responsável pelo seu êxito. Na realidade,
fora algemado e entregue à lei, indefeso.
Parecia não existir qualquer alternativa
além de tornar a ser um terapeuta de conversa limitado e, com frequência,
ineficiente. Poderia continuar a ganhar a vida em Tucson, mas achava-se impossibilitado
de voltar a curar. Era uma situação inconcebível, mas não se lhe podia esquivar.
De repente, porém, acudiu-lhe a ideia de que talvez existisse uma solução. Uma
possibilidade ténue, mas concreta. Antes de mais, necessitava de efectuar dois telefonemas.
E de sorte. Por fim, ergueu os olhos da comida em que quase não tinha tocado e impeliu
a cadeira para trás. Miriam, Jonny, proferiu, levantando-se, por que não se entretêm
com a televisão (creio que há um espectáculo de circo, num dos canais), enquanto
faço duas chamadas importantes? Espero não me demorar.
Fechou a porta do escritório, sentou-se
à secretária e pegou no telefone, para marcar o número do médico da esposa em Tucson.
Queria fazer-lhe uma pergunta e escutou a resposta atentamente. Em seguida, ligou
ao velho amigo e outrora companheiro de quarto na Universidade de Colúmbia, Roger
Kile, advogado, em Los Angeles, Califórnia. Estava esperançado em que se encontrasse
em casa e verificou com alívio que não se equivocara. Após ultrapassar rapidamente
o preâmbulo destinado às formalidades usuais, Freeberg entrou no assunto. Estou
em apuros, Roger, anunciou, incapaz de dissimular a ansiedade na voz. E dos grandes.
Querem correr comigo daqui. Que estás para aí a dizer?, replicou Kile, claramente
confuso. Quem? A Polícia? Sim e, não. Ou melhor, não. É o procurador da cidade e
o seu gabinete. Querem que cesse a actividade profissional. Não acredito! Mas porquê?
Cometeste alguma infracção à lei? Há um crime envolvido?
Bem...
Freeberg hesitou. Aos olhos deles, talvez. Fez uma pausa e acrescentou de um fôlego:
eu utilizo uma delegada sexual. Uma delegada sexual? Expliquei-te de que se trata,
não te recordas? Creio que me passou… Kile interrompeu-se, nitidamente perplexo.
Sabes o que é um, delegado, volveu o médico, esforçando-se por conter a impaciência.
Uma pessoa nomeada ou contratada por outra para a representar. Um substituto.
Mais concretamente, um delegado é um substituto. Em tom mais enfático, prosseguiu:
assim, um delegado sexual é um substituto de parceiro para o acto sexual, em
regra para com um homem solitário, que não dispõe de uma esposa ou amiga colaboradora,
sofre de uma disfunção sexual, tem um problema dessa natureza, pelo que recorre
a uma parceira para o auxiliar, uma mulher instruída por um, terapeuta do sexo.
A equipa constituída por Masters e Johnson iniciou a prática em São Luís, em 1958...»
In Irving Wallace, O Leito Celestial, 1987, Livros do Brasil, colecção Dois
Mundos, nº 166, Lisboa, ISBN 978-972-380-576-5.
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