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A
Mulher que Amou Jesus
«(…) Maria precipitou-se para a
rua que levava à casa de Quezia, louca para lhe contar sobre Joel. Durante
todos aqueles anos, conseguira manter em segredo a amizade com ela, embora
Silvanus soubesse, e aprovasse. As moças, que há muito tinham deixado de
brincar com os pratinhos de miniatura, haviam transferido as suas atenções para
a vida real, planeando as suas futuras casas e especulando sobre os seus
companheiros, uma brincadeira sem fim, pois nenhuma delas tinha em vista um
noivo. Quezia estava encantada com um homem rico, de Jerusalém, que morava na
zona alta da cidade e recebia muitos visitantes estrangeiros. Às vezes passava um
tempo no exterior, ocupando um posto de diplomata ou em missão comercial. Tinha
também uma casa à beira-mar. Maria, por seu lado, imaginava um soldado, de um
poderoso exército judeu, que também era um estudioso. Era corajoso, poético e
paciente.
Paciente porque ficava muito
tempo fora, cumprindo missões militares, e não podia acompanhar de perto a vida
quotidiana na sua casa. Ela não lhe era infiel, mas era maravilhoso poder
comprar o que quisesse sem que ele o percebesse. Como sua mãe sempre percebia
e, em geral, criticava. Aos 16 anos, Quezia já recebera várias ofertas de
casamento e recusara todas. Seu pai tinha ambições maiores do que os pescadores
e aprendizes que se tinham apresentado. Maria bateu à porta e foi rapidamente
atendida por um grito de Oba!, da própria Quezia. Era encantadora; dava sempre
a impressão de que havia esperado o dia inteiro por uma visita e que não havia
nada tão importante quanto isso. O que aconteceu?, perguntou. Está muito corada!
Aconteceu, disse Maria,
entrando. O quê? Quezia... Fui
pedida em casamento. A bela carinha de Quezia ficou perplexa. Quem? Chama-se
Joel, disse Maria. Trabalha com meu pai. Oh, não! Quezia pôs a mão sobre a
boca. Nós sempre dissemos... Que não nos conformaríamos com isso, disse Maria. Eu
sei. E os nossos homens imaginários eram fabulosos. O seu diplomata rico, de Jerusalém,
e o meu soldado... A sua voz sumiu. Mas também sabíamos que isso não era o
mundo real. Sabíamos que não iria acontecer.
Claro. E Quezia acenou com a
cabeça, devagar. Foi sempre de mentirinha. Sorriu e pôs o braço em torno dos
ombros de Maria, levando-a para dentro de casa. Agora terá de me contar sobre
esse homem de verdade. Maria queria não ter vindo. As fantasias de ambas
poderiam ter durado um pouco mais, se não tivesse vindo. Mas que diferença
tinha um dia? Porque se não tivesse vindo hoje para contar a Quezia, viria
amanhã. Não se guardam de uma amiga segredos como um pedido de casamento. Ao
chegar ao vestíbulo de entrada da casa de Quezia, Maria já se sentia tão
familiar quanto na sua própria casa. Dirigiram-se ao velho quarto, de que ela
tanto gostava, agora mobiliado de acordo com gostos adultos. Quezia jogou-se
numa banqueta enquanto, apontando para uma jarra numa bandeja, perguntava,
gentilmente: quer suco de tamarindo? Maria disse que não. Quezia inclinou-se
para a frente, com os olhos brilhando. E aí? Conte-me, conte-me! Bom, este
rapaz, Joel, é de Naim...» In Margaret George, A Paixão de
Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN
972-883-911-1.
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