Cortesia
de wikipedia e jdact
A
Possessa e O Verdugo (Éder Rodrigues e Sara Rojo)
«(…) Porém, não se trata de um
teatro facilmente determinado por correntes únicas de influências ou inserção.
É um teatro que mistura os elementos, que equaciona, que esfacela a realidade e
arquitecta outras esferas de tratamentos possíveis ao teatral. Hilst utiliza
suas experiências como poeta e projecta novos formatos, outras maneiras de
confabular códigos de comunicação, de desconstruir signos e estruturas. Nas
palavras da própria autora, em entrevista concedida ao Diário de São Paulo de 29 de Abril de 1973:
As gentes, as pessoas em geral
têm medo da ideia, da extensão metafísica de um texto, mas tanto minha prosa
como a minha dramaturgia existem somente porque acredito que o próximo século
será metafísico. Não me interesso pelas pequenas odisseias domésticas, interesso-me
pela situação limite do homem. Não me peçam para pôr os pés na terra se o que
pretendo é o fogo do espírito. O espírito é voraz e sofre tensão dolorosa e
contínua. Eu sofro de intensidade e de paixão. E gostaria de ter as plantas dos
pés sobre a esplêndida superfície da cabeça. (Viana, 1973)
Não é de se espantar que o teatro
hilstiano tenha chamado atenção de estudiosos no exterior, diante do facto de
não ter encontrado ressonâncias, reconhecimento e abrangências dentro do
Brasil. O primeiro estudo completo configurado num livro solo sobre todas as
peças da autora não foi realizado no Brasil. Alva Martínez Teixeiro publica em
2009 pelas Publicacións da Biblioteca-Arquivo Teatral Francisco Pillado Mayor,
da Universidade da Corunha, na Espanha, a obra O herói incómodo - Utopia e pessimismo no teatro de Hilda Hilst. Trata-se
do primeiro livro crítico que se debruça sobre a dramaturgia hilstiana e que
analisa inúmeras questões e complexidades sobressalentes nas peças,
sublinhando, sobretudo, as correlacções entre os prospectos utópicos e a
linhagem pessimista das obras. Anteriormente, os textos que referenciaram o
teatro de Hilst foram o de Anatol Rosenfeld, em 1969, o estudo mais abrangente de
Elza Cunha de Vincenzo (no capítulo do livro Um teatro da mulher, de 1992) e o de Renata Pallottini, no
capítulo sobre o teatro que integra a edição dos Cadernos de Literatura no volume dedicado à autora, em
1999. O teatro de Hilda Hilst só é publicado de forma completa em 2008, pela
editora Globo, mais de 40 anos depois de escrita a primeira peça.
Nessa publicação, Alcir Pécora
faz colocações pontuando o tom de embates e debates que a edição completa da
dramaturgia hilstiana provoca. Com relação às obras, o crítico questiona: relidas
como texto somente, funcionaria como teatro, hoje? (Pécora, 2008). Esta
pergunta inquieta os autores do presente texto, pois percebemos que a resposta,
sendo afirmativa, remete a questões do texto dramático, principalmente no facto
de que a potência dramatúrgica não está apenas no que é dito (que no caso das
obras de Hilst continua sendo pertinente), mas também na forma como o texto
dramático amplia sua projecção espectacular, além da maneira lacunar com que se
opera a instância política e a elevação da morte como um recurso trágico de
transcendência do pensamento articulado em cena». In Nilze Maria Azevedo Reguera
Susanna Busato, Em Torno de Hilda Hilst, Editora UNESP, 2015, ISBN
978-856-833-469-0.
Editora UNESP/JDACT