«Regina Ashton já recusou tantos pretendentes à sua mão que a alta-sociedade londrina a considera uma snob sem coração. Não podiam estar mais enganados. Órfã desde cedo, Regina é a sobrinha superprotegida de lord Edward e lady Charlotte Malory, a quem é muito difícil agradar. Aos olhos dos tios, nenhum dos jovens candidatos é suficientemente bom. Cansada de tão infrutífera busca, a jovem sai de casa numa noite escura, decidida a informá-los de que não pensa casar…, nunca! Mas o seu plano coloca-a no sítio errado à hora errada, e é raptada por engano. A sua ira perante a arrogância do raptor, Nicholas Eden, vai inesperadamente dar lugar a sentimentos contraditórios de paixão e vergonha. Aquela noite não mais lhe sairá da cabeça. O visconde Nicholas Eden também tinha um plano: dar uma lição à sua amante descontente, raptando-a ao abrigo da noite. Não contava enganar-se na pessoa e arruinar a reputação de uma menina de família. Mas agora, movido pelo desejo mais desenfreado que alguma vez sentiu, é a custo que reconhece que nunca poderá casar com Regina, apesar do escândalo que paira sobre eles. Implacável, é o destino que os uniu a afastá-los irremediavelmente, ainda que ambos saibam que um amor assim só se vive uma vez…» In Resumo
Londres 1817
«Os
dedos que seguravam a garrafa de cristal com brandy eram longos e
delicados. Selena Eddington tinha muito orgulho das suas mãos. Exibia-as sempre
que surgia uma oportunidade, como naquele momento. Levou a garrafa de cristal a
Nicholas, em vez de pegar no copo dele para o encher de brandy. Esta acção deliberada também possuía uma outra finalidade:
permitia-lhe ficar de pé à frente dele, que se encontrava recostado num
sumptuoso sofá azul, com a luz da lareira nas costas, delineando-lhe de forma
provocadora a figura através do fino vestido de noite de musselina. Nem mesmo
um libertino inveterado como Nicholas Eden podia deixar de apreciar um belo
corpo feminino. Um rubi enorme cintilava-lhe na mão esquerda enquanto segurava
o copo de Nicholas e servia o brandy.
Era a aliança de casamento. Ainda a usava com orgulho, embora já tivesse
enviuvado há dois anos. O seu pescoço estava rodeado por mais rubis, mas nem o
mais extraordinário dos rubis podia relegar para segundo plano o seu decote,
extraordinariamente descido, o que significava uns meros dez centímetros de
tecido antes de a cintura alta cingida do vestido de estilo império se precipitar
em linhas direitas até aos seus calcanhares elegantes. O vestido era de uma cor
magenta carregada e escura que condizia maravilhosamente com os rubis e com a
própria figura de Selena. Estás a ouvir o que estou a dizer, Nicky? Nicholas
exibia aquela expressão pensativa irritante que ela reconhecia cada vez mais
nele ultimamente. Não estava a ouvir absolutamente nada do que ela dizia, mas
estava absorto em pensamentos que decerto não a incluíam. Nem sequer a tinha
mirado de relance enquanto ela lhe servia o brandy. Francamente, Nicky, não é nada simpática a forma como te
ausentas e me abandonas quando estamos juntos na mesma divisão sem mais ninguém.
Deixou-se ficar diante de Nicholas até ele erguer o olhar para ela. O que foi
que disseste, minha querida? Os olhos cor de avelã dela faiscaram. Teria começado
a bater o pé, se se atrevesse a deixá-lo ver o seu terrível mau génio. Ele
estava tão provocador, tão indiferente, tão..., impossível! Se não fosse tão bom
partido... Medindo cuidadosamente as palavras, disse calmamente: O baile,
Nicky. Tenho estado a falar sobre isso, mas não estás a prestar atenção. Se
quiseres, mudo de assunto, mas só se me prometeres que não chegas atrasado
quando me vieres buscar amanhã. Que baile? Selena abriu a boca, verdadeiramente
espantada. Ele não estava a tentar baralhá-la nem a fingir indiferença. Aquele
homem exasperante realmente não fazia a menor ideia do que ela estava a falar.
Não brinques
comigo, Nicky. O baile dos Shepford. Tu sabes o quanto tenho estado a aguardá-lo.
Ah, sim, disse ele secamente. O baile que irá superar todos os outros, apesar
de ainda estarmos no início da temporada. Ela fingiu não reparar no seu tom de
voz. Também sabes quanto tempo eu esperei por um convite para um dos bailes da
duquesa de Shepford. Este promete ser o seu baile mais grandioso dos últimos
anos. Praticamente todas as pessoas que importam vão estar presentes. E depois?
Selena contou lentamente até cinco. E depois ficarei para morrer se chegar nem
que seja um minuto atrasada. Os lábios dele arquearam-se num sorriso trocista
familiar. Ficas para morrer demasiadas vezes, minha querida. Não devias levar a
lufa-lufa social tão a sério. Devia ser mais como tu? Se pudesse, ela voltava
atrás. O seu mau génio estava muito perto de explodir e isso seria desastroso.
Sabia o quanto ele condenava o excesso de emoção em qualquer pessoa, embora
fosse perfeitamente aceitável dar largas ao seu próprio mau génio, que podia
ser bastante desagradável.
Nicholas limitou-se a encolher os ombros. Podes chamar-me excêntrico,
minha querida, um dos poucos que se está a marimbar para toda aquela gente. Aquela
era uma grande verdade. Ele ignorava e insultava quem lhe apetecia. De igual
modo, também escolhia os amigos como queria, mesmo bastardos publicamente
conhecidos que eram desprezados pela sociedade. E nunca tentava agradar a ninguém.
Era tão arrogante como todos diziam que era. Mas também conseguia ser
devastadoramente charmoso, quando queria. Milagrosamente, Selena conseguiu
controlar o seu mau génio. Não obstante esse facto, Nicky, prometeste que me
acompanhavas ao baile dos Shepford. Prometi?, perguntou ele indolentemente. Sim,
prometeste, conseguiu responder-lhe com calma. E vais prometer-me que não te
vais atrasar quando me vieres buscar, certo?» In Johanna Lindsey,
Só se Ama uma Vez, Edições ASA, 2015, ISBN 978-989-233-033-4.
Cortesia de EdiçõesASA/JDACT
JDACT, Johanna Lindsey, Literatura,