quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Bela Poesia. João de Deus. Campo de Flores. Sátiras e Epigramas. «O dinheiro é tão bonito, tão bonito, o maganão! Tem tanta graça o maldito, tem tanto chiste, o ladrão!»


Cortesia de wikipedia e leiloes

O Dinheiro
O dinheiro é tão bonito,
tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça o maldito,
tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.

E a cegueira da justiça
Corno ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
é só dizer-lhe: «Aí vai...»
Operação melindrosa,
que não é lá qualquer coisa;
catarata, toma conta!
Pois não faz mais do que isto,
diz-me um juiz que o tem visto:
Tlim!
Pronta.

Nessas espécies de exames
que a gente faz em rapaz,
são milagres aos enxames
o que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
de gramática latina,
quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
Tlim!
Ora...

Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«conhece este amigo antigo?»
- Oh, meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!
João de Deus, in «Campo de Flores»