terça-feira, 19 de maio de 2020

O Diamante de Jerusalém. Noah Gordon. «A entrada principal do Santo dos Santos era usada somente pelo Sumo Sacerdote por ocasião do Yom Hakippurim para interceder por seu povo junto ao Senhor Todo-Poderoso»

Cortesia de wikipedia e jdact

A Perda
Genizah
«(…) Um par de harpas feitas e tocadas por David. Receptáculos para recolher os dízimos e a bacia de prata para água benta. Os recipientes para o sacrifício e para a libação, de ouro batido. Talentos de prata e de ouro, resultado da taxa de imposto anual de meio shekel, paga por todos os judeus. Vamos deixar os talentos e esconder um número maior de objectos sagrados, disse Hilak. Devemos incluir os tesouros não santificados, observou Jeremiah. Algum dia podem servir para construir uma nova casa para o Senhor. Há barras de ouro que valem muitos talentos, disse Hilak, olhando para o pai, o guardião do tesouro. Qual o objecto não santificado mais precioso? Uma pedra preciosa enorme, disse Shimor, imediatamente. Hilak fez um gesto afirmativo. Um grande diamante amarelo. Incluam o diamante também, disse Jeremiah. Os homens entreolharam-se tristemente, pensando em tudo que não poderiam incluir. Por três noites seguidas, entre o fim do dia e a manhã, Hezekiah retirou os guardas do Templo do Portão Novo. A entrada principal do Santo dos Santos era usada somente pelo Sumo Sacerdote por ocasião do Yom Hakippurim para interceder por seu povo junto ao Senhor Todo-poderoso. Mas havia uma entrada obscura no último andar do Templo. Uma vez ou outra operários religiosos desciam por ela para arrumar o lugar sagrado.
Foi assim que os catorze homens roubaram a Arca Sagrada e o que ela continha, as tábuas da lei que o Senhor dera a Moisés no monte Sinai. O jovem sacerdote chamado Berechia desceu amarrado a uma corda. Baruch ficou bem longe do Santo dos Santos. Ele pertencia a uma família de sacerdotes mas nasceu com uma perna mais curta que a outra, o que fazia dele um haya nega, um engano do Senhor. Não tinha permissão para tocar no que era sagrado, uma honra reservada aos de físico perfeito. Mas o medo de Berechia não era maior do que o seu enquanto os outros iam desenrolando a corda e o jovem, girando lentamente, pousou como uma aranha nas sombras do lugar sagrado. A luz fraca estendeu-se além do homem dependurado na corda iluminando um brilho de asas. Berechia mandou para cima primeiro o querubim e Baruch desviou os olhos, pois o Não Denominável ficava entre essas figuras no Dia Mais Solene, para ouvir as preces do Sumo Sacerdote. Subiu então a cobertura da Arca. Ouro sólido, difícil de içar pela corda. Finalmente a Arca. Contendo as Tábuas!
Eles puxaram Berechia para cima, muito pálido e trémulo. Eu me lembrei de Uzzah, disse ele, com voz entrecortada. Baruch conhecia a história. Quando o rei David resolveu levar a Arca para Jerusalém, um dos bois que puxava o carro tropeçou. Uzzah, andando ao lado, segurou a arca sagrada para que não caísse e o Senhor se enfureceu e o matou. Uzzah não morreu por ter tocado na Arca, mas porque duvidou da capacidade do Senhor para protegê-la, disse Jeremiah. Não é o que estamos fazendo, tentando escondê-la? O Senhor a protege. Nós agimos apenas como seus servos, disse Jeremiah severamente para o jovem. Vamos. Nosso trabalho apenas começou. Shimor e Hilak os levaram aos tesouros e objectos sagrados que haviam escolhido previamente. Foi Baruch quem viu a folha enrolada de cobre e sugeriu que fosse levada para fazer a lista dos esconderijos. O cobre era mais durável do que o pergaminho e podia ser limpo facilmente, se ficasse impuro, de acordo com o ritual.
Um camelo carregou a Arca da Aliança do templo de Salomão e um asno carregou a tampa. Como gravetos errantes num molho de lenha, as asas dos querubins erguiam a coberta de pano grosso. Baruch foi recrutado por ser escriba. Agora Jeremiah mandou que ele gravasse os locais de cada esconderijo na folha de cobre e ele se encontrou individualmente com cada um dos treze homens para separar os objectos e enviá-los aos lugares determinados. Só Baruch sabia todos os locais e o que cada um continha. Por que só ele merecia essa confiança?» In Noah Gordon, O Diamante de Jerusalém, 1979, Bertrand Editora, 1998, ISBN 978-972-251-041-7.

Cortesia de BertrandE/JDACT