«(…) Assim em cima como em baixo, disse o homem. Langdon sentiu um calafrio. Aquela estranha resposta era um antigo adágio hermético que afirmava uma crença na conexão física entre o céu e a terra. Assim em cima como em baixo. Langdon correu os olhos pelo amplo salão e se perguntou como as coisas tinham fugido tão subitamente ao seu controle naquela noite. Olhe aqui, eu não sei como encontrar portal antigo nenhum. Vou chamar a polícia. O senhor realmente ainda não entendeu, não é? O motivo porque foi escolhido? Não, disse Langdon. Mas vai entender, retrucou o homem com uma risadinha. A qualquer momento. Então a ligação foi cortada. Langdon ficou parado por vários segundos aterrorizantes, tentando processar o que havia acabado de acontecer. De repente, ao longe, ouviu um som inesperado. Vinha da Rotunda. Alguém estava gritando.
Robert
Langdon já havia entrado na Rotunda do Capitólio várias vezes na vida, mas
nunca correndo a toda a velocidade. Quando atravessou, em corrida, a entrada
norte, viu um grupo de turistas aglomerado no centro da sala. Um menininho
gritava e seus pais tentavam acalmá-lo. Outras pessoas se juntavam à sua volta
enquanto os seguranças faziam o possível para restaurar a ordem. Ele tirou de
dentro da tipóia, disse alguém com a voz histérica, e simplesmente largou ali! Ao
se aproximar, Langdon viu pela primeira vez o que estava causando todo aquele
estardalhaço. De facto, o objecto no chão do Capitólio era estranho, mas a sua
presença não justificava tanta gritaria. Langdon já vira muitas vezes o objecto
caído no chão. O departamento de artes de Harvard tinha dezenas deles, modelos
de plástico em tamanho natural, usados por escultores e pintores para ajudá-los
a reproduzir a parte mais complexa do corpo humano, que surpreendentemente não
era o rosto, e sim a mão. Alguém deixou a mão de um manequim dentro da Rotunda?
Mãos de
manequim tinham dedos articulados que permitiam a um artista colocá-los na
posição que quisesse, o que, para os alunos de segundo ano da universidade,
geralmente significava com o dedo médio em riste. Aquela, porém, havia sido
posicionada com o indicador e o polegar apontados para o tecto.
No
entanto, quando Langdon se aproximou, percebeu que aquela mão de manequim era
peculiar. Sua superfície de plástico não era lisa como a maioria. Pelo
contrário, era cheia de manchas e levemente enrugada, quase parecida com... Pele
de verdade. Langdon parou abruptamente. Foi então que viu o sangue. Meu Deus!
O
pulso cortado parecia ter sido fincado numa base de
madeira com um prego para ficar em pé. Uma onda de náusea atravessou seu corpo. Langdon foi-se aproximando
devagar, sem conseguir respirar, vendo agora que as pontas do indicador e do
polegar haviam sido decoradas com minúsculas tatuagens. Mas não foram as
tatuagens que chamaram sua atenção. Seu olhar se moveu instantaneamente para o
conhecido anel de ouro no dedo anelar. Não. Langdon recuou. O mundo à sua volta
começou a girar quando ele percebeu que estava olhando para a mão direita
cortada de Peter Solomon». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009,
Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT