«Revi Maha e, durante nossos encontros em Amsterdão e Viena, não pude evitar, enquanto o esperava, de pensar na volumosa correspondência recebida dos leitores de Encontros com o Insólito. Maha os impressionara e, ao ler tantas cartas, eu sentia a certeza de que, se minha descrição tivesse podido acompanhar, um pouco que fosse, a inolvidável impressão que emana desse ser extraordinário, a descrição, por si só, seria suficiente para comunicar aos outros as emoções que eu sentira. Parecia que, no momento da leitura, um vínculo subtil se estabelecia entre os leitores e Maha. Para muitos, ele não era mais apenas verdadeiro; passava a ser a sua verdade, aquela que está escondida no mais profundo de cada ser e que, às vezes, sob o estímulo imprevisto de uma narração, se eleva, gloriosa, diante de uma consciência deslumbrada. A verdade é uma, sob os múltiplos aspectos de que se reveste no mundo do fenómeno, e é quase um lugar-comum declarar que ela está em cada um de nós. Ora, seres como Maha situam-se no plano da verdade pura, e esse plano está em acordo com o universo da permanência que o homem traz para sempre em si próprio. Assim, não me surpreendia absolutamente constatar que alguns não viam em Maha um estranho, mas, ao contrário, digamos uma noção conhecida, encontrada com toda a sua força e seu vigor em si próprios, como se, de repente, as palavras, as frases, a narração os fizessem tomar consciência de um vínculo jamais rompido. Além disso, a missão planetária do Alto Conselho, do A..., diz respeito a todos os homens. Que existe de surpreendente que alguns tenham podido, por breves instantes, comunicar-se com tais representantes e pôr-se no mesmo diapasão do mais alto deles?...
Revi Maha e, apenas a esta
lembrança, sua imagem me parece muito próxima; tenho a sensação, sem igual, de
sua presença e meu ser estremece com a emoção habitual, jamais embotada por
este excepcional contacto. Não sei se observaram, nos Encontros com o Insólito, que ele
me parecia ter uns quarenta anos, nos retratos que eu observara em Copenhague e
em Lisboa. Quando o vi pessoalmente, pela primeira vez, supus que chegara aos
cinquenta, e esta impressão subsistiu em Istambul. No entanto, na incerteza,
nada mudei na minha narração. Em Amsterdão, pareceu-me mais jovem, em Viena,
mais idoso. Não sei como o encontrarei, dentro em breve, em Lisboa, em Madrid
e, um pouco mais tarde, em Atenas. Talvez que, terminando esta obra pela
descrição destes novos encontros, o que terei a dizer me faça esquecer uma
descrição inoportuna! Contarei aqui, de novo, a minha impressão totalmente
subjectiva. Se me pedissem para descrever Maha, seria tentado a responder: Ele tem olhos, e verdadeiramente não posso, mesmo agora,
usar de mais precisão sem correr o risco de cometer o erro de uma explicação
falsa. Creio que os olhos de
Maha reflectem um mundo,
um universo. Ele poderia comunicar-se unicamente com o olhar e, apesar da infinita
bondade que deles emana, as preocupações talvez dêem à pureza de seus olhos
claros uma expressão diferente; de forma que, segundo as circunstâncias, parece
ter mais ou menos idade. É, parece-me, a explicação da impressão que dá quanto
à idade. Além disso, que podem significar noções como o aspecto físico ou o comportamento
externo para semelhantes seres! Para eles, isso não tem interesse e, para quem
tem o privilégio de ter-se encontrado com eles, poderia haver outra inalterável
lembrança que o facto de ter estado em sua presença, no seu meio magnético e de
ter ouvido sua mensagem..., a mensagem!
Creio ser útil fazer aqui uma
advertência que estava implícita nos Encontros
com o Insólito. Houve, antes da última guerra mundial e, depois
dela, até por volta dos anos 50, um personagem bizarro que se atribuía o nome
de Maha Chohan. Falou-se
dele na França e nos Estados Unidos, onde a imprensa lhe dedicou alguns artigos
irónicos. Esse pseudo-rei do mundo não pretendia nada menos que pôr a mão em
organizações tradicionais autênticas, por motivos dificilmente confessáveis.
Foi rapidamente desmascarado e enviado de volta às suas quimeras; mas, tão
curioso quanto pareça, conservou alguns discípulos iludidos. Dele, de qualquer
modo, ninguém mais fala. Naturalmente,
não há nenhum termo de comparação entre o pseudo-Maha Chohan e o autêntico Maha.
O rei do mundo não procura,
seguramente, nenhuma publicidade e não se expõe à multidão sobre um estrado,
sustentado por artigos e comunicados. Poucas pessoas encontraram Maha sabendo que ele era Maha. O chefe do Alto Conselho
dissimula sua identidade verdadeira e sua função. Ele não trombeteia sua santa
condição como o fez esse aventureiro do oculto de que falamos, paramentando-se
de uma qualidade prestigiosa e recolhendo, aliás, como fruto de sua audácia,
mais que a reprovação, o ridículo. Revi Maha... Maha apenas e, de repente, revi
novamente o contacto de Amsterdão, depois o de Viena, esperando, para breve,
Lisboa, Madrid, Atenas enfim...» In Raymond Bernard, As Mansões secretas da
Rosacruz, 2000, Editora Zéfiro, 2000, ISBN 978-972-895-800-8.
JDACT, Raymond Bernard, Literatura,