quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Restauração da Diocese de Braga em 1070. Avelino J. Costa. «É, com efeito, sua própria irmã D. Elvira que, na doação feita à sé de Orense, em 31 de Julho de 1071, afirma ter Sancho invadido a Galiza neste ano, ‘presenti anno, dum in hac provincia Galleciae ingressus est domnus Sancius rex...’»

Cortesia de wikipedia

«A data da restauração da diocese de Braga e da consequente nomeação do primeiro bispo Pedro está ainda por averiguar com precisão, apesar dos esforços de vários historiadores, que indicam como limites extremos os anos de 1067 e 1072. A opinião mais corrente é, todavia, a dos anos 1070 e 1071, como diz Carl Erdmann: … cêrca de 1070 ou 1071 Braga é elevada de novo a diocese, o qual parece preferir 1070: … já dos primeiros anos do pontificado do bispo Pedro (entre 1070-1093) encontramos diplomas que falam duma cathedra metropolitana. O ilustre medievalista Pierre David, que consagrou notabilíssimos trabalhos à nossa história e cultura medievais, não conseguiu resolver a dificuldade, perfilhando a opinião de Erdmann: … un évéque fut designé par Sanche, frère et vainqueur de Garcia (1070 ou 1071). Pierre ce nouvel évéque … e Pierre nommé vers 1070. Embora seja relativamente escassa a documentação existente, parece-nos que, passando-a em revista e examinando-a a uma nova luz, se pode concluir, com relativa segurança, que a restauração da diocese de Braga e a nomeação do bispo Pedro se deram em 1070. Não sendo aceitável a afirmação do Catálogo dos Bispos de Braga, que atribuía a nomeação de Pedro a 1067, é de 1 de Maio de 1070 o primeiro documento em que Pedro aparece como bispo desta cidade. Este documento e outros que o mencionam como bispo de Braga na primeira metade de 1071 põem-nos diante dum sério dilema, ou estes documentos são suspeitos ou, pelo menos, mal datados ou então Pedro foi eleito não pelo rei Sancho II, como sempre se tem dito, mas sim pelo governador Garcia.
Já vários historiadores se deram conta da dificuldade, procurando resolvê-la de maneiras diferentes. Assim, para João Pedro Ribeiro o documento de 1 de Maio de 1070 é inaceitável por se não harmonizar com a cronologia de Garcia na Galiza. O cardeal Saraiva e mons. José Augusto Ferreira, por sua vez, anteciparam a deposição do governador Garcia para 1070, ano em que colocaram a eleição do bispo Pedro. Pierre David, finalmente, depois de ter afirmado por três vezes que Pedro fora eleito por Sancho II, ficou na dúvida e escreveu: … o bispo c’était alors Pierre nommé vers 1070 par Garcia ou Sanche II, et mis en possession de ce siege non encore rétabli dans la dignité archiépiscopale. O ilustre historiador foi, que saibamos, o primeiro a admitir a possibilidade de Pedro ter sido eleito pelo governador Garcia. E a dificuldade em fixar a eleição em 1070 ficará, na verdade, definitivamente resolvida, se se conseguir provar que esta se deve a Garcia. Examinemos, portanto, os documentos, que, para melhor ordenação, podemos dividir em três grupos: 1. Os últimos documentos relativos a Garcia; 2. Os primeiros documentos em que Pedro aparece como bispo da Braga; 3. Os documentos que expressamente se referem à eleição do bispo (ou arcebispo) Pedro.

1. Atestam-nos os documentos que Garcia reinou até meados de Março de 1071, pelo menos. É, com efeito, sua própria irmã D. Elvira que, na doação feita à sé de Orense, em 31 de Julho de 1071, afirma ter Sancho invadido a Galiza neste ano, presenti anno, dum in hac provincia Galleciae ingressus est domnus Sancius rex... Ora foi precisamente nesta invasão que ele venceu e destronou seu irmão Garcia, que, ainda a 1 de Fevereiro de 1071, doou Vilar de Mouros à sé de Tui. Foi ainda neste ano que os homens de armas de Portugal, sob o comando do conde Nuno Mendes, se revoltaram contra Garcia, que os venceu na batalha de Pedroso, em que Nuno Mendes perdeu a vida, habebantque tune caput in ipso bello comitem Nuno Menendiz; periit ipse ibi et cuncti alii sui fugerunt.
Este combate, travado entre Braga e o rio Cávado, não se deu na Era 1109, 15.º calendas Februarii, ou seja a 18 de Janeiro de 1071, como diz a Chronica Gothorum, porque um mês depois, a 17 de Fevereiro, ainda o conde Nuno Mendes e sua mulher a condessa D. Goncina doaram ao mosteiro de Santo Antonino de Barbudo, do concelho de Vila Verde, uma herdade que possuíam em Luivão, na vizinha freguesia da Laje, não longe do Cávado, Ego, comes Nunus Menendiz et uxor mea comitissa domna Goncina (...) Facta series testamenti XIII Kalendas Marcii Era M.ª C.ª VIIII.ª. Neste documento não deve haver erro quanto ao ano, porque estando nesta parte do Liber Fídei a documentação disposta cronologicamente, a doação do conde Nunes Mendes se encontra entre um documento de 30 de Outubro de 1070 e outro de 31 de Maio de 1071. Também não parece haver erro quanto ao mês, porque não é fácil confundir XIII Kalendas Marcii com Februarii. Torna-se, portanto, perfeitamente aceitável a data de 17 de Fevereiro de 1071, o que obriga a corrigir a data atribuída ao combate de Pedroso pela Chronica Gothorum, que também errou ao datar a morte de Afonso V e a conquista de Coimbra». In Avelino J. Costa, A Restauração da Diocese de Braga em 1070, Lusitania Sacra, Revista do Centro de Estudos de História Religiosa, tomo I, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, 1956.

Cortesia de RLusitaniaSacra/JDACT