segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Guimarães. D. Constança de Noronha: Parte II. «Em meados de Setembro de 1559, o coro da igreja foi mudado para a capela-mor. Nessa altura, a sepultura de D. Constança de Noronha encontrava-se entre a estante do coro e os degraus que davam acesso ao presbitério»

Fotografia de Fernando J. Teixeira
Cortesiadevotguimaraes

Com a devida vénia a Belmiro Jordão e Fernando José Teixeira.

«Conta Frei Francisco de Santa Maria que o seu Paço se transformou em hospital de miseráveis, onde a duquesa curava com as suas mãos os enfermos, ainda os mais ascorosos de doenças malignas, sem nojo da sordidez e sem temor do contágio. A pedido da Duquesa, D. Afonso V, em carta de 22 de Maio de 1456, mandou às suas justiças e autoridades que não constrangessem com encargos, reais ou do concelho, as seis ou sete mulheres pobres recolhidas no oratório de Santa Cruz junto ao muro de Guimarães, «a quem dava todo o que lhes compria». Não foi somente o convento franciscano de Guimarães a beneficiar com a sua munificência:
  • no inventário do tesouro da Colegiada feito no reinado de D. Afonso V, consta «hua lampada de prata dourada q. poos a duquesa de Bragança q. pessou três marcos».
O guardião do convento, Frei Pedro, e os religiosos do mosteiro, tocados pelos milagres operados pela intercessão da piedosa duquesa, pediram ao juiz ordinário, João Afonso, que fizesse inquirição por testemunhas juradas pelos Santos Evangelhos acerca das maravilhas que se contavam a tal respeito. Essa diligência fez-se em 23 de Junho de 1488.

Cortesia de ordemsaofrancisco 

Diz Craesbeeck que esse documento andou perdido durante longo tempo mas, com grande alegria dos devotos da insigne duquesa, foi reencontrado em 1621.
Demonstrou o seu amor por esta igreja ao escolhê-la para receber os seus restos mortais. Mas, antes de deixar este mundo, fez questão de doar todos os seus bens a seu sobrinho, D. Pedro de Meneses, 3º conde de Vila Real, depois marquês do mesmo título, que adoptou por filho e herdeiro.
Transcreve A. L. de Carvalho parte de um documento levantado em 1620 por parentes da falecida duquesa junto das autoridades judiciais, que nos diz: “Viveu nos Paços desta Vila, aonde a dita Duquesa morreu, e deles a levaram à sepultura, à capela-mor de S. Francisco. E no meio dela, sobre a terra em que foi sepultada, se pôs e esteve sempre um túmulo de pedra levantado do chão, com a figura da Duquesa, de relevo, vestida no hábito da Ordem como irmã terceira que, dizem, foi, e com um livro aberto nas mãos esculpido na dita pedra. A dita Duquesa foi sempre tida e havida por santa, e comummente a nomeavam assim nesta Vila, como em outros lugares do redor. E até a umas ervas que estavam e ainda hoje nascem ao redor dos Paços, lhe chamam ainda as ervas da Duquesa Santa.

Cortesia de ordemsaofrancisco

E assim as pessoas que de febres e outras enfermidades adoeciam, se iam à sepultura encomendar à dita Duquesa Santa, tomando-a por intercessora com Nosso Senhor. E levavam terra da sepultura, que traziam por relíquia ao pescoço, e depois de terem saúde a tornavam a levar à dita igreja, e em um pano a penduravam em um ferro que para esse efeito ali estava… Isto viram algumas pessoas velhas, que ainda se lembram, e há algumas modernas que o ouviram a seus antepassados, e é público e notório nesta Vila que assim se passou”. Diz João Lopes de Faria, nas suas Efemérides, que esta intervenção dos parentes da falecida recebeu em 8 de Agosto de 1620 um despacho nos termos seguintes: “Pergunte-se às testemunhas que o suplicante apresentar, e de seus ditos se passem os instrumentos que pedem em forma de fé”.

Em meados de Setembro de 1559, o coro da igreja foi mudado para a capela-mor. Nessa altura, a sepultura de D. Constança de Noronha encontrava-se entre a estante do coro e os degraus que davam acesso ao presbitério. O documento de 1620 atrás parcialmente transcrito revela que, pouco tempo antes, tinham levado as suas ossadas para debaixo de um pequeno tabernáculo, junto aos foles do órgão, “cobrindo o chão da capela com um solhado de tabuado, sem aparecer nada da sepultura, escurecendo a memória dela». In Fernando José Teixeira, Agenda Franciscana, Venerável Ordem Terceira de São Francisco, Guimarães, 2007.

Cortesia de VOT de S. Francisco/JDACT