Vimaranenses em Mazagão
«Foi Jaime, duque de Bragança que em 29 de Agosto de 1513, desembarcou no porto de Mazagão,
próximo da cidade de Azamor, com a deliberada intenção de a conquistar,
cumprindo ordens do rei Manuel I. O
duque Jaime projectou para ali uma fortificação que albergasse dois a três mil moyos
de pãao, garantindo a V.A. que he o melhor porto do mundo. O rei
aceitou o desafio e, no ano seguinte, estava construída a fortificação que o
duque Jaime sugerira. Usufruía de uma localização ideal para os objectivos dos
Portugueses que nela permaneceram durante dois séculos e meio.
Distava a cerca de 400 quilómetros da ponta de Sagres,
constituindo uma linha avançada para reabastecimento das expedições que viriam
a suceder-se, rumo aos muitos destinos da lusitana gente. Actualmente a cidade
de Mazagão está integrada na cidade marroquina de El Jadida. Entre 1541e
1550 foram sucessivamente evacuadas algumas praças portuguesas, Santa Cruz do Cabo Gué, Azamor, Safim e
Arzila, pelo que a partir dessa data ficou Mazagão a constituir a única
cidade portuguesa na costa ocidental marroquina. Esse facto fez com que se
intensificassem as lutas movidas pelos mouros da província de Duquela.
Essas lutas prolongaram-se até à segunda metade do século XVIII, sobressaindo
sempre, com nota alta, a acção dos Portugueses. Até que em plena época pombalina se verificou o golpe fatal para a
nossa presença. Em 1769 os
maometanos cercaram a praça e o conde de Oeiras, ponderando as vantagens e os
inconvenientes da sustentação daquela última possessão norte-africana, optou
pelo abandono, dando nesse sentido instruções ao governador Dinis Melo Castro
Mendonça.
Na sequência dessa
decisão os portugueses que ali residiam, foram evacuados para Lisboa, via marítima,
o que causou grande descontentamento na maior parte das pessoas. Algumas
delas encontraram dificuldades à chegada a Lisboa. E por isso meteram-se a
caminho, atravessaram o Atlântico, em embarcações da Coroa, fixando-se na
foz do Amazonas, no Brasil, aí fundando uma cidade a que chamaram, precisamente,
Mazagão. A praça de Mazagão distava a escassos 16 quilómetros de Azamor.
Tinha 6 ha de área, rodeada pelo mar
e, na parte restante, com muros de 15
metros de altura, contra 8 de
largura. A partir do século XVII a população residente em Mazagão rondava os
dois mil habitantes, 70% dos quais pertenciam à casa real.
De Guimarães partiram para Mazagão nobres famílias
que por ali criaram raízes. No século XVII, por exemplo, saiu Manuel de
Freitas Padrão que exerceu a actividade de pintor. Mais tarde foi escrivão
e almoxarife. João Fernandes de Carvalho, nascido em Guimarães, fixou-se
em Mazagão,
em 10 de Agosto de 1698. Aí prestou
serviço militar até Outubro de 1726.
Depois de 27 anos como soldado infante, ascendeu, sucessivamente, a outros
postos militares, chegando a alferes. Em 1 de Novembro de 1726 assumiu as funções de vedor-geral,
cargo que exerceu até 31 de Dezembro de 1733,
com elevada competência. Os três anos seguintes ocupou-os como procurador do povo, que era dos
cargos mais honrosos e nobres da vila.
Pela brilhante carreira que desempenhou obteve merecê régia do ofício de comissário de mostra de Mazagão por
6 anos, vindo a ser cavaleiro professo na Ordem de Cristo. Casou duas
vezes. A primeira mulher chamou-se D. Antónia Veiga que já era viúva de um dos
mais nobres cidadãos da praça de Mazagão,
de apelido Valentes. Deste casamento houve uma filha que igualmente
casou bem, em Mazagão. O segundo casamento aconteceu com D. Maria da Cunha, filha
do alcaide-mor Luís de Loureiro Abreu, oriundo da nobreza do tempo.
Deste segundo matrimónio nasceram 4 filhas e 2 filhos. Os rapazes chamaram-se Luís
de Loureiro Abreu Carvalho e António de Freitas Padrão. Sabe-se,
segundo Augusto Ferreira do Amaral nos conta num estudo que foi
publicado no III volume das Actas do Congresso Histórico (1978), que o filho Luís serviu nas
forças armadas de Mazagão, desde 16
de Janeiro de 1744 até 1755,
ocupando, sucessivamente, os postos de soldado infante, cavaleiro,
espingardeiro, tenente e capitão da guarda dos apartados. Seguiu o exemplo do
pai casando 2 vezes e teve 2 filhos: Domingos Vaz Pinho e João Luís Loureiro
Abreu». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do
Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.
Cortesia de Guimarães/JDACT