Cortesia
de wikipedia e jdact
«A
partir das últimas décadas do século IX, com a instalação dos condes galaico-asturianos
nas terras situadas entre o Minho e o Mondego, o processo de reorganização
territorial conheceu um forte impulso. Este movimento acelerou a integração da
região no conjunto da monarquia asturo-leonesa, e contribuiu para um apreciável
desenvolvimento humano e material da sociedade do Noroeste hispânico. O aumento
gradual do número de documentos escritos, ilustra de forma clara a multiplicação
dos lugares povoados e dá testemunho bastante do dinamismo social do espaço
bracarense. Deste modo, procurámos com o presente estudo caracterizar e
explicar as grandes linhas que pautaram esse processo, ao longo do decisivo século
X». In Resumo
Introdução
Desde os finais da década de
sessenta do século IX, o território a sul do rio Minho converteu-se em cenário de
uma profunda reorganização tutelada pelos representantes da monarquia
asturiana. Os escassos diplomas que sobreviveram deste período noticiam a
instalação dos condes e de outros senhores, e dão-nos conta, muito
especialmente, do dinamismo socioeconómico que se vivia em certas zonas do
Entre-Douro-e-Minho. Em vários casos os factos relatados pelos documentos
permitem-nos entrever, com alguma segurança, realidades que já se vinham a desenvolver
antes mesmo da chegada das autoridades nortenhas. Estes elementos, no entanto,
são limitadíssimos e fragmentários e não autorizam estabelecer com exactidão um
quadro geral. De qualquer maneira, é indiscutível que a instalação dos condes
galaico-asturianos constituiu um momento de viragem e de aceleração do processo
de reordenamento territorial, mesmo considerando que a historiografia tem
propensão para valorizar muito esta fase, em larga medida fruto da inexistência
de fontes documentais significativas para o período imediatamente anterior. As
cartas da época de Afonso III das Astúrias (866-911) surgem-nos, assim, como os
primeiros testemunhos fidedignos que nos permitem aproximar, se bem que de
forma cautelosa e limitada, da sociedade e do espaço minhotos dos finais do
século IX. Como o futuro se encarregou de demonstrar abundantemente, tratou-se
de um processo efectivo de organização
social do espaço, que, nas palavras de García Cortázar, se caracterizou
por ser un combinado de control estratégico, instalación humana y
aprovechamiento del territorio.
Antes ainda de passarmos ao tema
principal que nos propusemos abordar, gostaríamos de esclarecer alguns problemas
terminológicos e de metodologia. Se perguntarmos a qualquer medievalista
peninsular, estudioso do período asturo-leonês, qual é o vocábulo que melhor
define o povoamento do espaço cristão nesta época, estamos certos de que a
resposta será unânime e dada sem hesitação: a villa. A omnipresença documental da villa como elemento
determinante na descrição da paisagem e no enquadramento do património
fundiário, constitui uma realidade desde há muito conhecida pelos
investigadores e desde há muito, também, sublinhada pelo discurso historiográfico.
Trata-se de uma estrutura amplamente discutida e estudada, pelo que, hoje em
dia, muitos dos problemas e debates por ela suscitados começam a estar superados.
De acordo com Carlos Ayala Martínez, esses debates desenvolveram-se em torno de
três temas principais: a presumível ou suposta continuidade das villae romanas,
especialmente nas regiões da Península mais influenciadas pela romanização; o
problema do desajustamento e da não aplicabilidade dos modelos clássicos de
descrição e interpretação do regime dominial do Norte da França à realidade
peninsular; e, finalmente, a longa e discutida questão da polissemia da palavra
villa, sobretudo quando
se pretende definir os critérios que permitem distinguir as villae que eram simples
explorações agrícolas, daquelas que já se tinham constituído em embrionárias
aldeias. Em relação às duas primeiras questões, mesmo não dispondo ainda de
respostas conclusivas, nomeadamente do ponto de vista teórico, a verdade é que
a historiografia peninsular mais recente já não se sente tão obrigada a
tomá-las como pontos de partida incontornáveis para o estudo dos seus objectos
de âmbito local e regional. O mesmo já não se pode dizer no que respeita ao
terceiro problema». In Luís Carlos Amaral, O Povoamento da Terra Bracarense durante o
século X, Revista da Faculdade de
Letras, História, Porto, III Série, volume 10, 2009.
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