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Um homem, a igreja e a maçonaria branca
«(…) Mais tarde, ofereceria à Igreja uma
organização que promove precisamente o sofrimento como forma de aproximação a
Deus: o Opus Dei. Até 1935, o Opus Dei funcionou, no entanto, à margem da Igreja
Católica. E muito limitado, isto porque em 1931 é implantada a Segunda
República Espanhola, com inspiração anticlerical e fortemente influenciada pela
maçonaria. O governo republicano (de esquerda) começa a hostilizar sacerdotes e
Josemaría aprofunda as suas reflexões contra o ateísmo e começa a frequentar
grupos de conspiradores contra o governo. O primeiro retiro do Opus Dei é
organizado já em 1953, num evento com pouca gente, mas com a participação de
conspiradores contra o governo republicano. No mesmo ano, abre o primeiro
centro do Opus Dei: a Academia DyA, em Madrid, que, como o nome indica (Derecho
y Arquitectura), era direcionada para estudantes de Direito e Arquitectura e
que acabou por se transformar em residência universitária. O facto de ser
opositor dos republicanos fez com que o fundador da obra ganhasse estatuto e
influência no período pós-Guerra Civil. Francisco Franco venceu e a conjuntura,
com uma ditadura de direita, conservadora e clerical, começou a ser favorável a
Josemaría e ao crescimento do Opus Dei. O general não esqueceu o apoio do fundador
do Opus Dei durante a Guerra Civil, chegando a integrar a primeira coluna militar
liderada por Franco no ataque a Madrid. Na sequência desta ligação, o ministro
da Educação e da Cultura do primeiro governo franquista, José Ibáñez-Martín,
nomeou mesmo Escrivá membro do Conselho Nacional de Educação. Era um lugar que
apreciava, pois podia influenciar a deriva da cultura, da educação e dos costumes
do país, algo que tentou fazer ao longo da vida com os milhares de membros que
foram passando pela organização que fundou. Uma espécie de aculturação, em nome
de Deus. Em 1939, Escrivá escreve a obra Caminho, que tem 999 máximas e
é uma espécie de guião espiritual do Opus Dei. Começa também toda a fase de
preparação da organização tal como hoje é conhecida. A 14 de Fevereiro de 1943,
é fundada a Sociedade Sacerdotal de Santa Cruz, que acaba por ser a primeira
forma de organização reconhecida pela Igreja. Em Junho do mesmo ano, o bispo
Eijo Garay requer a legalização do Opus Dei como uma associação de fiéis, o que
será aceite pelo bispo de Madrid, em Dezembro. Quatro anos depois, é a vez de o
Vaticano, já em 1947, decretar o Opus Dei como instituto secular, ficando com o
nome oficial de Sociedade Sacerdotal de Santa Cruz e Opus Dei, Em 1982, João
Paulo II oficializa o Opus Dei como a primeira prelatura pessoal da Igreja Católica.
Estatuto que ainda tem hoje». In Rui Pedro Antunes, Opus Dei, Matéria-Prima
Edições, Lisboa, 2016, ISBN 978-989-769-075-4.
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