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de wikipedia e jdact
«Quando
transpomos a muralha da Fortaleza de Sagres e percorremos as veredas estreitas
a desafiar inóspitas falésias, conquista-nos a magia do lugar a que os antigos
chamaram promontorium sacrum.
Finisterra misteriosa, que nos murmura segredos inaudíveis, da intrépida gente
henriquina que ousou ir além do horizonte a desafiar os perigos do Mar Tenebroso. Lugar mítico dos
descobrimentos portugueses, que nos convida à reflexão, a um regresso às nossas
origens, aos primórdios da nacionalidade portuguesa. Envolta pelo sobrenatural,
a conferir maior simbolismo à data, a independência de Portugal afirma-se com a
lenda do milagre da Batalha de Ourique, a 25 de Julho 1139, dia de S. Tiago, patrono
dos cristãos em luta com os mouros. Justifica-se a vitória das forças cristãs,
em número muito inferior aos muçulmanos, pela intervenção divina, pois a Afonso
Henriques na Cruz o Filho de Maria
/.Amostrando-se o animava.
Havia de ficar ainda esta data associada à sua aclamação como rei. Também as
origens da Hélade estão plasmadas em narrativas fabulosas, os mitos.
Indiferentes à verdade, verbalizam eles experiências partilhadas que conduzem à
coesão de um grupo social. Exilado na corte de Pélops, que lhe havia de confiar
a educação de seu filho, Crisipo, Laio enamorou-se do jovem e raptou-o. Este
grave delito na sociedade grega mais primitiva, na época em que surgiu este
mito, vai suscitar o terrível oráculo que há-de pesar sobre Laio e sua
descendência. Da união com Jocasta vai nascer o amaldiçoado Édipo que porá
termo à vida do pai e desposará a própria mãe. Ambiente semelhante rodeia o
início da mítica Guerra de Tróia: na ausência de Menelau, rei de Esparta, Páris
rapta sua filha Helena e arrasta-a para a Tróia de Príamo, seu pai. Por dez
longos anos se arrasta a guerra que vai opor esta cidade ao exército de
Agamémnon.
Até que, mercê do ardiloso cavalo
de madeira, Tróia é saqueada e destruída pelos Gregos. E os Poemas Homéricos a
imortalizaram. A um conjunto de mitos de um povo, de uma cultura ou de um país dá-se
o nome de mitologia e, deste modo, podemos falar em mitologia grega, romana ou
até em mitologia portuguesa. Povoada por deuses e heróis, comuns à religião, a
mitologia grega foi organizada por Homero e Hesíodo, como se depreende do
testemunho do historiador grego Heródoto (século V a. C.): efectivamente, penso
que Hesíodo e Homero são anteriores a mim uns quatrocentos anos, e não mais.
Foram esses os que inventaram aos Gregos a teogonia e atribuíram aos deuses os
seus nomes, que repartiram as suas honras e artes, e que descreveram a sua
forma.
Entre estes relatos fantásticos,
chamam a nossa atenção os mitos cosmogónicos, que narram a criação do mundo. Na
Teogonia de
Hesíodo, posterior aos Poemas Homéricos, pode ler-se: primeiro que tudo houve o
Caos, e depois a Terra de peito ingente... Do Caos nasceram o Érebro e a negra
noite e da Noite, por sua vez, o Éter e o Dia... Por aqui nos aproximamos da
linguagem mítica do Livro do Génesis, o primeiro da Bíblia, quando descreve a história
das origens: no princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era
informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre
a superfície das águas. Deus disse: Faça-se a luz. E a luz foi feita... Aqui se
narra a criação do homem a partir do barro, a árvore da Vida e da ciência e o
mito da serpente , que nos trazem à memória os mitos de Prometeu e de Pandora.
O que se explica pela influência dos mitos do próximo oriente, nomeadamente da
Suméria, da Babilónia e de Ugarit.
Os romanos vão assimilar a
mitologia grega, emprestando-lhe uma feição singular: a mitologia de Roma, como
a caracterizou Victor Jabouille, nunca foi fantasmagórica nem cósmica: foi
nacional e histórica, ocupa-se essencialmente com a fundação e desenvolvimento da
própria cidade. E a mitologia divina, de natureza grega, vai lentamente perdendo
a sua expressão e reduz-se ao ritual». In António M. Martins Melo, A Mitologia Clássica
no Humanismo do Renascimento Português, Universidade
Católica Portuguesa, Braga, Ágora, Estudos Clássicos em Debate 6, 2004.
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