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«(…)
Fátima«Fadada foste ao gesto e à
palavra
o corpo tão daninho que te habita
mulher que não domaste e te desgosta
maina te possui
plácida escondida
Escassa é a medida
em que te evitase nunca saciada ao próprio espanto
quebras
nela o risco
em ti o que persiste no metal luminoso
em que te encerras
Não é pois já em ti
que o sol tem o bronzemas antes nela o som a prata trabalhada
a luz que lembra a forma e no poente
enterra até ao fundo a sua faca
Se tens domada a raiva
no seu gumetão fêmea tu e firme na febre
debruçada
atenta és à pele onde suspendes
os dedos na pressa da voragem
Que abandonada estás
fátima por tie bem amada
Vingada vens do tempo
e a vencestetão bem talhada ao peito
em que a criaste
no maneio de anca nas coxas que crispaste
a ladear a cama em que a perdeste
De sede fátima devoras a firmeza
e tão fecunda ou dortornaste a tua fala
que és teu próprio alimento e teu sustento
na solidão imensa em que
resvalas
Que maina foste
mulher que te mantémmaldição de terra envenenada
intacta suspeita e boca amena
cintura branda
joelhos-madrugada
Se mágoa desmanchas Fátima
em segredocomo quem borda o pano sobre as nádegas
a camisa descansas costurada
por mãos que maina recusava
a só estar presa
O nojo conheceste e o mordeste
o trocaste em fruto de paisagemna rua desenhada
que escolheste
para gerares futuro em tua casa
Que abandonada estás
fátima por ti
e bem amada
Faminta te darás
avessa te conheçoa deixares embora sem desgosto
que alguém te possua pelo corpo
se caça fores somente e de seu preço
teres de ceder à arma a linha do pescoço
Pecado de mudez que não
a tua
só maina na herança de outras vozes
nunca pactua
Malquerença que descobres
brevementetalvez ferida fátima ou ferro fátuo
que de manso o Verão te chega aos nervos
e nunca o mar obrigas sob os braços
nas tão breves arestas de alegria
que tu alheia usas sobre o fato
Fadada foste então
à luze às secas margens
aos lisos gestos tão fiéis a maina
que áridos parecem mas não fáceis
de ti te distancias
e a medida é justa
como se de roupa fátima te fosse executada
à água
Maligna pois te habita maina
ou tu te habitas Fátimaem palavras. 11/3/71»
In Maria Isabel Barreno, Maria Teresa
Horta, Maria Velho Costa, Novas Cartas Portuguesas, 1972, edição anotada,
Publicações dom Quixote, 1998, 2010, ISBN 978-972-204-011-2.