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De
Xátiva a Roma. 1378-1458. As Origens dos Bórgia
«(…) Afonso V reinava não apenas sobre a metade setentrional da
Península Ibérica, mas também sobre as Ilhas Baleares, a Córsega e a Sardenha.
Mas o jovem monarca não estava ainda nem um pouco satisfeito com isso. Seus
olhos estavam voltados com cobiça para a Itália. Para os seus planos
ambiciosos, precisava de advogados competentes como Alonso Borja. Havia quase
quatro décadas, Borja tinha colocado os seus notáveis conhecimentos jurídicos
inteiramente ao serviço do rei. Era uma ferramenta perfeita nas mãos do monarca
e chegou a actuar também nas difíceis disputas entre a Coroa de Aragão e o
papado. Afonso V não via com bons olhos suspender o apoio a Bento XIII, que
ignorou soberanamente a deposição pelo concilio, bem como seu sucessor Clemente
VIII, sem obter amplas concessões de Roma. Nas negociações mantidas com os
embaixadores enviados por Martinho V, Alonso Borja, por meio da sua
experiência, ganhou o reconhecimento também pelo lado romano. De qualquer
forma, por parte do rei, o reconhecimento era
inconteste. No entanto, o amplo apoio que o homem de Xátiva passou a
receber, a partir desse momento, não tinha nada de desinteressado. O facto de
ter colocado o seu vice-chanceler em posições de liderança dentro da Igreja
assegurava ao monarca acesso a uma grande parte dos seus recursos financeiros.
Essa divisão de tarefas deu excelentes resultados ainda durante a administração
da diocese de Maiorca por Alonso. E essa disponibilidade de dar ao rei aquilo
que ele exigia qualificou-o a posições ainda mais altas. Em 1429, Alonso passou
a ser bispo de Valência, ofuscando, dessa maneira, todo o sucesso que fora
anteriormente alcançado pelas mais nobres ramificações da sua linhagem.
Naturalmente, foi fundamental para isso a recomendação do seu senhor. Apesar
dos doze anos de dedicados serviços, a sua nomeação, que fora aprovada por
Martinho V, teve o seu preço. Favor significa o privilégio de poder comprar,
por toda parte, as regras invioláveis da clientela. Alexandre VI,
posteriormente, dominará essa arte com maestria absoluta. Seu tio, no entanto,
teve de pagar uma fortuna ao seu rei pelo bispado de Valência. O facto de
Martinho V ter dado sua aprovação reflecte uma mudança na política da Igreja.
Do ponto de vista do rei, o antipapa, que se encontrava entrincheirado na
península rochosa Peníscola, tinha cumprido a sua missão. E quando Alonso Borja
comunicou-lhe a suspensão do apoio da casa real, Clemente VIII agiu da forma
mais razoável possível: desistiu. Anos mais tarde, tornou-se lenda que a arte
de persuasão do enviado teria
contribuído para que o teimoso antipapa tomasse essa decisão. Fora de questão,
no entanto, é o facto de que Alonso, como portador de uma mensagem sem margem a
negociações, contribuiu, com a sua competência jurídica, para que esse acto
transcorresse de forma rápida e indolor. E isso também agradou a Roma.
Os comprovados interesses da união mantiveram-se, mesmo
depois de 1429. Como pastor de uma das mais ricas dioceses da Espanha, Alonso
Borja não recusou os pedidos de subsídios da câmara de finanças real. O seu
papel como conselheiro real também prevaleceu sobre as suas novas funções como
bispo; o grande jurista era indispensável no tribunal e aumentou o número já
grande de não residentes, ou seja, clérigos que não estavam em exercício das
suas funções na sua diocese. Como prelado político por excelência, Alonso Borja
imbuiu rigor exemplar ao seu estilo de vida. Repudiava os pecados capitais da
gula e da luxúria, nisso estiveram de acordo até mesmo os seus inimigos. Afonso
de Aragão também abriu as portas que levariam o seu favorecido à Itália. Nas
intrincadas contendas pela coroa de Nápoles (à qual pertencia também a
Sicília), que gozava de extremo prestígio, após muitos contratempos e prestes a
atingir os seus objectivos, o rei promoveu a sucessão do seu conselheiro quase
sexagenário em 1437. E com boas
razões. Após longos conflitos, Afonso tinha conseguido prevalecer sobre seus
rivais da Casa de Anjou, porém havia ainda uma última e difícil batalha pela
frente. Essa seria com o papa, que ocupou a suserania sobre o reino fundado
brilhantemente pelos normandos em 1130». In
Volker Reinhardt, Alexandre VI, Bórgia, o Papa Sinistro, 2011, Editora Europa, 2012, ISBN
978-857-960-127-9
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