«A data da
restauração da diocese de Braga e da consequente nomeação do primeiro bispo
Pedro está ainda por averiguar com precisão, apesar dos esforços de vários
historiadores, que indicam como limites extremos os anos de 1067
e 1072. A opinião mais corrente é, todavia, a dos anos 1070
e 1071, como diz Carl Erdmann: … cêrca de 1070 ou 1071 Braga é elevada de novo a diocese, o qual
parece preferir 1070: … já dos primeiros anos do pontificado do
bispo Pedro (entre 1070-1093) encontramos diplomas que falam duma cathedra
metropolitana. O ilustre medievalista Pierre David, que consagrou
notabilíssimos trabalhos à nossa história e cultura medievais, não conseguiu
resolver a dificuldade, perfilhando a opinião de Erdmann: … un évéque fut designé par Sanche, frère et vainqueur de Garcia (1070
ou 1071). Pierre ce nouvel évéque … e Pierre nommé vers 1070. Embora seja
relativamente escassa a documentação existente, parece-nos que, passando-a em
revista e examinando-a a uma nova luz, se pode concluir, com relativa
segurança, que a restauração da diocese de Braga e a nomeação do bispo Pedro se
deram em 1070. Não sendo aceitável a afirmação do Catálogo dos
Bispos de Braga, que atribuía a nomeação de Pedro a 1067, é de 1 de Maio de 1070
o primeiro documento em que Pedro aparece como bispo desta cidade. Este
documento e outros que o mencionam como bispo de Braga na primeira metade de 1071 põem-nos diante dum sério dilema, ou estes documentos são suspeitos ou,
pelo menos, mal datados ou então Pedro foi eleito não pelo rei Sancho II, como
sempre se tem dito, mas sim pelo governador Garcia.
Já vários historiadores se deram conta da
dificuldade, procurando resolvê-la de maneiras diferentes. Assim, para João
Pedro Ribeiro o documento de 1 de Maio de 1070 é inaceitável por se não harmonizar com a cronologia de Garcia
na Galiza. O cardeal Saraiva e mons. José Augusto Ferreira, por sua vez,
anteciparam a deposição do governador Garcia para 1070, ano em que colocaram a eleição do bispo Pedro. Pierre David,
finalmente, depois de ter afirmado por três vezes que Pedro fora eleito por
Sancho II, ficou na dúvida e escreveu: … o bispo c’était alors Pierre nommé vers 1070 par Garcia ou Sanche II, et mis en
possession de ce siege non encore rétabli dans la dignité archiépiscopale. O
ilustre historiador foi, que saibamos, o primeiro a admitir a possibilidade de
Pedro ter sido eleito pelo governador Garcia. E a dificuldade em fixar a
eleição em 1070 ficará, na verdade,
definitivamente resolvida, se se conseguir provar que esta se deve a Garcia. Examinemos,
portanto, os documentos, que, para melhor ordenação, podemos dividir em três
grupos: 1. Os últimos documentos relativos
a Garcia; 2. Os primeiros documentos
em que Pedro aparece como bispo da Braga; 3.
Os documentos que expressamente se referem à eleição do bispo (ou arcebispo)
Pedro.
1. Atestam-nos os documentos que Garcia reinou
até meados de Março de 1071, pelo
menos. É, com efeito, sua própria irmã D. Elvira que, na doação feita à sé de
Orense, em 31 de Julho de 1071,
afirma ter Sancho invadido a Galiza neste ano, presenti anno, dum in hac provincia Galleciae ingressus est domnus
Sancius rex... Ora foi precisamente nesta invasão que ele venceu e destronou
seu irmão Garcia, que, ainda a 1 de Fevereiro de 1071, doou Vilar de Mouros à sé de Tui. Foi ainda neste ano que os homens
de armas de Portugal, sob o comando do conde Nuno Mendes, se revoltaram
contra Garcia, que os venceu na batalha de Pedroso, em que Nuno Mendes
perdeu a vida, habebantque tune caput
in ipso bello comitem Nuno Menendiz; periit ipse ibi et cuncti alii sui
fugerunt.
Este combate,
travado entre Braga e o rio Cávado, não se deu na Era 1109, 15.º
calendas Februarii, ou seja a 18 de Janeiro de 1071, como diz a Chronica Gothorum, porque um mês
depois, a 17 de Fevereiro, ainda o conde Nuno Mendes e sua mulher a condessa D.
Goncina doaram ao mosteiro de Santo Antonino de Barbudo, do concelho de Vila
Verde, uma herdade que possuíam em Luivão, na vizinha freguesia da Laje, não
longe do Cávado, Ego, comes Nunus
Menendiz et uxor mea comitissa domna Goncina (...) Facta series testamenti XIII
Kalendas Marcii Era M.ª C.ª VIIII.ª. Neste documento não deve haver
erro quanto ao ano, porque estando nesta parte do Liber Fídei a
documentação disposta cronologicamente, a doação do conde Nunes Mendes se
encontra entre um documento de 30 de Outubro de 1070 e outro de 31 de Maio
de 1071. Também não parece haver erro quanto ao mês, porque não é fácil confundir
XIII Kalendas Marcii com Februarii. Torna-se,
portanto, perfeitamente aceitável a data de 17 de Fevereiro de 1071, o que obriga a corrigir a data
atribuída ao combate de Pedroso pela Chronica
Gothorum, que também errou ao datar a morte de Afonso V e a conquista
de Coimbra». In Avelino J. Costa, A Restauração da Diocese
de Braga em 1070, Lusitania Sacra, Revista do Centro de Estudos de História
Religiosa, tomo I, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, 1956.
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