quarta-feira, 16 de junho de 2021

Lucrécia Borgia. Jean Plaidy. «Um grande futuro aguarda vocês dois. Confiem em mim, que vou julgar aquilo que é melhor para vocês»


Cortesia de wikipedia e jdact

Monte Giordano

«(…) Adriana, da casa de Mila, era uma mulher muito ambiciosa. O pai, um dos sobrinhos de Calisto III, tinha ido para a Itália quando o tio se tornara papa, porque parecia que sob aquela benigna e poderosa influência poderia haver um grande futuro para ele. Adriana, portanto, era parenta de Roderigo Bórgia, que a tinha em grande estima, porque era uma mulher não apenas bonita, mas inteligente. Fora devido a essas qualidades que ela se casara com Ludovico, da nobre casa de Orsini, e os Orsini eram uma das mais poderosas famílias da Itália. Adriana tinha um filho que recebera o nome de Orsino; este menino era doente e, por ser vesgo, muito pouco atraente, mas devido à sua posição, herdeiro de uma grande fortuna, Adriana esperava conseguir um brilhante casamento para ele. Os Orsini tinham muitos palácios em Roma, mas Adriana e sua família moravam no que ficava no Monte Giordano, perto da ponte de Santo Angelo. E foi para esse palácio que Lucrécia e César foram enviados depois de se despedirem dos irmãos e da mãe. Ali, a vida era muito diferente do que na casa que dava para a Piazza Pizzo di Merlo. Com Vannozza tinha havido uma alegria despreocupada, e as crianças desfrutavam de uma grande liberdade. Podiam andar pelos vinhedos, ou fazer viagens no rio; visitavam com frequência o Campo di Fiori, onde o misturar-se com todos os tipos de pessoas lhes dera um grande prazer. César e Lucrécia perceberam que a vida realmente mudara.

Adriana inspirava um medo respeitoso. Era uma mulher bonita, mas estava sempre vestida de um preto protocolar, insistindo constantemente que não se devia esquecer que aquela era uma casa espanhola, muito embora estivesse situada no coração da Itália. Com suas imponentes torres e fortificações em ameias dominando o Tibre, o palácio era sombrio; suas grossas paredes impediam a entrada da luz do sol e da alegria da Roma que as crianças tinham conhecido e amado. Adriana nunca ria como Vannozza, e nela nada havia de calor e amor. Ela tinha muitos padres morando no palácio; havia orações constantes, e, por conseguinte, Lucrécia acreditava, naqueles primeiros anos no palácio dos Orsini, que sua mãe de criação era uma mulher muito virtuosa. César se irritava contra a disciplina, mas nem ele podia fazer qualquer coisa contra ela, até ele estava intimidado pelo sombrio palácio, pelas muitas orações e pelo sentimento de que o palácio era uma prisão na qual ele e Lucrécia tinham sido encarcerados, enquanto Giovanni pudera ir com pompa e esplendor para a Espanha e a glória.

César remoía em silêncio. Não tinha acessos de raiva como acontecia em casa de sua mãe; ficava mal humorado e às vezes sua raiva dominada deixava Lucrécia com medo. Então, ela se agarrava a ele e lhe pedia que não ficasse triste; cobria-o de beijos e bradava que era dele que ela mais gostava..., mais do que de qualquer outra pessoa no mundo, que iria amá-lo aquele dia, no dia seguinte e para sempre. Nem mesmo essa declaração conseguia acalmá-lo, e ele continuava sorumbático e infeliz, mas às vezes voltava-se para ela e a agarrava num daqueles abraços ferozes que a machucavam e a excitavam. Então, ele dizia: nós estamos juntos, irmãzinha. Sempre vamos amar um ao outro..., mais do que tudo no mundo..., mais do que tudo no mundo inteiro. Jure. E ela jurava. Às vezes, os dois ficavam deitados juntos na cama dela ou na dele. Ela ia até lá para consola-lo, e ele ia procura-la em busca de consolo. Então, ele falava sobre Giovanni e no quanto a vida era injusta. Porque o pai deles adorava Giovanni?, perguntava César. Porque César não tinha sido o escolhido para ir para a Espanha? César nunca entraria para a Igreja. Ele odiava a Igreja, odiava..., odiava.

Sua veemência a assustava. Ela se benzia e lembrava-o de que dava azar falar assim contra a Igreja. Os santos ou, talvez, o Espírito Santo poderiam ficar zangados e vir castiga-lo. Ela dizia que estava com medo; mas dizia aquilo para dar a ele a oportunidade de consola-la, de lembrá-la de que ele era o grande César, que não tinha medo de ninguém, e ela era a pequena Lucrécia, que devia ser protegida. Às vezes ela o fazia esquecer da raiva contra Giovanni. Às vezes, eles riam juntos e lembravam-se de como tinham se divertido nas idas ao Campo di Fiori. E então juravam que, acontecesse o que acontecesse, iriam sempre amar um ao outro mais do que a qualquer outra pessoa no mundo. Mas, durante aqueles primeiros meses, as crianças sentiam que eram prisioneiras. Roderigo ia visitá-los em Monte Giordano. No princípio, César pedia que os deixassem ir para casa, mas Roderigo, apesar de pai extremoso, sabia ser duro quando achava estar agindo para o bem dos filhos. Meus queridos, dizia ele, na casa de sua mãe, vocês faziam suas travessuras. Mas fazer travessuras é coisa de criancinha, não de crianças crescidas. Não é apropriado que vocês passem o tempo naquela casa humilde. Um grande futuro aguarda vocês dois. Confiem em mim, que vou julgar aquilo que é melhor para vocês». In Jean Plaidy, Lucrécia Borgia, Edição Record, 1996, ISBN 978-850-104-410-5.

 

Cortesia de ERecord/JDACT

 

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