segunda-feira, 6 de abril de 2015

A Favorita do rei Dinis. Vataça. Francisco do Ó Pacheco. «… a princesa bizantina aia da rainha dona Constança na corte de Castela, recebia no palácio real de Toledo um mensageiro desconhecido, vindo de Barcelona, enviado por sua irmã Beatriz»

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«(…) Das tais guerras que começam sem se saber bem porquê, mas que acabam quase sempre bem mal para os contendores. Alguns anos antes, Sancho IV de Castela mandara invadir o Algarve e outros lugares de Portugal, na raia da Beira. Pequenas acções de guerrilha em zonas de fronteira, coisas de pouca monta e para as quais o rei de Portugal já estava avisado. Mas a atitude militar mais grave, pela parte de Sancho, fora o envio de uma esquadra a partir de Sevilha, que penetrando na foz do rio Tejo apresou várias naus portuguesas, no ancoradouro do Restelo. Essa foi uma provocação e uma agressão intoleráveis para o rei português. A resposta de Dinis I foi a invasão do território de Castela, de Cidade Rodrigo a Valadolid e a Medina del Campo. Em resposta, os castelhanos invadiram o Alentejo e Dinis voltou a novas e mais violentas agressões contra Castela. Até que, depois de longos meses de guerra e de muitas e graves destruições em ambos os reinos, a paz foi assinada em Alcanizes. Desse acordo, para o qual muito contribuiu a influência da rainha dona Isabel de Aragão, resultou a troca de muitas terras entre os dois reinos, tendo Castela recebido Arronches no Alentejo e Valença do Minho e ainda Aiamonte no Algarve. Portugal recebeu então, por força do tratado assinado em Alcanizes, Monforte, Olivença e Campo Maior e nas Beiras, Almeida, Castelo Rodrigo e Castelo Melhor. Além disso, o tratado de Alcanizes determinou ainda os casamentos de Afonso de Portugal, filho de Dinis I e de don Isabel, com Beatriz de Castela e de Fernando IV de Castela com Constança, filha dos reis de Portugal.
No rigoroso Inverno de 1304, em ventoso dia do mês de Fevereiro, Vataça Lascaris, a princesa bizantina aia da rainha dona Constança na corte de Castela, recebia no palácio real de Toledo um mensageiro desconhecido, vindo de Barcelona, enviado por sua irmã Beatriz. O jovem cavaleiro catalão, Manolo Ratia de seu nome, comunicou-lhe a enfermidade muito grave de sua mãe e entregou-lhe uma carta em que esta pedia que se deslocasse urgentemente a Barcelona pois era, dizia sua mãe, absolutamente imperioso que falasse com suas filhas e seus filhos antes de se finar se porventura fosse essa a vontade de Deus. Vataça Lascaris ficou aflitíssima. Sentiu um ligeiro estremeção no corpo, que a assustou por nunca o haver sentido anteriormente e de imediato pôs dona Constança ao corrente do sucedido. Não havia tempo a perder. Logo mais Fernando de Castela colocou à sua disposição uma guarda especial de uma dezena de homens e um dos coches reais e no dia seguinte Vataça Lascaris encetava a viagem para Barcelona de Aragão e Marca Hispânica, onde sua mãe se encontrava enferma, em casa de sua irmã Beatriz Lascaris. Alguns dias depois o coche que transportava Vataça escoltado pela guarda do rei de Castela, denunciando a presença de gente de estirpe real no seu interior, atravessava os portões das muralhas que rodeavam a cidade de Barcelona e com o cavaleiro Manolo Ratia como guia percorreram rapidamente as ruas e praças que os conduziram ao palácio onde se encontrava sua mãe, Eudóxia Lascaris. Após a praça enorme onde centenas de artesãos, pedreiros, canteiros e muitos trabalhadores braçais procedia à construção da catedral gótica de Santa Eulália ou de Santa Cruz e onde pululava um pequeno mercado de feirantes e agricultores, com as suas criações de aves a voarem por debaixo das patas dos cavalos, Manolo Ratia entrou no terreiro do palácio indicando aos soldados os estábulos para os animais e as casas onde iriam permanecer, enquanto ficassem por Barcelona. Vataça e suas aias entraram no palácio». In Francisco do Ó Pacheco, Vataça, A Favorita de Dom Dinis, Prime Books, 2013, ISBN 978-989-655-183-4.

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