Fotografia de Augusto Rainho
Cortesia de edicoescolibri
O político. Na Câmara dos Deputados
«Se é verdade que a carreira académica de José Frederico Laranjo foi relevante, e que o seu contributo nos campos científico e pedagógico não pode ser ignorado, existe outra vertente da sua vida que se sobrepôs, indiscutivelmente, à de professor universitário. Durante trinta anos, empenhou-se na luta política convertendo-se numa das mais importantes figuras da sua região e com amplo prestígio a nível nacional. José Manuel da Costa tinha razão ao afirmar, na sessão que em Castelo de Vide assinalou o centenário do seu nascimento, que «no Doutor José Frederico Laranjo o político esbateu o homem de ciência».
A sua actividade política iniciou-se em 1877 nas fileiras do recém-fundado Partido Progressista. Até então, a vida nacional era, e continuou a ser durante mais algum tempo, dominada pelo Partido Regenerador onde pontificava Fontes Pereira de Melo. Os dois partidos que se lhe opunham até então, o Histórico e o Reformista, dirigidos respectivamente por D. António Alves Martins, Bispo de Viseu, e pelo Duque de Loulé, raramente ocuparam as cadeiras do poder. Compreendendo que só um entendimento das correntes mais avançadas poderia fazer frente à hegemonia regeneradora, elementos dos dois partidos iniciaram conversações que conduziram a um acordo. É certo que em ambas as formações houve descontentes e marginalizados, mas o objectivo foi alcançado.
Cortesia de portugalimagens
A7 de Setembro de 1876 na Praia da Granja, decorreu um encontro em que participaram os principais dirigentes dos dois grupos: D. António Alves Martins, Anselmo Braancamp, José Luciano de Castro, Mariano de Carvalho, José Ribeiro da Cunha, Luís de Campos, Francisco Pinto Beça, Francisco de Albuquerque e Adriano Machado. No final foi assinado um documento, que ficou conhecido como Pacto da Granja, marcando o nascimento do Partido Progressista.
Em Dezembro de 1876 realizava-se a assembleia constitutiva, com a aprovação do programa, onde, entre outras medidas, se defendia a descentralização administrativa, a reforma da Carta Constitucional e da administração financeira, a ampliação do sufrágio e o aperfeiçoamento do sistema fiscal. A vida da nova formação partidária não foi fácil. Não bastava um simples congregar de forças, um somatório de influências nacionais e locais para assegurar, automaticamente, o acesso ao poder e a entrada no rotativismo, mesmo que espaçado. Era preciso que o Partido Progressista se afirmasse. A 1 de Março de 1877, o governo regenerador presidido por Fontes Pereira de Melo foi obrigado a demitir-se, sucedendo-lhe um novo executivo chefiado pelo Marquês de Ávila e Bolama. As eleições municipais de 1877 serão o baptismo de fogo para novel formação partidária, e nelas vai intervir pela primeira vez Frederico Laranjo.
Cortesia de maludaumnomundoeu
As circunstâncias em que tal ocorreu foram por ele descritas:
- «No ano em que me doutorei, em 1877, havia eleições municipais; estava o país propenso a dar sinais de vida política, o que poucas vezes lhe acontece; em Castelo de Vide combatiam-se dois grupos rivais sem partido definido; uma parte da população respondia, quando lhe solicitavam o voto, que votaria comigo; não podendo conciliar todos em volta de um ideal administrativo e de política geral, o que pretendi, coadjuvei um dos grupos, sob a bandeira do partido progressista em que me filiara, e vencemos. Isto deu-me ali uma posição política importante, contribuiu para que a alcançasse em Portalegre, onde encontrei favorável acolhimento e amizades rápidas e entusiásticas».
A questão de Castelo de Vide incidiu sobre uma disputa envolvendo um velho amigo de Frederico Laranjo, o Dr. José António Serrano, e que o futuro deputado descreverá tempos depois:
- «Nós, o Dr. Serrano e o Dr. João Augusto de Carvalho tinhamo-nos formado em 1875; o bom povo de Castelo de Vide pedia-nos que nos uníssemos para bem da terra e para bem nosso; era simpático e utilíssimo o plano; entre nós e o Dr. Serrano era facílima a aliança; éramos dois irmãos; com o Dr. Carvalho era porém possível que a aliança se não pudesse manter (...); retirando-nos para Coimbra, para nos doutorarmos, ficaram na terra o Dr. Serrano e o Dr. Carvalho; a família que dominava a Misericórdia de Castelo de Vide começou a fazer pirraças ao Dr. Serrano; uma delas foi não o admitirem a prestar juramento de irmão da Misericórdia poucos dias depois de o terem admitido, sob pretexto de que ainda não tinha 25 anos; nós pretendemos fazer reparar esta injustiça; não o conseguimos, porque no governo civil nem sequer se dava andamento ao processo, e a questão resolveu-se nesta outra - se haviam de governar Castelo de Vide os monopolistas da Misericórdia, ou gente de mais alto espírito e melhor orientada».
In António Ventura, José Frederico Laranjo, Colecção Estudos de História Regional, Edições Colibri, Lisboa, 1996, ISBN 972-8288-48-4.
A amizade de AV.
(Continua)
Cortesia de Edições Colibri/JDACT