domingo, 3 de novembro de 2019

A Verdadeira História. Margaret George. «O rosto de Simão iluminou-se com um sorriso enorme. Você é um homem abençoado! Os meus parabéns! Piscou o olho, brincando: quer dizer que é você que eu terei de procurar no futuro?»

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A Mulher que Amou Jesus
«(…) Na realidade, parecia bastante contente e a sua atitude mudou de desconfiança para alegria, à medida que continuavam a caminhada à beira do lago. Vários barcos de pesca dirigiam-se para um pequeno cais de águas quentes, que era chamado de Sete Fontes. Os pescadores das cidades de Cafarnaum e Betsaida gostavam dali, pois a água quente atraía certos tipos de peixe; devido a isso, o cais ficava repleto de pequenos barcos, todos querendo descarregar o peixe ao mesmo tempo. O cais estava alvoraçado, numa atmosfera de alegria. Os pescadores são pessoas interessantes, disse Joel. Têm características tão contraditórias, uma reputação de devoção, embora lidem com coisas bem materiais. Trabalham de noite, remendam as redes... As suas vidas são exactamente o contrário da vida dos escribas religiosos. Talvez por isso é que a sua religiosidade seja suspeita, disse Maria, pelo menos para os rabinos de Jerusalém. Afinal, como poderia um pescador manter a sua pureza ritual? Tem de lidar com peixe sujo todos os dias, quando descarrega as redes. Entretanto, num caso de necessidade, você preferiria poder contar com um pescador ou com um escriba de Jerusalém? Joel ria. Veja o caso de Zebedeu, acenou para um homem forte, de rosto vermelho, que acenou de volta, embora provavelmente nem tivesse reconhecido Joel àquela distância. Sozinho no barco, ainda assim trouxe uma boa pescaria no meio de um temporal. Tem vários barcos, um autêntico empreendimento. Seus filhos trabalham com ele e também contratou pescadores. Aproximaram-se do cais, onde reinava a confusão com a chegada do peixe.
Atenção!, berrou uma voz forte. Fique longe dessa cesta! Passavam ao lado de uma cesta enorme, de onde escorria uma água suja. Os peixes faziam a cesta tremer. Desculpe, Simão, disse Joel, dando um passo para trás. Trabalhei três horas para separar esse peixe, disse Simão, um gigante que estava de pé, junto à cesta, de braços cruzados. Parecia ameaçador. Depois deu uma gargalhada. Eu seria o último a prejudicar o seu trabalho, disse Joel. Por um instante, hesitou. Maria sentia que estava pensando. Simão, você conhece os filhos de Natã, Samuel e Eli. Esta é a irmã deles, Maria. Simão olhou-a atentamente. Tinha olhos enormes, que pareciam perfurá-la. Sim, já a vi no armazém. Acenou com a cabeça, energicamente. Maria concordou em ser minha mulher, disse Joel. E olhou para ela, orgulhoso.
O rosto de Simão iluminou-se com um sorriso enorme. Você é um homem abençoado! Os meus parabéns! Piscou o olho, brincando: quer dizer que é você que eu terei de procurar no futuro? Joel ficou sem jeito. Não, claro que não. Quem continua mandando é Natã. Ele não é velho. Isso é o que meu pai diz dele mesmo, disse Simão. Mas o André e eu percebemos que ele está querendo passar o trabalho pesado para nós. Apontou com o dedo outro rapaz, sozinho, no cais. Tinha cabelo encaracolado, escuro, mas não se parecia em nada com a exuberância de seu irmão. Era mais magro e mais baixo. E desde que casei, continuou Simão, sinto-me cada vez mais respeitável. Você casou?, disse Joel. Não sabia. Então você também merece parabéns. Simão sorriu. É, levou algum tempo para me acostumar. Agora, tenho uma sogra, o que é bastante diferente de uma mãe, é bom que lhe diga. Coçou a cabeça. Certa vez, uma pessoa disse-me: se você quiser saber como vai ser uma moça em 20 anos, olhe para a mãe dela. Bom, não é verdade. Ou, se for, Deus que me ajude! Aproximava-se o barco de Zebedeu, seguido por outro, com dois rapazes, um de rosto largo e cabelo claro e o outro mais magro, alourado. Ei, você aí!, gritou Zebedeu para ninguém especificamente. Jogue a corda! Um garoto meio assustado, que estava no cais, apressou-se em obedecer. Atrás de Zebedeu, o outro barco atracou. Antes que desembarcassem e pudessem começar uma conversa, Joel olhou para o céu. Já passa de meio-dia, disse. É hora de voltar. Acenou para os pescadores e dirigiu-se à cidade.
Maria também queria voltar para casa. Queria ficar sozinha e meditar sobre o que se passara. Tinha concordado em casar com aquele homem. Tinham discutido o assunto, e concordado. Parecia tão estranho, tão irreal. Queria ficar a sós e reflectir. Mas sentia-se bem, caminhando ao lado dele, ouvindo as suas opiniões sobre os pescadores e os seus desejos de viajar e de ajudar as pessoas. Eram coisas agradáveis, que a reconfortavam. Deve ser a coisa certa, pensou. Tem de ser. Cresceremos juntos, ao longo dos anos, pois já parecemos pensar da mesma maneira sobre o que queremos». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.
                                       
Cortesia de SdeEmergência/JDACT