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NOTA: De acordo com o original
Biografia
«[…] O publico é que não
estava satisfeito. Habituado a ver manifestar na imprensa periódica as primicias
de todos os engenhos, admirava-se de não encontrar ali o nome do sr. Latino Coelho; invejava a fortuna da
Escola Polytechnica, e queria que dos fructos de tão vasto engenho lhe fosse destinada
uma porção. Amiudavam os convites, mas a modéstia quasi sempre inseparável do verdadeiro
saber, ou a deliberação formal de consagrar-se inteiramente aos seus deveres de
professor, arredou por muito tempo da arena jornalística o joven tenente de
engenheiros.
O biographo da Revista
Peninsular, que, por nos parecer bem informado, seguimos n'estes apontamentos,
attribue a um padecimento nervoso, a uma melancholia entranhada e invencível a
resolução tomada pelo sr. Latino Coelho
de entrar na redacção do Farol, bem que já a esse tempo a Época
tivesse tido a fortuna de publicar algumas delicadas poesias do distincto professor.
Foi em princípios de 1849 que o sr. Latino
Coelho encetou a carreira de escriptor litterario e politico, e desde os
primeiros ensaios mostrou logo com quanta rapidez e facilidade a devia percorrer,
deixando após si muitos que de longa data o precediam. O Farol em que, se a memoria
nos não engana, collaborava o sr. António de Serpa, foi n'essa quadra um
dos periódicos mais apreciados e lidos em Lisboa e no reino.
Era então a Revolução
de Setembro o primeiro jornal politico de Lisboa não só pela qualidade dos homens que n'elle escreviam,
como pelo renome que lhe dera a lucta constante
e corajosa, em que andara por largo espaço contra o poder. O sr. Latino Coelho estreou-se n'esse jornal como
escriptor politico, e a collecção da Revolução de Setembro encerra matéria
para muitos volumes, devida á penna do nobre professor. Ali nos coube amiudadas
vezes ser testemunha da incomparável facilidade com que o sr. Latino Coelho enriquecia
as columnas d'aquelle diário, e observar a especialissima aptidão com que sabia
adornar das mais finas galas de estylo e de linguagem os assumptos mais triviais
ou mais áridos.
Não nos é possivel
seguir o joven escriptor n'esse trabalho incessante, nem julgamos necessário
recordar aos leitores cada um dos artigos de que os sabemos lembrados. Basta dizer
que foi geral o espanto ao ver que o mancebo que consagrara os seus primeiros annos
ás sciencias exactas, e que n'ellas ganhara uma após outra todas as coroas, parecia
ter passado esse tempo no estudo reflectido dos nossos melhores clássicos, a colher-lhes
todas as belezas, e a accomodal-as elegantemente ás exigências e uso do nosso
tempo.
Redactor principal da Emancipação,
collaborador da Revolução de Setembro, redactor da Semana em 1851, o sr. Latino Coelho escreveu também
na Revista
Popular e no Panorama, onde publicou a biographia
de Almeida Garrett. No Portugal Artistico deixou paginas de
incontestável importância. Ha entre ellas uma consagrada a Cintra, que é
um documento eterno da riqueza e formosura da nossa linguagem portugueza, e uma
das mais bellas producções do sr. Latino
Coelho.
No anno de 1852 publicou o sr. Senibaldo de Mas,
antigo embaixador de Hespanha na China, uma memoria em favor da união pacifica de
Hespanha e Portugal, e na edição portugueza coube ao sr. Latino Coelho escrever o prologo, que foi lido com ávida
curiosidade. A idéa de fazer dos dois reinos da Península uma grande nação,
devia agradar a um espirito elevado, como o do sr. Latino Coelho, nas circunstancias
politicas de então, a todos os respeitos diferentes das actuaes.
Andavam os hespanhoes mal
avindos com o seu próprio governo; prevendo uma grande revolução em Hespanha, estudavam
com affinco os meios de a dirigirem de modo que para o futuro ficassem suficientemente
asseguradas as instituições liberaes. Parecia-lhes a eles que a dynastia hespanhola
odiava a liberdade, e que antes quereria succumbir na lucta do que ceder ás reclamações
do partido liberal. Olhavam então para Portugal com virtuosa inveja do governo reformador
e livre, que n'este reino ia melhorando as instituições, aperfeiçoando a legislação,
e dissipando os ódios e rancores políticos. D'ahi brotou de novo nos animos hespanhoes
a idéa ibérica, que por impossível que fosse na pratica, era sempre uma homenagem
ao nosso bom juizo e ao progresso incontestável da nossa civilisação.
A revolução de Hespanha em 1854 reconciliou os hespanhoes com a dynastia. A rainha D. Isabel attendeu aos votos dos seus subditos com benevolencia maternal e os liberaes que tinham derramado tanto sangue para fazer triumphar a causa d'aquella princeza, esqueceram desde logo a idéa de uma mudança que não encontrava em Portugal apoio algum nas pessoas, de cujo consentimento essencialmente dependia». In Latino Coelho, Fernão de Magalhães. Escritos Literários e Políticos. Coligidos e publicados sob a direcção de Arlindo Varela, Editores Santos & Vieira, Empresa Literária Fluminense, Imprensa Portuguesa, Lisboa, 1917.
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