terça-feira, 26 de maio de 2020

Manique do Intendente. Uma Vila Iluminista. «Após uma primeira fase de governo por capitanias, seguiu-se a nomeação de um governador-geral em 1548 e uma política mais abrangente»


jdact e wikipedia

Urbanismo: o Contexto Europeu. A engenharia militar e a tratadística
«(…) Os engenheiros militares foram também os responsáveis pelo desenvolvimento de um tipo de urbanismo português, ensaiado nas colónias ultramarinas, a partir do século XVI, e sobretudo do século XVII. Essas experiências tiveram um palco fundamental no Brasil.

O Urbanismo Português no Brasil
A experiência colonial, iniciada no século XV, é um processo muito lato temporal e fisicamente. A prática urbanística pelos engenheiros militares nasce a par das primeiras conquistas, nas praças fortificadas no Norte de África e aperfeiçoa-se, no século XVI, na Índia, nas ilhas atlânticas e no Brasil, com traçados geometrizados, conjugados parcial ou totalmente com fortificações. O caso que mais interesse tem para o presente trabalho é o da colonização brasileira e será esse que o que se passa a referir, de modo bastante conciso. Primeiramente, há que referir que as circunstâncias da ocupação deste território sul-americano diferem bastante das dos restantes territórios. Tratava-se de um vasto espaço, praticamente desabitado, e portanto sem referências anteriores. O perigo, esse, vinha por mar, o que se traduziu numa ocupação primária na faixa marítima. São engenheiros-militares os principais obreiros das novas povoações, quase sempre formados na Metrópole e, a partir do final do século XVII, também no Brasil, embora com pouca regularidade.
Após uma primeira fase de governo por capitanias, seguiu-se a nomeação de um governador-geral em 1548 e uma política mais abrangente. Foi fundada em 1549 a primeira capital, São Salvador da Baía. Contrariamente ao que até aí fora regra em todo o Império, a fundação desta cidade teve pois como grande novidade a intenção prévia de não só planear a sua implantação e defesa, mas também pré-conceber o seu espaço urbano. Ao período filipino corresponde a uma ampliação do esforço de ocupação do território, para o Norte, ameaçado por franceses, holandeses e ingleses e também para Sul (o Rio de Janeiro é fundado em 1565). Após a Restauração, o Brasil é a mais importante possessão portuguesa e sistematiza-se a ocupação do território. No final do século XVII, são quatro os objectivos para a colonização do interior: distribuir e rentabilizar as terras, assegurar a lei e a ordem, afirmar a presença portuguesa face à coroa espanhola e controlar a produção dos recentemente descobertos filões auríferos. Os arraiais mineiros realizados sem qualquer espécie de plano anterior foram a primeira face desta ocupação do interior. Mas o crescente interesse da Coroa levou à proliferação de novas cidades, por meio de Cartas Régias mais ou menos estandardizadas: determineis na vila o lugar da praça no meio da qual se levante pelourinho e se assinale a área para o edifício da Igreja […], e que façais delinear por linha recta a área para as casas com seus quintaes, e se designe o lugar para se edificarem a casa de Camara […] e mais oficinas publicas, e que todas devem ficar na área determinada para as casas dos moradores as quais pelo exterior sejam todas do mesmo perfil, […] de sorte que em todo o tempo se conserve a mesma fermosura da terra e a mesma largura das ruas. À época de João V lançou-se uma política de colonização por gentes dos Açores e da Madeira, algumas vezes com ajuda estatal durante o período de instalação. Fundaram-se neste reinado Vila Boa de Goiás (1739), no interior Oeste, e Mariana (cerca de 1730), a Sul. Esta política foi prosseguida no reinado subsequente, com grande empenho do marquês de Pombal, mas agora a região alvo foi, sobretudo, a amazónica. Era objectivo primeiro civilizar os autóctones, e isso significava fazê-los seguir modelos de comportamento europeus. Por outro lado, esta nova etapa da colonização brasileira teve a particularidade de ser apoiada por um conhecimento muito mais aprofundado do território. Foram fundadas neste período, entre outras, Bragança (1753), Borba (1756) e Barcelos, na região amazónica, e Vila Bela da Santíssima Trindade (1752), S. Miguel (cerca de 1760) e Balsemão (1768), no Mato Grosso. Já no reinado de dona Maria foram fundadas as cidades de Albuquerque (1778), Vila Maria do Paraguai (1778) e Casal Vasco (1783). Desta rápida passagem pelas fundações brasileiras, pode observar-se uma crescente regularização dos traçados, ainda que se apresentem das mais variadas formas». In Cátia Gonçalves Marques, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.

Cortesia de FCTUC/JDACT