terça-feira, 9 de novembro de 2021

As Mansões Secretas da Rosacruz. Raymond Bernard. «Nobre cidade que se faz tristeza para o triste, alegria para o alegre, corrente para o escravo ou liberdade para o livre, tu esposas as aspirações de teu visitante…»

Cortesia de wikipedia e jdact

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Amsterdão

Estranha cidade onde paira a sombra de Rembrandt, onde envelhecem sem envelhecer os históricos canais, onde o mar obstinado vem morrer contra o dique da obstinação humana, cidade de tradição que um grande mestre da Rosacruz do passado, Gustave Merinck, atravessou com suas lembranças, jamais o fluxo cosmopolita dos negócios que a invadem apagará a história que impregna os muros veneráveis de teus bairros antigos e mesmo que, em algum dia lúgubre, a Natureza em cólera te submergisse para sempre nas ondas torturadas do adversário, o sábio perpetuaria tua lembrança no templo sagrado da secreta sabedoria! Nobre cidade que se faz tristeza para o triste, alegria para o alegre, corrente para o escravo ou liberdade para o livre, tu esposas as aspirações de teu visitante e sabes até ser decepção para o decepcionado! Oh, como eu queria que o adepto verdadeiro, do lado de cá do presente, perscrutasse a eterna presença de todos aqueles que deixaram em ti a marca da alta sabedoria, pois não reservas teus segredos apenas para o clarividente que, com um olhar, apaga o inelutável moderno para melhor ver adiante! Para mim, já eras riqueza abrindo teus cofres repletos de jóias de alquimia. Agora, és mais ainda para mim, porque doravante associo Maha à tua lembrança...

O Hotel Carlton, de Amsterdão, fica próximo do centro da cidade e dá para uma rua movimentada, do lado de arcadas cuja razão de ser nos intriga. À minha chegada, fico sabendo que, contrariamente ao que me assegurou a minha agência, nenhum quarto foi reservado em meu nome. Diante da importância do encontro marcado neste hotel, chamo a agência de Paris ao telefone. Conseguirei a ligação...

Após uma hora de espera e, mal terminei, o recepcionista precipita-se na minha direcção para me informar que minha reserva foi encontrada e que um quarto estará à minha disposição…, amanhã! Como meu encontro está marcado para as dezassete horas, não protesto, e o porteiro encontra-me facilmente um quarto para a noite no Hotel Suíço, na Kalverstraat Nem mesmo abrirei minha bagagem, tanto me apresso em voltar ao local do esperado encontro. No dia seguinte, ao meio-dia, estou instalado no Hotel Carlton e, às 16h30min, estou sentado no pequeno hall, os olhos fixados na porta que deve, daí a pouco, trazer Maha.

Ei-lo! Vejo-o transpor a grande porta envidraçada... Aí está ele diante de mim, e eu diante dele, que permanece de pé, sem me dar conta de que devia fazer um esforço para levantar-me. Como é impressionante sentir, de repente, que se está em algum lugar sem lá ainda estar, que um mundo nos cerca e que não percebemos mais nada..., mais nada, a não ser uns olhos de extrema palidez, nos quais todo o nosso ser se abandona, não para esquecer, mas para conhecer..., e viver! E esse sorriso de uma infinita bondade..., um encorajamento, um apelo à confiança, à humildade, à simplicidade! Em alguns segundos irrompem na minha consciência as impressões passadas: Lisboa..., Istambul, a cripta deslumbrante. Tudo é uma coisa só. Quanto tempo dura este estado? Alguns segundos, menos ainda..., eu sei e, afinal, que me importa? Podem noções como o tempo e o espaço ter significado diante da eternidade simbolizada por esse que aí está? Ele não faz nenhum gesto e não dá o sinal que, há algum tempo, eu aguardava». In Raymond Bernard, As Mansões secretas da Rosacruz, 2000, Editora Zéfiro, 2000, ISBN 978-972-895-800-8.

Cortesia de EZéfiro/JDACT

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