quarta-feira, 6 de maio de 2020

As Sete Irmãs. Lucinda Riley. «Maia, por favor diga-me que está bem. Essa é a pior notícia que já tive que dar na vida, mas o que mais eu poderia fazer?»

Cortesia de wikipedia e jdact

Maia. 22 de Junho de 2007
«Sempre me lembrarei de onde estava e o que estava fazendo quando soube que meu pai havia morrido. Eu estava sentada no belo jardim da casa da minha velha amiga de escola, em Londres, lendo um livro e desfrutando do sol de Junho enquanto Jenny fora buscar o seu menino à escola. Quando o meu telefone móvel tocou, estava pensando no quanto me sentia calma e em como viajar tinha sido uma óptima ideia. Lembro-me claramente de que, ao olhar para a tela do telefone e ver o nome de Marina, estava estudando as clematites que desabrochavam seus botões frágeis, dando à luz uma profusão de cores, encorajadas por uma parteira ensolarada quando o meu móvel tocou. Olá, Ma, como está?, atendi, ouvindo o calor reflectido na minha voz. Maia, eu… O que foi? Marina fez uma pausa, e, naquele momento, eu soube que alguma coisa estava muito errada. Maia, não há outro jeito de te dizer isso. Seu pai sofreu um ataque cardíaco aqui em casa ontem à tarde e, nas primeiras horas desta manhã, ele… faleceu. Permaneci em silêncio, enquanto um milhão de pensamentos diferentes e ridículos passavam pela minha cabeça. O primeiro era que Marina, por algum motivo desconhecido, decidira contar-me uma piada de mau gosto. Você é a primeira das irmãs a quem conto, Maia, já que é a mais velha. E eu queria perguntar se prefere contar às suas irmãs…, ou quer que eu conte. Eu… As palavras não se formavam coerentemente nos meus lábios, então comecei a perceber que Marina, a querida e amada Marina, a mulher que representava a única mãe que eu conhecia, nunca me diria aquilo se não fosse verdade. Só podia ser verdade. E, naquele momento, meu mundo inteiro virou de cabeça para baixo. Maia, por favor diga-me que está bem. Essa é a pior notícia que já tive que dar na vida, mas o que mais eu poderia fazer? Deus sabe como as outras meninas vão receber a notícia. Foi então que ouvi o sofrimento na sua voz e compreendi que precisava conter-me; tanto para seu próprio bem quanto para o meu. Automaticamente, incapaz de começar a racionalizar a névoa rubra do meu próprio choque e confusão, passei a agir dentro da minha zona de conforto, que era consolar os outros. Claro que ligo para as minhas irmãs se preferir, Ma, mas não tenho certeza de onde elas estão. Ally não está treinando para uma regata?
Enquanto continuávamos a discutir onde cada uma das minhas irmãs mais novas estava, como se precisássemos reunir-nos para uma festa de aniversário em vez de lamentar a morte do nosso pai, a conversa ganhou um ar surreal. Para quando devemos planear o funeral na sua opinião? Com Electra em Los Angeles e Ally em algum lugar no alto-mar, certamente não podemos considerar nada antes da próxima semana, no mínimo, disse. Bem, ouvi certa hesitação na voz de Marina. Talvez seja melhor discutirmos isso quando chegar em casa. Não há pressa agora, Maia, então, se preferir continuar em Londres durante esses dois últimos dias de férias, estará tudo bem. Não há mais nada a fazer aqui… A sua voz foi engolida pela tristeza. Ma, estarei no próximo voo para Genebra! Vou telefonar para a empresa aérea imediatamente e aviso o horário do voo. Enquanto isso, farei o possível para entrar em contacto com todo mundo.
Sinto muitíssimo, chérie, Marina suspirou. Sei como o idolatrava. Claro, respondi, a serenidade surreal que me havia dominado enquanto discutíamos o que fazer, desertando de repente, como a calma que antecede uma tempestade violenta. Telefono mais tarde, quando souber a que horas em que vou chegar. Enquanto isso, cuide-se, por favor, Maia. Sofreu um choque terrível. Pressionei o botão para encerrar a ligação e, antes que as nuvens da tempestade no meu coração começassem a afogar-me, subi as escadas até ao meu quarto para abrir o e-mail de confirmação do voo de volta e entrar em contacto com a empresa aérea. Enquanto esperava para ser atendida, olhei para a cama onde havia acordado naquela manhã, esperando um dia como outro qualquer. E agradeci a Deus pelo facto de os seres humanos não possuírem o dom de prever o futuro.
A mulher prestativa que me atendeu não ajudou muito, e eu sabia, enquanto ela falava de voos lotados, multas e detalhes do cartão de crédito, que a minha represa emocional estava prestes a romper. Por fim, assim que relutantemente me cederam um lugar no voo das quatro horas para Genebra, o que significava jogar tudo na mala imediatamente e pegar um táxi para Heathrow, sentei-me sobre a cama e fixei o meu olhar por tanto tempo no papel de parede que a estampa começou a dançar diante dos meus olhos. Ele se foi, suspirei. Se foi para sempre. Nunca mais o verei. Eu esperava que admitir a partida dele em voz alta traria uma torrente violenta de lágrimas e fiquei surpresa quando nada aconteceu. Em vez disso, fiquei sentada, estarrecida, com a mente dominada por práticas. A ideia de contar às minhas irmãs, às cinco, era terrível, e procurei no meu arquivo emocional qual delas deveria informar primeiro. Inevitavelmente, pensei em Tiggy, a segunda mais jovem entre nós seis e a irmã de quem eu sempre fora mais próxima». In Lucinda Riley, As Sete Irmãs, 2014, Editora In, 2017, ISBN 978-989-648-906-9.

Cortesia de EIn/JDACT