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Voz feminina de
alta categoria poética, Gilka Machado está entre as mulheres que, durante o
tempo em que
construíram suas obras, não tiveram o justo reconhecimento de seu valor. Felizmente,
o facto de ter alcançado a idade de 87 anos, permitiu-lhe conhecer em vida a consagração
dos meios oficiais. De família de poetas, músicos e artistas, Gilka Machado revelou
muito cedo sua atracção pela poesia. Estreia em livro, com Cristais partidos,
poesia que expressa o sincretismo finissecular (fusão de parnasianismo,
decadentismo e esteticismo d’annunziano), e a ousada temática do desejo erótico
ou de desafio ao interdito ao sexo, mas sempre em conflito com uma funda ânsia
de pureza. É em Gilka Machado que se expressa com mais evidência o conflito
entre o pecado e o desejo de pureza, impulsos que a tradição estigmatizara como
contraditórios e excludentes».
A vez primeira em que fitei Tereza
«A vez primeira
em que te vi
comigo,
de olhos voltados
para
os olhos meus,
ante o impossível
de seguir-te,
amigo,
tive desejos
de dizer-te adeus
Passaram meses...
Nosso amor crescia
(e assim o houvesse
conservado Deus!)
Naquela sereníssima
agonia
trocando olhares
e dizendo adeus!
Tentei fugir,
mas fui por ti
vencida,
e, um dia,
presa entre os
braços teus,
tive a impressão
da extrema
despedida...
Primeiro beijo,
derradeiro adeus!...
Veio-te a saciedade
do desejo;
teceu o fado
os labirintos
seus...
Tão perto ainda
e já quão longe
vejo
o teu amor
a me dizer adeus!
Passou depressa...
Como que se evade
teu lindo vulto,
entre os soluços
meus...
Vieste para deixar
esta saudade
a me acenar,
num imortal adeus!...»
Meu Glorioso Pecado
«Se te injuriei,
por uma rebeldia
dos meus nervos
exaustos de pesar,
pensa com que
perversa hipocrisia
tu me agastaste
para me magoar!
Pensa que, só por
teu sabor de um dia
glória de uma
conquista singular
minha vida perdeu
toda a alegria,
é uma morte que vivo devagar!
Sempre a revolta
vem de uma agonia:
a injúria ser um
beijo poderia,
teu beijo
envenenou-me o paladar
Medita alma volúvel, alma fria:
Quanta vez uma
ofensa acaricia!
Como um carinho sabe nos matar!»
Poema de Gilka Machado, in Wikipedia
Cortesia de wikipedia/JDACT
Poesia, JDACT, Gilka Machado, Brasil,