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O Início da Expansão
«(…) De uma forma geral é aceite que a expansão portuguesa se
divide em cinco grandes grupos geograficamente distintos: o norte de África, as
ilhas atlânticas, a costa africana, o Oriente e o Brasil. No norte de África o
domínio português, que se iniciou no princípio do século XV, é marcado em termos
urbanos sobretudo pela construção de fortalezas. A actuação nesta altura é
marcada, não por uma acção planificada no sentido de uma política urbanizadora,
mas sim por um sentido defensivo cujo interesse passava por razões
estratégicas. Contemporânea à ocupação do Norte de África é a ocupação das
ilhas atlânticas. Com o objectivo de futuros empreendimentos ligados ao
interesse de chegar à Índia, a criação de uma rede urbana ligada pela navegação
originou o interesse e a colonização das ilhas. Estas, em oposição aos estabelecimentos
do Norte de África, reflectem uma forma de urbanização, claramente com um sentido
colonizador, idêntica ao que se praticava no continente. A ocupação dos
arquipélagos atlânticos iniciou-se na Madeira em 1422, seguindo-se as Canárias 1424,
os Açores em 1439, depois Cabo Verde em 1462 e finalmente São Tomé em 1485. Com
base na agricultura destinada à exportação, introduziu-se o açúcar, o vinho, as
plantas tintureiras e o trigo, sendo estas culturas introduzidas durante a
primeira fase de ocupação. As cidades que mais se desenvolveram nestes
arquipélagos durante os séculos XV e XVI foram, na Madeira, a cidade do
Funchal; no arquipélago dos Açores, as cidades de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada;
no arquipélago de Cabo Verde, a cidade da Ribeira Grande (embora, só até ao
século XVII, tendo-se verificado o seu declínio a partir dessa altura); e no
arquipélago de São Tomé e Príncipe, a cidade de São Tomé e Santo António.
As cidades das Ilhas Atlânticas de Origem Portuguesa. Funchal, Angra do
Heroísmo e Ribeira Grande.
Como já foi referido é
comummente aceite que a prática que se processava no continente foi de certa
forma exportada para as cidades da expansão. Certamente que a tradição e prática
que se processava no continente na época (século XV), e em épocas anteriores
(séculos XIII e XIV) e posteriores (século XVI), foi o modelo que lhes serviu
de base. Relativamente aos modelos que estiveram na génese das cidades
insulares atlânticas de origem portuguesa, vários são os autores que referem a
influência da cidade medieval e renascentista portuguesa do continente. Através
da análise da evolução do traçado urbano e de alguns elementos da morfologia do
tecido urbano (estrutura de quarteirões, ruas e largos, implantação de
edifícios de grande significado e pontos defensivos), apreendeu-se um conjunto
de traços comuns às três cidades.
Evolução da Estrutura Urbana
Nas três cidades estudadas
a malha urbana nasce a partir de uma rua principal que une dois núcleos
urbanos, constituindo esta o elemento gerador e estruturador da referida malha
urbana. Para a cidade do Funchal sabemos que a cidade teve origem em dois
núcleos urbanos: no núcleo primitivo de Santa Maria do Calhau (onde se ergue a
igreja de Santa Maria) e em Santa Catarina onde o capitão mandou erguer a sua
casa. O núcleo de Santa Maria do Calhau definiu-se a partir de uma igreja e de
um largo que lhe estava associado e de uma rua paralela ao mar, a Rua de Santa
Maria. Esta rua, paralela ao mar, existia entre o largo da igreja (junto à
Ribeira de Santa Luzia) e a zona onde existe o forte de S. Tiago. Para o lado
poente da Ribeira de Santa Luzia e no seguimento da Rua de Santa Maria
desenha-se, nesta fase de desenvolvimento, a Rua de Santa Catarina
(posteriormente designada Rua dos Mercadores e depois Rua da Alfândega) ligando
os dois pólos primitivos, de Santa Maria do Calhau e de Santa Catarina. A este
tipo de desenvolvimento corresponde uma estrutura alongada no sentido da costa,
percorrendo toda a zona junto ao mar.
Também para a cidade de
Angra se reconhece um crescimento deste tipo. Assim temos que o primeiro núcleo
urbano se desenvolveu no alto de uma colina no lugar onde se ergueu a primeira fortaleza.
Paralelamente a este núcleo desenvolve-se um outro (S. Pedro) do lado oposto da
baía de Angra para o lado poente. A ligar estes dois núcleos desenvolve-se uma
rua, a actual rua da Sé que liga o núcleo do castelo a S. Pedro. Com o
desenvolvimento do porto na zona baixa da cidade houve necessidade de ligar o
castelo e o cais. É então que se assiste a um novo crescimento linear através
da Rua de Santo Espírito, mas este ao contrário do que acabamos de ver para o
Funchal é um crescimento linear, neste caso, perpendicular à costa». In
Teresa Madeira, Urbanismo, Comunicação apresentada no Colóquio Internacional
Universo Urbanístico Português, 1415-1822, Coimbra, 1999.
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